Realizar um diagnóstico de aprendizagem em uma nova turma é fundamental no início de um novo ano letivo ou semestre. Através dele, os docentes podem validar ou fazer correções de rota em seu planejamento educacional, e torná-lo mais efetivo em atender às necessidades dos alunos.
No retorno presencial, esta se torna também uma forma de verificar o quanto o ensino remoto atendeu ao processo de aprendizagem, identificando os seus possíveis gargalos.
A partir daí, os professores podem criar planos de ação para contornar defasagens e garantir que o processo de ensino-aprendizagem seja concretizado com sucesso ao longo do ano ou semestre.
Neste artigo, você irá entender o que é diagnóstico de aprendizagem, quando é necessário, como fazer e como a sua instituição de educação superior (IES) pode atuar a partir dele.
Tenha uma boa leitura!
O que é diagnóstico de aprendizagem?
O diagnóstico de aprendizagem é um processo avaliativo utilizado para compreender os conhecimentos e habilidades prévios dos estudantes, antes do início de um processo de aprendizagem. As informações que fornece podem apoiar o planejamento das aulas e a escolha dos métodos pedagógicos mais adequados para uma turma ou aluno específicos, a fim de resolver os pontos de dificuldade.
Ou seja, os resultados de uma avaliação diagnóstica ajudam as IES a adequarem o seu programa de ensino às necessidades de conhecimentos reais dos estudantes.
É possível, desta forma, que se chegue a ações para auxiliar o corpo discente a alcançar novos patamares em termos de conhecimento, mapeando as dificuldades centrais — assim como os pontos fortes — de cada aluno e compreendendo o nível em que se enquadram.
Ao se identificar os motivos que geram determinadas dificuldades de aprendizado, também fica mais fácil entender qual metodologia ou qual dos estilos de aprendizagem atende melhor às demandas de cada turma ou estudante.
O diagnóstico, portanto, é uma forma de os professores aperfeiçoarem o seu planejamento e desconstruírem as lacunas de aprendizagem apresentadas pelos alunos, para que não prejudiquem a assimilação do conhecimento.
Trata-se de uma maneira de identificar quais as intervenções pedagógicas mais propícias para cada necessidade encontrada.
Leia também: Saiba como montar uma trilha de aprendizagem no ensino superior
Quando deve ser feito o diagnóstico de aprendizagem?
O diagnóstico de aprendizagem é normalmente realizado no início de um processo de aprendizagem — quando se inicia um ano letivo, por exemplo. No entanto, é possível executá-lo também no meio do trajeto, a fim de recuperar o desempenho dos estudantes que apresentam maiores dificuldades até então.
Como você viu até aqui, este recurso auxilia na estruturação de estratégias pedagógicas para contornar desafios relacionados à assimilação dos conteúdos. Desse modo, é possível que todos os estudantes da turma alcancem o mesmo ritmo.
Depois do diagnóstico, o planejamento realizado pelos professores deve estar flexível a revisões e ajustes, que contemplem as informações levantadas a partir da avaliação.
Quais são os principais objetivos do diagnóstico de aprendizagem?
- Identificar as necessidades de desenvolvimento de cada aluno e/ou turma;
- Avaliar os fatores que motivam dificuldades de aprendizagem;
- Nortear o trabalho dos docentes;
- Avaliar a necessidade de um trabalho mais personalizado, para remediar eventuais lacunas de aprendizado;
- Analisar o quanto a turma domina conteúdos específicos, enquanto grupo, para que os educadores elaborem estratégias que beneficiem o maior número possível de estudantes;
- Prevenir a defasagem no processo de aprendizagem;
- Avaliar o ensino da IES de modo geral.
Por que realizar um diagnóstico de aprendizagem?
Se as razões para a realização de um diagnóstico de aprendizagem ainda não ficaram nítidas, vamos destacar mais alguns pontos para justificar sua aplicação.
