Termo ligado à ideia de liberdade, a autonomia do aluno é um dos pressupostos da educação voltada para seu, e da valorização de sua trajetória no ensino básico ou superior. Um estudante autônomo é capaz de criar o próprio caminho acadêmico, sentindo-se livre para escolher.
E o impacto disso vai além de sua perspectiva enquanto aluno, formando-o como profissional que atende demandas do mercado, com boa autoestima e capacidade de assumir responsabilidades.
Não é possível fornecer autonomia a alguém. Ela é um processo que carece de compromisso individual, além dos estímulos externos, e uma construção diária.
A visão do aluno como ser ativo traz para o campo educacional essa discussão tão rica, que contribui para a criação de uma educação libertadora, com foco principal nas relações que constroem o ensino e a aprendizagem.
No presente artigo, vamos apresentar um guia sobre o que é e como desenvolver a autonomia do aluno. A partir de nossas dicas e estratégias, você conseguirá alavancar os resultados acadêmicos de sua instituição de educação superior (IES) e formar alunos independentes e críticos.
Por que desenvolver a autonomia do aluno?
Se a educação, conduzida de maneira tradicional, também alcança objetivos relacionados ao desempenho dos alunos, porque trabalhar a autonomia? A resposta para essa pergunta possui muitas nuances, mas para compreendê-las precisamos nos questionar: a que custo estamos dispostos a ensinar?
O mundo, e consequentemente as relações, mudaram drasticamente ao longo dos anos, especialmente após a revolução industrial e a incorporação de tecnologias no dia a dia. Para o setor de ensino essas mudanças ficaram ainda mais visíveis.
Um exemplo disso é a pandemia de covid-19, que tensiona a integração das IES com modelos híbridos e ensino superior a distância, mesmo que inicialmente isso não fizesse parte do planejamento das instituições.
Além da necessidade de aprender e ensinar conceitos e questões técnicas, é preciso desenvolver habilidades que são extremamente necessárias no trabalho e na vida: as competências socioemocionais.
O aluno autônomo confia em sua capacidade de aprender e traçar os melhores caminhos para si mesmo. O papel de centralidade do aluno não apaga o brilho e função imprescindível dos professores, mas torna o estudante parceiro dos educadores no processo de construção do conhecimento — o que se observa, na verdade, é uma alteração do papel do professor na atualidade.
Quais são os benefícios da autonomia do aluno?
Dentre os benefícios da autonomia do aluno, podemos citar:
- A valorização de uma postura proativa;
- Maior capacidade e tranquilidade na resolução de problemas;
- Desenvolvimento de um pensamento mais crítico e contextual.
A autonomia também propicia que o estudante libere sua criatividade, desenvolva vontade de colaborar e sinta-se atraído pela busca e construção do conhecimento e do saber.
A autonomia do estudante também implica na autonomia do professor. Uma proposta de ensino autônomo pede que quem guia seja comprometido com esse processo, e consequente colha os benefícios desse modo de pensar a educação
Em outras palavras: quem ensina também aprende.
Como desenvolver a autonomia do aluno no ensino superior?
O processo de desenvolvimento da autonomia das crianças é muito atrelado a algumas atividades como amarrar os próprios sapatos, organizar o material escolar, se alimentar sozinha… Mas como podemos estimular a autonomia de alunos jovens e adultos, com contextos educacionais e familiares tão diferentes uns dos outros?
Assim como ocorre no processo das crianças, é preciso criar métodos e ambiente favoráveis ao comportamento e pensamento autônomo.
Elencamos três pontos essenciais para que o aluno do ensino superior consiga caminhar dentro de uma proposta pedagógica autônoma. Eles são de fácil aplicação, e podem ser incorporados às práticas da sua IES. Confira!
1. Atenção à sala de aula e atividades
O ambiente da sala de aula, seja virtual ou físico, precisa ser pensado para estimular a autonomia dos estudantes. O primeiro passo é direcionar a fala, as aulas e atividades de forma acolhedora.
Promover envolvimento e identificação é essencial para possibilitar o processo de ensino aprendizagem em uma perspectiva autônoma. Entre as alterações em um ambiente físico é possível citar a organização das carteiras, a forma de exposição do conteúdo, entre outras.
