O ensino superior a distância apresenta-se como uma modalidade de ensino cada vez mais comum.
De acordo com o censo realizado em 2018 pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), o número de alunos contabilizados em todas as modalidades de Educação a Distância (EaD) passou de 7.773.828 para 9.374.647 e apresenta crescimento exponencial..
Essa modalidade de ensino carrega consigo alguns desafios devido à distância entre aluno e professor, o que pode dificultar aspectos como a avaliação da metodologia proposta e do aprendizado do educando. Mas, em contrapartida, também oferece uma série de métodos alternativos através de plataformas digitais — o que pode aumentar o interesse dos alunos nos estudos.
As possibilidades dispostas são inúmeras! Além da possibilidade de aproximar os professores dos alunos através da tecnologia, o ensino a distância pode fazer com que as aulas se tornem mais objetivas e de mais fácil acesso, principalmente aos alunos que possuem dificuldades, financeiras e práticas, de dar seguimento ao curso pelo ensino presencial.
Foi pensando nisso que preparamos esse material com tudo o que você precisa saber sobre a avaliação no ensino a distância, suas possibilidades e desafios, e sobre como promover o melhor método para o corpo discente e docente.
Como fazer a avaliação no ensino a distância: possibilidades e desafios
O modelo tradicional de avaliação, pautado em medir erros e acertos, precisa ser questionado. Atualmente já é possível aplicar avaliações que apurem o envolvimento do aluno com a disciplina e a efetividade da metodologia de ensino de maneira menos simplista e genérica.
Algumas maneiras mais justas e efetivas de medir o real aprendizado de cada aluno são:
- Avaliar a participação do aluno em sala de aula;
- Distribuir a nota em várias atividades durante o semestre (ao invés de fazer, por exemplo, apenas duas provas com período pré-determinado de respostas)
- Substituir provas pelo desenvolvimento de projetos relacionados com o tipo de conhecimento a ser desenvolvido em cada disciplina.
Para auxiliar nessa nova proposta, os recursos tecnológicos mostram-se úteis para mensurar o aprendizado e conectar o discente com a disciplina ministrada. O uso de ferramentas, como plataformas de vídeos, de áudio (para realização de podcasts, por exemplo) e de mensagens torna o acesso ao ensino mais prático e atrativo.
Dessa forma, a avaliação no Ensino à Distância deve priorizar o uso da tecnologia como principal aliada considerando alguns pontos importantes, como os levantados a seguir:
Examine a disponibilidade e escolha as ferramentas mais relevantes
A instituição de ensino, ao optar pelas ferramentas a serem usadas, deve levar em consideração o acesso dos alunos a uma conexão de internet razoável, pelo menos, e a equipamentos adequados, como um celular e computador para uso pessoal. Assim, é possível garantir minimamente a inclusão aos programas de educação a distância que você oferece.
Aplicativos que possibilitem a leitura de textos e empréstimos de materiais podem ajudar a garantir acessibilidade ao curso. Mas, para além disso, é importante que a plataforma de ensino utilizada também ofereça ferramentas internas para o aprendizado. Eles podem ser:
- Uma biblioteca digital, que facilita o acesso ao material didático;
- Uma estrutura técnica boa para que a página não fique travando;
- Um atendimento de qualidade aos alunos;
- Proteção à privacidade e à segurança dos dados;
- Certificação automática (para a presença nas aulas, por exemplo);
- Fóruns para tirar dúvidas;
- Design personalizável;
- Estrutura para vídeos.
É preciso se atentar principalmente à proteção de dados nas plataformas escolhidas para as avaliações e à privacidade de cada aluno. Dessa forma, a propriedade intelectual dos alunos e professores da instituição fica protegida. Nesse sentido, certificados de segurança e um site criptografado são essenciais.
Planeje o cronograma de estudos e de avaliações do ensino à distância
O docente deve apresentar com antecedência o programa previsto para o semestre. Para isso, é importante se planejar, definindo previamente quais serão as avaliações escolhidas. Assim como, na medida do possível, suas aulas e conteúdo previsto de cada uma.
Vale lembrar de deixar a ementa de cada disciplina disponível para que os alunos possam consultá-la sempre que for necessário.
Muitos métodos avaliativos não funcionam por serem apresentados apenas uma única vez, ao final de um semestre. Quando vários tipos de provas são realizadas o professor consegue não só avaliar os alunos, mas fazer uma média mais apurada entre toda a turma para saber quais são os pontos de maior dificuldade, o que acaba sendo muito útil a longo prazo.