As práticas de ensino em geral, e especialmente aquelas que se visam a trabalhar a aprendizagem ativa dos estudantes, precisam levar em consideração alguns pontos de partida básicos:
- As experiências e conhecimentos prévios dos alunos;
- O conteúdo que será ensinado e a sua natureza;
- A variação de estratégias possíveis e o levantamento de diversas hipóteses didáticas.
Isso significa que a identificação prévia do que os alunos já sabem é um fator imprescindível para que se escolham as estratégias didáticas corretas.
Mas não basta simplesmente perguntar aos estudantes o que eles já sabem. Esta não é uma forma de se avaliar, efetivamente, os conhecimentos dos alunos e pode ser prejudicial para o seu aprendizado, dependendo do conteúdo que está em prova.
Para verificar o que os seus alunos realmente sabem sobre um determinado tema, é preciso examinar com profundidade os conhecimentos que possuem.
Vamos a uma analogia esportiva! Se queremos compreender se uma pessoa sabe ou não jogar futebol, por exemplo, é muito mais importante observar o seu desempenho em campo do que questionarmos o quanto ela domina o esporte.
Isso quer dizer que, para sabermos se um aluno realmente domina um conteúdo, a prática supervisionada faz-se necessária.
Leia também: Saiba o que é e a importância do plano de nivelamento de aprendizagem
Diagnóstico de aprendizagem na educação a distância
Trabalhar e estudar em casa se tornou uma realidade durante a pandemia do Covid-19, como ficou comprovado pelo crescimento do ensino superior a distância.
O estudo “Coronavírus e Educação Superior: o que pensam os alunos”, realizado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insight e divulgado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), trouxe dados que refletem este cenário.
Realizado em novembro de 2020, o levantamento — em sua quinta fase — reuniu 1.102 pessoas, entre homens e mulheres com idades de 17 a 50 anos. Eram provenientes de todas as regiões do Brasil, com interesse em ingressar em cursos presenciais e de educação a distância (EaD) ao longo de 18 meses.
Dos 38% dos entrevistados que demonstraram interesse em iniciar cursos de graduação no primeiro semestre de 2021, 46% davam preferência ao ensino a distância, contra 33% que preferiam o ensino presencial.
O fato é que o uso de plataformas digitais de aprendizagem na educação cresceu expressivamente nos últimos anos.
Estes espaços de ensino exigem a estruturação de novos métodos educativos, principalmente em relação à avaliação da aprendizagem.
Isso porque algumas dessas plataformas conseguem gerar dados, que podem e devem ser usados pelos professores para chegar a um modelo adequado de avaliação. A partir deles, é possível mensurar melhor o desempenho dos alunos.
Estes dados compreendem desde o acesso a recursos e materiais didáticos até a participação em atividades, discussões em grupo, questionários etc.
É especialmente importante garantir eficiência na identificação de problemas de aprendizagem dos alunos em cursos a distância.
Isso porque questões como a grande quantidade de estudantes envolvidos na aula podem tornar mais complicado um acompanhamento e feedback personalizados, que contemplem as dificuldades de cada estudante.
Portanto, avaliar os dados gerados pelas plataformas de aprendizagem pode contribuir com informações relevantes sobre os alunos, indo desde o possível risco de evasão à identificação de dificuldades específicas.
Há, inclusive, um termo específico para se referir à análise de aprendizagem por meio da tecnologia: Learning Analytics.
Vamos saber mais sobre ele?
O que é e como funciona Learning Analytics?
Trata-se de uma forma de coletar e avaliar os dados de estudos, e mapear as dificuldades dos estudantes. A ferramenta foi criada, inicialmente, para lidar exclusivamente com alunos de cursos EaD.
Contudo, hoje já é utilizada também por instituições de educação superior com cursos presenciais, dada a facilidade atual de acesso a ferramentas tecnológicas.
Assim como o diagnóstico de aprendizagem, o Learning Analytics ajuda os professores a pensarem em estratégias de acordo com as dificuldades identificadas. Isso acontece por meio do uso de dados de aprendizagem para a realização de análises sobre o desempenho educacional dos estudantes.
