Imagine esta cena: em uma instituição de educação superior (IES) reúnem-se alunos com frequência referidos como “normais”; em outra, são matriculados apenas os alunos “especiais”, ou “deficientes”. Eles não interagem entre si, não compartilham experiências e não enxergam a realidade do outro como algo cotidiano.
Há quem diga, inclusive, que os alunos “especiais” precisam mesmo ficar em um lugar exclusivo — afinal, eles podem atrapalhar o desempenho daqueles que conseguem se desenvolver “em um ritmo normal”. Segregá-los é a melhor escolha, podem argumentar. Esse discurso não te parece um pouco estranho?
Quando falamos sobre educação inclusiva, é contra esse tipo de postura que nos colocamos. No Brasil, cerca de 24% da população sofre com algum tipo de deficiência, de acordo com dados do IBGE. Destes, apenas 1% consegue ingressar no mercado de trabalho.
Por isso, a educação inclusiva não é apenas uma prática pedagógica; ela é uma forma de promover mais acessibilidade, inclusão e igualdade social.
Se você ainda não está familiarizado com o termo, continue lendo este conteúdo e entenda o que é a educação inclusiva, quais são os seus princípios e por que aplicá-la na sua instituição de ensino.
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O que é a educação inclusiva?
A educação inclusiva é, em certa medida, uma proposta pedagógico-social que defende a inclusão e a integração de alunos com deficiência em instituições de ensino regulares.
As suas bases são fundamentadas em leis e na noção de que todas as pessoas têm o direito de estudar sem que, para isso, precisem estar separadas dos demais.
Nesse sentido, a educação inclusiva leva em consideração um princípio básico: o de que todos os alunos têm particularidades. Estas não devem ser, portanto, vistas como uma forma de “atrasar” os demais, e sim como uma maneira de diversificar o ensino e os modos de aprendizagem.
A isso equivale dizer que, quando tratamos da educação inclusiva, assumimos que os alunos com necessidades educacionais especiais devem fazer parte do cotidiano de uma instituição de ensino. E, para isso, os espaços e as atividades precisam ser adaptadas ao uso de todos.
Mais do que adaptar o ensino, portanto, é preciso garantir que os profissionais de educação sejam bem treinados; que os processos de gestão e administração sejam inclusivos também para essas pessoas; que haverá meios de garantir o acesso desses estudantes a todos os espaços educacionais; etc.
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Quais são princípios da educação inclusiva?
A educação inclusiva tem como base cinco princípios fundamentais. São eles:
- Toda pessoa tem direito de acesso à educação;
- Toda pessoa tem a capacidade de aprender;
- O processo de aprendizagem de cada pessoa é único;
- O convívio no ambiente escolar comum beneficia a todos;
- A educação inclusiva diz respeito a todos.
De modo geral, esses princípios se baseiam na igualdade de todas as pessoas e na noção de que, ao convivermos com indivíduos diferentes, nos tornamos mais empáticos e contribuímos para uma sociedade mais inclusiva.
De fato, uma pesquisa do Datafolha identificou que 86% dos brasileiros concordam que a educação inclusiva é benéfica dentro de um ambiente de ensino. Além disso, atualmente, práticas pedagógicas como a personalização do ensino também já sinalizam as melhorias da adoção de práticas mais inclusivas na sala de aula.
Qual é o papel do professor na educação inclusiva?
Ao propor metodologias que se afastam do ensino tradicional e da separação dos alunos, o papel do professor também sofre mudanças. Na educação inclusiva, ele funciona como muito mais do que uma “fonte de conhecimento”: é, na verdade, um auxiliador do processo de ensino-aprendizagem.
Se partimos do princípio de que cada estudante aprende de sua própria maneira, em seu próprio tempo, então não faz sentido enxergar o professor como a figura que unifica a sala de aula. E, de fato, o seu papel é o de dar o suporte necessário para que os alunos ocupem uma posição central na sua aprendizagem.