Leia também: Tudo o que você precisa saber sobre a carga horária de curso EaD no ensino superior
Conheça os 3 principais métodos para avaliação no ensino a distância
Considerando os tópicos apresentados, sugerimos a seguir os 3 principais métodos de avaliação ideais para o ensino à distância.
1. Avaliação objetiva ou dissertativa
Nesses método já bastante conhecidos, é possível avaliar o conhecimento adquirido através de uma prova objetiva (teste) ou dissertativa.
Ambas possuem vantagens e desvantagens e devem ser aplicadas segundo os objetivos que se pretende alcançar.
A prova objetiva tem vantagens como abranger um conteúdo extenso, ser de mais fácil correção, contar com respostas concisas e ter a possibilidade de uma correção neutra.
Já na prova dissertativa, o docente avalia a capacidade de escrita e de assimilação do conteúdo pelo aluno. Devem ser considerados os objetivos propostos, a coerência entre os tópicos sugeridos e metodologia de pesquisa.
Vale a pena considerá-las junto com outros métodos avaliativos para programar uma estratégia funcional e que esteja de acordo com os objetivos que se pretende atingir.
A avaliação escrita ainda pode ser realizada assim como é na sala de aula, com o professor presente no momento em que os alunos realizam a avaliação ou apenas avaliando o resultado final, como seria feito mediante a entrega de qualquer tipo de trabalho.
2. Produção de Conteúdo — Vídeos, podcasts, e apresentações com recursos visuais
O segundo método sugerido avalia a capacidade de transformar o conhecimento adquirido pelo aluno em trabalhos criativos, que promovam o envolvimento do discente com a disciplina e com as ferramentas tecnológicas indicadas.
A utilização das redes sociais, por exemplo, pode ser uma ótima maneira de mensurar a participação de cada aluno já que todo o conteúdo (posts, stories, vídeos, etc.) ficam gravados na plataforma. Também é possível avaliar as habilidades de cada aluno ainda com a ajuda das métricas.
Porém, é importante que isso seja considerado com outros critérios, já que um conteúdo pode ter muito ou pouco engajamento dependendo de uma série de fatores e nem todos são conhecidos pelos usuários. Outros fatores podem ser:
- Estratégia de comunicação;
- Clareza na linguagem escrita ou falada;
- Criatividade (especialmente quando houverem elementos visuais);
- Fluidez de raciocínio;
- Domínio do conhecimento aprendido.
A avaliação deve considerar o empenho do aluno para a execução da atividade e a capacidade de transmitir o conteúdo.
3. Fóruns de debate em ambiente online
Por fim, é necessário ressaltar a importância de fóruns de discussões no ambiente online, pois, além de aferir a assimilação da temática proposta com a disciplina, eles servem para reforçar o senso de comunidade entre o corpo discente, humanizando a relação aluno-professor e promovendo a interação entre os estes.
Num momento de isolamento social especialmente, todas as plataformas são importantes. Fazer uso apenas de redes sociais e tecnologias semelhantes tem suas limitações, já que a comunicação em grupo dificilmente ocorre. Num perfil de Instagram ou num canal no Youtube, por exemplo, a interação fica restrita aos comentários ou a caixinhas de perguntas nos stories.
Já num fórum de discussão – que pode ser alocado no próprio site da IES – a conversa acontece de maneira mais democrática, em que todos tem direito de falar e, com a mesma medida, precisam ouvir o que os colegas tem a dizer.
É importante que o professor possa ser o administrador do fórum, no entanto, não só para pontuar questões importantes como para mediar a discussão entre os alunos. Inclusive porque pode ser necessário aplicar sanções caso os alunos não respeitem as regras estabelecidas para a comunicação.
Como a avaliação dos métodos sugeridos deve ser feita?
A avaliação das atividades propostas deve se dar de forma a ultrapassar a ideia de atribuir notas. Ela precisa ser justificada, com detalhamento de cada ponto de erro do aluno, ajudando-o a humanizar o relacionamento com o professor e com a Instituição de Ensino e, consequentemente, a se envolver mais diretamente com a disciplina.
O feedback trazido pelo docente deve detalhar os pontos positivos e negativos. Os “acertos” precisam ser enfatizados, para que o aluno se sinta encorajado a se aperfeiçoar. Já os “erros”, precisam se apresentar de forma detalhada e abrandada, com sugestões de como aprimorar a produção.
