Você conhece a aprendizagem experiencial?
A educação tem sofrido diversas modificações com o passar dos anos e, na atualidade, é cada vez mais comum vermos novas práticas e tecnologias ganharem espaço. Diversas metodologias estão surgindo, se implementando e se aperfeiçoando graças aos avanços nas pesquisas pedagógicas, nas inovações tecnológicas e também na visão da sociedade sobre o processo de ensino.
Com o passar do tempo, ficou cada vez mais nítido que ler e escutar são formas pouco eficientes de absorção de conhecimento para o ser humano. É, agora, o momento de ver e fazer, de entender a importância da atividade prática para uma educação mais qualificada.
Deste modo, chegamos à aprendizagem experiencial, uma metodologia que revoluciona a forma como a transmissão do conhecimento é entendida tradicionalmente. Neste artigo, veremos mais sobre seu conceito, eixos, benefícios e dicas para implementação.
O que é aprendizagem experiencial?
A aprendizagem experiencial é um método pedagógico que consiste em assimilar o conhecimento de forma empírica, ou seja, aprender com as experiências. Ela parte do pressuposto de que a simples exposição e a memorização da matéria não significa realmente aprender, mas sim decorar um conteúdo específico para a realização de provas.
Aqui, na aprendizagem experiencial, o aluno vê na prática o objeto de seu estudo. É superado o modelo de transmissão expositiva do conhecimento, com conceitos abstratos, para que a vivência entre em campo e traga uma aprendizagem mais significativa e completa para o estudante.
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Quais são os fundamentos da aprendizagem experiencial?
Como as demais metodologias ativas no ensino superior, a aprendizagem experiencial possui características centrais para sua aplicação. Traremos agora cinco fundamentos que tornam esse método educacional tão rico e completo:
1. Aprender na prática
É a característica mais básica da aprendizagem experiencial, a questão primordial desta metodologia: o estudante deve aprender na prática o conteúdo que é lecionado.
Aqui, com a compreensão de que ver e fazer têm um poder maior de retenção de conhecimento do que ler e escutar, o aluno será levado a exemplos práticos e terá o entendimento do que é ensinado.
2. Mudança no papel do professor
Na aprendizagem experiencial, o estudante tem um papel central na educação, pois é na vivência prática de suas experiências que ele realmente estará retendo o conhecimento. As quatro etapas do processo, que serão explicadas mais à frente, dependem do envolvimento do aluno.
Deste modo, o papel do professor na atualidade, aqui, é diferente daquele entendido no modelo tradicional de ensino. As aulas expositivas, em que o mestre fala e a turma deve aprender ao ouvir e ler, são substituídas por atividades práticas.
O professor deixa de ser o detentor do conhecimento e se torna um facilitador nas experiências dos alunos, os guiando para que possam chegar a resultados satisfatórios. A educação se dá de forma mais horizontal, e com o protagonismo em quem mais precisa dela: o estudante.
3. Capacidade de replicar o conhecimento
A aprendizagem experiencial não é uma metodologia prática apenas por trazer a vivência do conhecimento para o aluno; ela também o possibilita replicá-lo. Importa ressaltar que o estudante, a partir dos exemplos concretos, consiga aplicar o conhecimento ali visto em uma nova atividade, gerada por ele.
É fundamental lembrar que, apesar de ver ser uma ótima forma de reter conhecimento, fazer é ainda mais potente. Essa experimentação é a que melhor indica o quanto a turma conseguiu aprender com a metodologia, se a experiência, a observação e a racionalização foram realmente realizados com sucesso.
4. Compreender os processos, além de teorias e conceitos abstratos
O ensino tradicional, com suas aulas expositivas, transmite o conhecimento ao apresentar teorias e conceitos de forma abstrata. Além de trabalhar com poucos exemplos práticos, o modelo de ensino em que o aluno deve ouvir e memorizar, para depois reproduzir em uma prova, não explica como conceitos já estabelecidos foram criados.
Aqui, o aluno, além de conhecer teorias e conceitos sobre o conteúdo, desenvolve a habilidade de compreender como surgiram. Afinal, só com o conhecimento de todo o processo, e bastante reflexão do que é visto, é que o estudante pode realmente replicar o que aprendeu e criar ainda mais conhecimento.