Tais análises são viáveis a partir do Big Data, que consiste em um amplo conjunto de informações coletadas digitalmente e que demandam um sistema eletrônico capaz de interpretá-las.
Ou seja, diversos dados são interpretados para que se encontre finalmente informações relevantes sobre as especificidades de aprendizagem dos alunos.
Os dados analisados são adquiridos de diferentes formas: quando os estudantes assistem a videoaulas, ao realizarem uma avaliação ou exercícios online etc.
Já as plataformas de Learning Analytics disponíveis no mercado coletam e disponibilizam esses dados (a partir de dashboards, por exemplo), de modo a auxiliar as instituições de ensino na análise das informações.
O Learning Analytics pode ser bastante útil para ajudar educadores e estudantes a descobrir, de maneira objetiva, quais são os pontos fortes e de melhoria da turma — e de cada aluno — em cada disciplina.
Como fazer um diagnóstico de aprendizagem?
Voltando ao diagnóstico de aprendizagem, há diferentes maneiras de realizá-lo. Isso varia de acordo com a natureza do conteúdo cujo conhecimento se pretende avaliar.
Isso quer dizer que as atividades planejadas para investigar os conhecimentos dos estudantes podem ser estruturadas de diferentes formas, incluindo:
- Provas objetivas: uma relação de questões a serem respondidas pelos alunos sem consulta, seja de forma oral ou escrita;
- Listas de exercícios: atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes de forma individual ou em grupo;
- Jogos e desafios: aqui pode-se utilizar quizzes e outras estratégias de gamificação para testar os conhecimentos dos alunos, de forma leve e divertida;
- Leitura e interpretação de textos: uma maneira de ajudar o estudante a criar conexões complexas entre diferentes assuntos e avaliar como ele se expressa sobre estes temas;
- Escrita: produção de um texto sobre o tema que se pretende avaliar;
- Conselho de classe: os próprios educadores se reúnem para analisar as competências e habilidades de cada turma e aluno, compartilhando percepções.
Estes são alguns exemplos de atividades que podem compor um diagnóstico de aprendizagem. Mas as possibilidades são vastas e podem incluir também (sem se limitar) a:
- Portfolio;
- Entrevistas individuais;
- Debates;
- Proposição de atividades de encenação;
- Saraus; entre outras.
É importante ter em mente que, para mensurar a efetividade destes métodos, é preciso delimitar muito bem a sua finalidade antes de aplicá-los. Ou seja, saber exatamente o que se pretende avaliar.
Quando utilizados de forma conjunta, diferentes tipos de avaliação podem proporcionar um diagnóstico mais preciso.
Deste modo, junto às provas objetivas (que são a metodologia mais imediata quando pensamos em avaliação diagnóstica), as atividades mencionadas acima podem fornecer informações complementares importantes. Com base nelas, conseguimos fazer um bom mapeamento dos conhecimentos de cada aluno e/ou turma.
Após a avaliação, pode-se criar, de fato, um diagnóstico de aprendizagem e usá-lo de modo a favorecer o aprimoramento das práticas educativas até então empregadas.
A tríade a ser seguida, após a aplicação da avaliação diagnóstica é a seguinte:
- mapear os resultados,
- planejar os próximos passos e
- acompanhar se as novas estratégias estão sendo efetivas.
Leia também: O que é e quais são os benefícios do mapa de aprendizagem?
Como construir um relatório do diagnóstico de aprendizagem?
Os relatórios do diagnóstico de aprendizagem são documentos importantes, que expressam de forma detalhada o desenvolvimento dos estudantes a partir dos testes aplicados.
Trata-se de uma maneira de nortear possíveis revisões no planejamento das aulas e acompanhar a evolução dos estudantes. Se sua produção torna-se uma rotina, é possível comparar relatórios e contar com uma base rica de informações.