O docente deve, ainda, considerar:
- o envolvimento do aluno com a tarefa dada;
- as habilidades individuais de cada aluno acerca do uso de ferramentas tecnológicas;
- se o método escolhido é inclusivo para todos;
- o perfil da turma a que se pretende avaliar.
Leia também: Saiba quais são os cursos a distância reconhecidos pelo MEC
Modelos de avaliação no ensino a distância: síncronas e assíncronas
Diferente da modalidade presencial, o ensino a distância dá aos professores a possibilidade de utilizar ferramentas síncronas e assíncronas para realizar as avaliações.
Tipos de avaliações síncronas no ensino superior
As avaliações síncronas são bastante parecidas com as realizadas em sala de aula. Elas podem ser avaliações por escrito e apresentações orais sobre uma matéria específica, ou mesmo a apresentação de um projeto.
Além destas, também é possível propor uma atividade em que os alunos ou grupos de alunos realizem a discussão de algum tópico, como já explicitado acima. Lembre-se de se certificar de que todos estão com uma boa conexão à internet, já que falhas técnicas podem provocar atraso nas falas de cada um e interrupção no fluxo do debate.
Por esse mesmo motivo, é interessante recomendar que os alunos deem alguns segundos de pausa entre uma fala e outra, assim a escuta e, consequentemente, o entendimento não ficam prejudicados.
Para este tipo de avaliação é interessante utilizar ferramentas de chat como:
- Zoom;
- Google Meet;
- Hangouts;
- Lives no Instagram (para grupos de até 3 alunos).
Tipos de avaliações assíncronas no ensino superior
Já no caso das avaliações assíncronas existem infinitas possibilidades: trabalhos escritos, em áudio ou vídeo podem ser realizados.
Uma avaliação convencional pode ser entregue em documentos de Word ou Google Docs, ferramentas simples e com que os alunos provavelmente já estão bastante familiarizados. Ambos permitem edições, grifos e inserção de comentários.
É importante lembrar que o uso de tecnologias por parte dos estudantes também ajuda a despertar seu interesse na matéria e, assim, consegue-se um melhor engajamento e aprendizado. Por isso sugerimos acima a produção de conteúdo como método de avaliação.
Quais são os principais instrumentos para avaliação na EaD?
Podem ser utilizadas plataformas virtuais, como:
- YouTube para a hospedagem dos vídeos produzidos pelos alunos;
- para os podcasts, há inúmeros aplicativos que possibilitam a criação de arquivos de áudios e o acesso destes no ambiente virtual, alguns exemplos são as plataformas Anchor e Adobe Audition;
- quanto às reuniões online para apresentações dos fóruns de debate, podem ser utilizadas ferramentas como Microsoft Teams e Google Meets, sendo que o primeiro já possui configurações específicas para a Educação a Distância, com meios para criação de turmas, possibilidade de mensagens diretas com o docente e entre os discentes, pasta para arquivos compartilhados, entre outros.
- Nessa perspectiva, é importante que o docente especifique os objetivos e critérios de avaliação aos alunos. É necessário que todas as informações estejam em locais visíveis e de fácil acesso.
Os discentes precisam saber como e por quais critérios serão avaliados. Quanto mais detalhadas forem as informações sobre a avaliação, maiores serão as chances de se obter sucesso durante o processo.
Do mesmo modo, ao final do processo, é imprescindível fomentar métodos para avaliação das disciplinas ministradas e dos professores, considerando-se que o feedback do aluno é de grande importância para promover melhorias e adequações nos métodos utilizados.
Para tanto, as Instituições de Ensino devem disponibilizar dispositivos como questionários ou formulários munidos de perguntas acerca da apreciação do modelo pedagógico apresentados com intuito de aproximar, ainda mais, as necessidades individuais dos discentes e o aprendizado a distância.
Como assegurar a inclusão de alunos com deficiência no ensino à distância?
A inclusão de alunos com deficiência em todos os níveis do ensino é uma obrigação legal, prevista no artigo 27 do Estatuto da Pessoa com Deficiência desde 2016. Ou seja, é dever dos gestores e diretores de IES oferecer todo o apoio aos alunos com deficiência;
Para começar a falar sobre como é possível fazê-lo, precisamos lembrar que existem vários tipos de deficiência e não um só. Por isso, é preciso ter organização, planejamento e também flexibilidade quando abordamos este assunto.