Uma estratégia que permeia os ambientes físico e virtual é investir na estruturação dos momentos da aula. É um excelente caminho criar espaços para debates, exposição de dúvidas, trocas de experiências, e outras formas de aprendizagem fora da padronização de uma aula expositiva.
Além disso, é preciso estimular a leitura, até mesmo com a aplicação da sala de aula invertida, para que o trabalho realizado na IES possa ser multiplicado a partir da pesquisa, estudo e curiosidade do estudante.
2. Atenção à individualidade do aluno
A autonomia passa pela percepção e valorização da individualidade do aluno. É preciso buscar a melhor forma de engajar as turmas, sem deixar de considerar a gama de indivíduos com vivências diferentes.
O estímulo à pesquisa como forma de sanar a curiosidade é uma das maneiras de estimular a autonomia. Uma dica interessante é pedir ao aluno que relacione o conteúdo das aulas a algo de seu interesse, como uma série, filme, banda, atividade, hobby, etc. Inclusive, este é um dos pressupostos da aprendizagem significativa.
Não basta apenas designar essas tarefas, mas valorizar cada trabalho desenvolvido e criar momentos para o compartilhamento de experiências, como forma de potencializar a união dessas perspectivas individuais.
Outra forma de reconhecer as experiências de cada um é pedir que busquem notícias ou acontecimentos que se relacionem com o assunto, e que apresentem uma opinião pessoal sobre o tema.
Essas são apenas algumas sugestões, mas se você quiser estimular ainda mais o comportamento autônomo é possível pedir aos alunos que participem de decisões que impactem no seu dia a dia, como horários, divisão dos pontos por atividades, proposição de tarefas, etc.
A promoção da individualidade — e, por consequência, a autonomia do aluno — também se beneficia muito da personalização do ensino.
3. Atenção à autorreflexão
A autonomia está diretamente relacionada com a autoestima, capacidade de assumir responsabilidades e de agir diante de problemas e desafios. Para alcançar a autonomia é preciso passar por um processo de autoconhecimento.
Nas instituições de educação superior é preciso criar situações para que os estudantes possam refletir sobre o próprio comportamento e seus posicionamentos diante da formação, e da vida, de forma geral.
A cultura de fornecer feedbacks auxilia muito nesse caminho. É uma forma de demonstrar o cuidado da instituição com seus alunos, enquanto estimula a trajetória de melhoria crescente dos estudantes.
Muitas pessoas têm dificuldade de encarar os pontos de melhoria, porque não estão familiarizados a receber feedbacks que indicam um caminho de evolução.
Para além das críticas que nada constroem, é preciso criar espaços seguros para que os estudantes ouçam e compartilhem opiniões. Eventuais feedbacks não podem ser considerados falhas do aluno, mas sim pontos de refinamento em seu processo de formação.
Além disso, é possível criar momentos de autoavaliação do aluno. O processo guiado pode ser uma estratégia interessante para conduzi-los, já que alguns deles podem ter dificuldade de refletir sobre sua performance de forma espontânea.
Como as metodologias ativas desenvolvem a autonomia do aluno?
As metodologias ativas são voltadas para o fortalecimento do protagonismo do estudante, revertendo a ideia equivocada de que esses sujeitos são passivos e apenas recebem o conhecimento pronto que vem dos professores.
É comum também que se trabalhe as metodologias ativas por meio de tecnologias digitais, para promover facilidade de acesso à informação e participação com postura ativa. A ideia das metodologias ativas é despertar a curiosidade e envolver o estudante com o processo de construção do conhecimento.
Essas metodologias auxiliam no desenvolvimento das soft skills, que são aquelas habilidades relacionais, ligadas às interações com o outro. Isso também tem impacto direto na capacidade de refletir sobre as próprias ações e emoções.
A resolução de problemas, modos mais saudáveis de trabalhar em grupo, capacidade de desenvolver projetos autênticos e pensar fora da caixa são habilidades adquiridas a partir do processo de busca pela autonomia, com ajuda de métodos como gamificação, aprendizagem entre pares, cultura maker, entre outros.
Como funciona a autonomia do aluno na EaD?
No caso daqueles que estão cumprindo a formação na modalidade educação a distância (EaD), a autonomia do aluno é um pressuposto? De forma nenhuma!