5. Utilizar de diversas formas de aprender
Não é novidade que o ser humano aprende de diversas formas, e que para cada um há um método mais eficiente. Com a aprendizagem experiencial, os alunos constroem seu conhecimento no decorrer de quatro etapas, tendo acesso a formas complementares de compreender o que está sendo ensinado (vamos falar sobre cada uma no próximo tópico!).
Enquanto alguns aprendem melhor ao viver aquilo, outros se saem melhor ao refletir o que aconteceu, assim como um grupo pode preferir recriar a experiência para melhor compreendê-la. É esse processo, que se dá de forma tão completa acerca de um conteúdo, que assegura os bons resultados da aprendizagem experiencial.
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Quais são as etapas do ciclo da aprendizagem experiencial?
Como já visto anteriormente, uma aprendizagem experiencial de sucesso passa por quatro etapas que se completam. O conhecimento deve ser gerado através de uma experiência voltada para a aprendizagem, na qual a teoria deve ser superada para, ao final, o aluno colocar em prática o que foi visto.
1. Experiência concreta (agir)
Na primeira etapa do processo de aprendizagem experiencial, o aluno deve ser exposto a uma experiência significativa sobre aquilo que será visto. É interessante que essa vivência prática seja o mais próxima possível da realidade.
Neste momento, o aluno já estará realizando uma atividade prática, mesmo que ainda não a compreenda. É interessante trabalhar com:
- Simulações;
- Excursões e trabalhos de campo;
- Recursos de realidade virtual e aumentada e demais práticas enriquecedoras de ensino.
2. Observação reflexiva (refletir)
Neste segundo momento, o estudante deve refletir sobre o que viu durante a experiência realizada anteriormente. Seja de forma individual ou em grupo, deve ser observado o que foi aprendido, assim como sua importância.
Este é um espaço para que se desenvolvam perspectivas diferentes, trazendo diversas possibilidades e também hipóteses do que poderia ter sido feito de outras formas. Algumas atividades úteis nessa etapa são:
- Grupos de discussão;
- Redações sobre as atividades;
- Aplicação de questionários.
3. Conceituação abstrata (conceitualizar)
É chegado o momento de generalizar o que foi visto, de tirar conclusões e aplicar em outros casos. O conhecimento aprendido deve transpassar a experiência vivida pelo aluno para alcançar diferentes situações, para que seja verificada a aplicabilidade dos conceitos retidos.
Por meio de comparações, o estudante poderá averiguar se sua experiência poderá ser replicada, se o conceito aprendido é realmente válido. Aqui, é fundamental desenvolver atividades que incentivem uma análise lógica e o compartilhamento deste conhecimento.
4. Experimentação ativa (aplicar)
Por fim, o que foi visto na prática, quando o aluno ainda não compreendia sua teoria, poderá ser replicado. Agora o estudante poderá aplicar seus conhecimentos em novas experimentações, inclusive em situações reais.
Neste momento, as reflexões e conceitos criados nas fases anteriores poderão finalmente ser verificadas e qualificadas. O uso de laboratórios e recursos virtuais que possibilitam a criação de projetos agregam muito nesta etapa.
Também é válido utilizar as atividades sugeridas no primeiro passo, agora com maior liberdade para desenvolvimento.
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Quais são os benefícios da aprendizagem experiencial?
Agora que já sabemos mais sobre essa metodologia que acrescenta tanto no ensino, podemos analisar melhor as vantagens de sua utilização. Deste modo, elencamos aqui 7 benefícios da aplicação da aprendizagem experiencial:
1. Rapidez na aprendizagem
Apesar de possuir quatro etapas, o processo de aprendizagem experiencial é rápido. A tradicional transmissão do conhecimento — e principalmente sua memorização — requer mais tempo para ser realizada. Sendo assim, aprender por meio de experiências, além de mais eficaz, é mais rápido.
2. Maior engajamento
Assim como as demais metodologias ativas, as atividades que colocam o estudante no centro do ensino conseguem engajar os alunos. A motivação se torna maior ao participar de uma atividade de forma prática, na qual sua percepção é determinante para o resultado.
Além disso, o engajamento também é maior quando o aluno percebe o tamanho de sua importância na criação do conhecimento. Outro ponto positivo, dentro desta perspectiva, é que o aluno, ao final do ciclo, será induzido a criar com aquilo que aprendeu, deixando a aula ainda mais interessante.