Em todos os casos, é interessante que a nota final dos alunos compreenda também a participação em sala de aula. Trabalhos extras para compor a nota também podem ser outro tipo de ferramenta eficaz. A participação de avaliações em grupo incluindo os alunos com deficiência também é muito importante, já que os ajuda a ter um senso de pertencimento na turma.
Deficiência e/ou sensibilidade auditiva
Para auxiliar alunos surdos ou pessoas com sensibilidade auditiva, é fundamental que todas as aulas tenham legendas ou a presença de um tradutor de Libras.
Para aulas e avaliações síncronas, o Google Meet pode ser utilizado, já que ele é um dos únicos aplicativos de videoconferência que contam com o recurso de legenda automática. Para aulas e avaliações assíncronas, o Youtube pode ser um apoio importante, já que ele também tem o recurso de legendas automáticas.
No caso de alunos surdos, é importante que todas as avaliações sejam escritas. Além disso, é importante que o aluno possa contar com um chat para comunicação, caso ele também tenha deficiência na fala e precise tirar alguma dúvida com o professor.
Deficiência visual
Alunos cegos, por sua vez, podem se beneficiar de conteúdo em áudio. Isso é válido tanto para as aulas como para outras formas de comunicação online — sejam videoconferências ou mensagens enviadas através de aplicativos de mensagens.
Além disso, pode-se aplicar também avaliações em braile se houverem tecnologias adequadas para tanto.
Deficiência na fala
Alunos mudos ou com qualquer dificuldade na fala podem participar de avaliações escritas, criação de portfólio e produção de conteúdo — tanto em texto, quanto imagem e vídeo (desde que legendado).
Apresentações orais podem ser realizadas. Neste caso, é importante que ele envie o material por escrito para que outro aluno ou o professor faça a leitura. Desta forma, seminários em grupo também podem acontecer e, mais uma vez, o aluno se sente incluído na turma — o que é muito importante para sua autoestima e também para seu interesse na vida acadêmica.
Autismo e deficiências intelectuais
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um termo guarda-chuva para designar pessoas neuroatípicas. Ou seja, pessoas que têm diferentes alterações no desenvolvimento neurológico. Assim, sua forma de pensar, interagir e se comportar de maneira geral é diferente.
Os alunos de IES que possuem autismo, no entanto, são majoritariamente os de nível de suporte 1 e 2. Ou seja, muito provavelmente são pessoas sem dificuldade fonológica, mas que podem possuir diferentes maneiras de se relacionar e — o que é mais importante para as avaliações — de perceber e entender nuances na comunicação. De maneira geral eles têm dificuldade de entender ironias, metáforas e tudo o que não é extremamente literal.
Por isso, em boa parte das vezes eles se dão melhor com avaliações em texto, que tem perguntas direcionadas para a matéria do semestre ou do bimestre, do que, por exemplo, questões de múltipla escolha.
É possível que eles tenham dificuldades de socialização também, especialmente no ensino a distância. Neste caso, é interessante poupá-los das atividades em grupo e pedir que eles façam trabalhos ou avaliações intelectuais. Quando em dúvida, não há nada melhor do que perguntar o que o aluno prefere.
Já alunos com deficiência intelectual, sejam autistas ou não, devem ser considerados caso a caso. É preciso saber quais são as exatas dificuldades para que se possa criar uma estratégia de aprendizagem, que caminhe o mais próximo possível das habilidades que ele tem condições de desenvolver.
Deficiência Física
Neste caso também há uma série de condições a serem consideradas. Um deficiente físico com paralisia nas pernas tem necessidades diversas de outra pessoa, que tenha deficiência nas mãos, por exemplo.
Então é necessário que o professor à frente da disciplina converse diretamente com o aluno para saber o que exatamente ele precisa. Aliás, isso vale para todos os casos.
Por fim, vale lembrar que o ensino a distância pode ser uma modalidade mais adequada a certos tipos de deficiência, como dificuldades com locomoção ou dores crônicas. Por isso a adaptação para o ambiente digital, mesmo que trabalhosa, pode gerar melhorias na aprendizagem e na qualidade de vida do aluno com deficiência.
Esperamos ter ajudado a entender melhor sobre a avaliação no ensino a distância, possibilidades e seus desafios. Já que está se aprofundando nesse assunto, aproveite para conferir, também, o nosso artigo sobre avaliação diagnóstica!