Qual é a estrutura do relatório do diagnóstico de aprendizagem?
De modo geral, a construção de relatórios do diagnóstico de aprendizagem deve contemplar os seguintes elementos:
- Introdução: aqui deve aparecer em que consiste o relatório e qual o seu objetivo, ou seja, por que este documento foi elaborado.
- Sumário: breve resumo do conteúdo do relatório, explicando como está estruturado.
- Descrição da(s) atividade(s) realizada(s) durante a avaliação: incluir que tipo de atividade foi aplicada, sua finalidade, características, recursos empregados etc.
- Descrição do processo avaliativo: falar sobre o processo de avaliação desenvolvido, focando mais especificamente no conteúdo da avaliação. Como esta foi faseada? Quais os indicadores utilizados para mapear os seus resultados? Como foi o procedimento de análise das informações levantadas?
- Apresentação dos resultados principais: neste caso, é importante mostrar de forma objetiva e de fácil compreensão os resultados obtidos. Recursos visuais, como gráficos e tabelas, podem ser úteis neste sentido.
- Discussão dos resultados e avaliação: mais do que apresentar os resultados, deve-se também compará-los às referências utilizadas para a avaliação — incluindo as necessidades e objetivos antes de aplicá-la.
- Conclusões e recomendações: aqui entram as possibilidades de tomada de decisões após a avaliação, como a proposição de aprimoramento no planejamento acadêmico para resolver lacunas de aprendizagem.
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O que fazer a partir das informações apresentadas pelo diagnóstico?
A partir das avaliações diagnósticas, a ideia é que os educadores proponham aos estudantes que desenvolvam situações-problema de naturezas diversas, a fim de acionar os seus conhecimentos para solucionar uma tarefa.
Ao observar a maneira como os alunos se organizam e as informações que utilizam para chegar a uma resposta ou solução, os educadores conseguem planejar atividades futuras mais efetivas para o percurso de aprendizagem dos alunos.
Deve-se lembrar que, durante um longo período, a avaliação foi um instrumento utilizado para rotular os alunos entre bons e ruins. Este definitivamente não é o objetivo do diagnóstico de aprendizagem. Muito pelo contrário!
A avaliação, aqui, é utilizada para ajudar a fazer com que todos os estudantes evoluam. Deve servir como norteadora de melhorias no sistema de ensino.
A ideia é que os professores elaborem aulas partindo daquilo que os alunos já aprenderam e vivenciaram, oferecendo uma continuação neste ensino. Isso significa que a avaliação diagnóstica não possui caráter classificatório, diferente de outros tipos de avaliações utilizados pelas instituições de ensino.
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Por que aplicar metodologias ativas após o diagnóstico de aprendizagem?
Aplicar metodologias ativas após a realização do diagnóstico de aprendizagem pode trazer uma série de vantagens para o desenvolvimento dos alunos.
A principal delas consiste na transformação na forma de construção do aprendizado. O aluno sai de um lugar de conforto e exercita a resolução de problemas e a conexão entre ideias que, em um primeiro momento, podem parecer distantes entre si.
Outros benefícios para os alunos são:
- Adquirir autonomia;
- Trabalhar a autoconfiança;
- Exercitar a resolução de problemas;
- Alcançar maior qualificação e valorização profissional;
- Assumir o protagonismo no próprio processo de aprendizado.
Em relação aos benefícios para as IES, podemos destacar:
- Maior satisfação dos alunos e, consequentemente, maior retenção de estudantes;
- Melhor percepção geral em relação à instituição;
- Maior reconhecimento da IES no mercado educacional;
- Apoio na captação de alunos.
Lembrando que as metodologias ativas de aprendizagem devem acompanhar os objetivos traçados no diagnóstico.
Esperamos que este artigo sobre o diagnóstico de aprendizagem tenha sido útil para você. Aproveite e confira também: Veja o que são ferramentas de metodologias ativas e como fazer a melhor escolha para sua IES