3. Protagonismo estudantil
Como já dito anteriormente, a aprendizagem experiencial dá protagonismo ao estudante. Isso ocorre pois o processo de ensino sai do modelo tradicional, em que o professor é o grande detentor do conhecimento. É possibilitado, agora, que os estudantes possam ter um papel ativo durante as aulas, se tornando a parte principal da educação.
4. Possibilidade de personalização do ensino
Outra tendência da educação atual é a personalização do ensino, que vai ao encontro do fato de que pessoas diferentes aprendem melhor de formas diferentes. Aqui, o estudante passa por quatro etapas complementares que desenvolvem o saber, e podem aproveitar com mais intensidade aquela que mais os acrescente.
Além disso, as experiências educacionais podem ser diferentes dentro de uma mesma turma. Vale lembrar que até experiências iguais são percebidas de formas diversas, de acordo com a personalidade de cada um.
5. Maior facilidade de avaliar
Fica mais fácil avaliar os estudantes, tanto sua participação quanto retenção de conhecimento. Por se tratar de atividades práticas, o envolvimento dos alunos é facilmente perceptível, pois sem ele nenhum resultado será possível.
Além do mais, na última etapa, ao propor que o estudante aplique o que aprendeu em uma nova experiência, pode ser avaliado o quanto o conhecimento foi adquirido e desenvolvido.
6. Desenvolvimento de habilidades
Em geral, atividades práticas requerem mais dos estudantes, e aqui não é diferente! Como conta com quatro etapas bem distintas entre si, a aprendizagem experiencial proporciona o desenvolvimento de diversas habilidades, principalmente ligadas à observação, análise e racionalização dos acontecimentos, além da proposição de novas atividades práticas.
7. Ampliação do aprendizado
A diversidade de etapas faz com que se possa aprender de diversas formas. Essa metodologia ajuda os estudantes que gostam de ligar a teoria à prática, assim como aqueles que gostam de refletir mais sobre o que é visto.
Com tantas atividades sendo realizadas em um ciclo, as formas de aprender são ampliadas, trazendo mais sucesso para a educação.
7 dicas para uma aplicação de sucesso da aprendizagem experiencial
Agora que você já conhece a aprendizagem experiencial, suas etapas, características e benefícios, traremos 7 dicas para uma aplicação de sucesso:
1. Escolha experiências reais
Experiências que conversam com a realidade são mais atrativas e envolventes, possibilitando, desse modo, uma maior retenção de conhecimento. Além disso, é preciso lembrar que os estudantes também devem propor novas práticas, e este processo se torna mais fácil ao ser iniciado com situações mais cotidianas.
2. Encoraje a participação
É fundamental lembrar que como metodologia ativa, a base da aprendizagem experiencial é a participação dos alunos. Não há como falar em experiência e em protagonismo estudantil sem que haja participação.
3. Complemente com materiais didáticos
A aula fica ainda mais rica ao ser complementada com diversos materiais didáticos. Além de material impresso, os professores podem utilizar de inúmeros conteúdos digitais que aperfeiçoam tanto a experiência quanto a reflexão sobre ela.
4. Treine os professores
Apesar de aqui os professores terem um papel diferente, é indispensável que eles sejam treinados.
Por ser uma dinâmica nova para muitos, é importante se preparar para isso. Deste modo, os professores devem estar prontos para mediar as atividades, além de saber os limites de sua interferência.
5. Incentive a colaboração
Mesmo sendo uma atividade que traz diversos resultados individuais, é importante que os estudantes colaborem com a turma. As experiências compartilhadas servem de base para discussões mais completas sobre o conteúdo visto, formando assim um melhor entendimento do todo.
6. Proponha autoavaliação
Como o aluno está à frente de todo o processo educacional, é bastante válido que ele também possa avaliar o seu crescimento. Essa autoavaliação deixa ainda mais perceptível os avanços e o que precisa ser aperfeiçoado pelo estudante.
7. Realize atividades fora da IES
As atividades práticas também podem ser realizadas fora de sala! Sair do espaço da IES pode dar uma dimensão maior às experiências educativas, tornando-as mais reais.
Esperamos que você tenha gostado do nosso material sobre a aprendizagem experiencial. Agora, que tal aprender como desenvolver as metodologias ativas com uso de tecnologias digitais?