A formação autônoma, tanto nas modalidades presenciais quanto na EaD, é parte de atividades, incentivo e comportamento alinhado com o objetivo de promover essa emancipação dos estudantes.
Obviamente, algumas particularidades da EaD facilitam a formação autônoma. Mas caso a instituição não se empenhe em promover um ensino alinhado a essa premissa, é possível que os estudantes se sintam apenas desamparados.
O fortalecimento da autonomia não surge do abandono. Muito pelo contrário: o papel dos educadores tem que ser muito bem feito para que o aluno assuma essa postura. Saber a hora e o modo de intervir é parte desse trabalho.
O interessante é que, no caso da EaD, existem várias ferramentas que podem ser empregadas para auxiliar nesse processo. Seja na escolha da proporção de atividades individuais ou coletivas, na quantidade de ferramentas síncronas e assíncronas, e nas soluções digitais.
O aprendizado para a organização da rotina do aluno (através, por exemplo, de técnicas de gestão do tempo) pode fazer parte da grade curricular. Isso faz com que ele consiga entender suas necessidades e disponibilidade no dia a dia, o que beneficia o processo de criação de autonomia do aluno.
O ponto essencial da autonomia é a reflexividade, e isso pode ser alcançado tanto na educação a distância quanto nas modalidades presencial e semipresencial. A IES propicia momentos para tal, mas é a postura individual dos alunos que garante a construção de uma postura autônoma.
É preciso estar disposto a incorporar as mudanças necessárias na rotina para que a gestão do tempo seja eficaz, e isso envolve o interesse pessoal e uma boa dose de disciplina, que pode ser estimulada na educação superior.
Como ocorre o desenvolvimento de competências socioemocionais?
O ensino superior tem compromisso com a formação técnica do estudante, mas não apenas isso. É preciso desenvolver habilidades que vão além daquelas práticas e cognitivas. O objetivo das competências socioemocionais é auxiliar os futuros profissionais a saber o melhor modo de resolver problemas que vão surgir em sua trajetória.
Isso é decisivo para que os estudantes se tornem pessoas empáticas, críticas, colaborativas, com inteligência emocional para a resolução de conflitos, capazes de assumir responsabilidades e agir de maneira autônoma.
Se engana quem acredita que a autonomia não beneficia o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Só conseguimos nos relacionar bem com os outros quando detemos conhecimento sobre nós mesmos, e compreendemos o modo como agimos e reagimos aos estímulos externos.
A autonomia não isola o sujeito — muito pelo contrário! O sucesso das relações de sujeitos autônomos pode ser até maior, já que os envolvidos possuem maior compreensão sobre seu papel e o papel do outro, o que leva ao desenvolvimento das soft skills necessárias para manter bons relacionamentos, sejam pessoais, profissionais ou acadêmicos.
É importante lembrar que o desenvolvimento das habilidades socioemocionais está diretamente conectado às vivências dos estudantes, suas experiências pessoais, e como isso se manifesta nos ambientes em que atua — é a ideia da aprendizagem experiencial.
A aplicação de uma educação significativa é um passo fundamental para que cada um possa, a seu modo, desenvolver as habilidades necessárias para criar boas relações com o conhecimento e com as pessoas.
Conclusão
A autonomia é uma prática reforçada pelas atividades e rotinas estabelecidas pelo sujeito, seja no papel de estudante, de profissional, ou até mesmo nas suas vivências pessoais. O comportamento autônomo pode ser conquistado com a ajuda da IES.
Tanto as mudanças no ambiente físico, quanto nos métodos empregados em sala de aula, podem ser essenciais para virar a chave da importância de estabelecer mais autonomia, e até mesmo promover a autorregulação da aprendizagem.
O compromisso individual é essencial nesse contexto, e ter um meio acolhedor, que dispõe de ferramentas para estimular esse comportamento, pode ser o diferencial que seu aluno precisa para alavancar suas habilidades.
Ser o protagonista no processo de melhoria promove maior autoestima do aluno, e reforça sua capacidade de superar desafios, adquirir novas competências, e aperfeiçoar aquelas que já faziam parte do seu dia a dia.
Que tal dar um passo adiante na promoção de maior autonomia do aluno e conferir nosso outro conteúdo sobre ferramentas de metodologias ativas?