Assim, é papel do professor:
- Oferecer suporte para os estudantes antes, durante e depois da execução das atividades;
- Garantir que o conteúdo e o plano de aula atendam as necessidades da turma como um todo, adaptando-se aos diferentes contextos dos alunos;
- Pensar em alternativas para avaliações, trabalhos, projetos, etc., mantendo a inclusão de todos os estudantes;
- Conhecer e explorar diferentes ferramentas, dentro e fora da sala de aula, facilitando a aprendizagem e garantindo o engajamento estudantil;
- Identificar lacunas de aprendizagem e pontos de melhoria que poderão ser aprimorados em sala de aula.
Quais são os objetivos da educação inclusiva?
Como explicamos, o principal foco da educação inclusiva é promover uma maior igualdade nas instituições de ensino. No âmbito do ensino superior, isso significa também a promoção de oportunidades mais igualitárias na capacitação de profissionais que ocuparão o mercado de trabalho.
Se é função da instituição de educação superior preparar os alunos para o mundo real, então a educação inclusiva faz com que esse preparo leve em consideração a pluralidade de indivíduos e realidades que fará parte da vida dos estudantes.
Além disso, ela é uma maneira de ajudar no desenvolvimento das habilidades socioemocionais. Afinal, faz com que estudantes aprendam a lidar com situações ainda mais diversas no seu cotidiano.
Quais são os desafios da educação inclusiva no ensino superior?
Um dos principais desafios para a promoção da educação inclusiva no Brasil, hoje, é a capacitação de profissionais aptos a lidar com alunos com diferentes necessidades. Afinal, as demandas diversas exigem mais atenção e, para um professor sem preparo, pode ser difícil manter a qualidade do ensino.
Soma-se a esse problema a falta de infraestrutura nas instituições de educação superior. Para que a educação inclusiva tome forma em uma IES, é fundamental que haja:
- Espaços acessíveis para todos os alunos;
- Salas multifuncionais;
- Recursos e tecnologias acessíveis e disponíveis;
- Aulas que usam metodologias ativas e focadas na colaboração;
- Flexibilização e adaptação curricular.
Também podemos mencionar como um desafio a ser enfrentado a organização de planos de ensino e avaliações que levem em consideração o processo de cada estudante, bem como as habilidades desenvolvidas. Quando pensamos no ensino regular, não raro esses fatores seguem uma linearidade que, na educação inclusiva, precisa ser repensada.
Para alunos com TDAH, por exemplo, é preciso pensar em ferramentas de avaliação e apresentação dos conteúdos que os mantenham motivados e interessados.
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Como aplicar a educação inclusiva na IES? Confira 3 estratégias
Agora que você já sabe o que é a educação inclusiva e qual é a sua importância em uma instituição de educação superior, pode começar a pensar em estratégias para implementá-la.
É importante levar em consideração, porém, que tais estratégias devem se adaptar às necessidades dos alunos da sua IES, e podem ser aplicadas da maneira que melhor funcionarem para eles. Além disso, ter o apoio de uma equipe pedagógica especializada durante essa implementação é uma forma de garantir que ela se dará da maneira adequada.
Abaixo, separamos 3 formas de aplicar a educação inclusiva na sua IES. São elas:
- Acessibilidade metodológica;
- Conteúdos multiformatos; e
- Biblioteca digital.
Confira a seguir!
Acessibilidade metodológica
Quando falamos de acessibilidade metodológica, queremos dizer que é fundamental que alunos com diferentes necessidades tenham acesso a diferentes metodologias. Nesse cenário, as metodologias ativas ganham destaque principal, uma vez que colocam o estudante no centro do seu processo de ensino-aprendizagem.
As metodologias ativas no ensino superior são reconhecidas por se adaptarem a diferentes contextos, cenários e turmas. Por existirem diversas maneiras de aplicá-las, não é difícil encontrar uma ferramenta adequada para o cenário enfrentado pelo corpo docente na inclusão dos alunos.
Além disso, as metodologias ativas têm uma relação mais próxima com ferramentas tecnológicas. Isso faz com que os alunos se sintam mais motivados a engajar com os conteúdos, além de possibilitar o uso de diferentes estratégias de ensino, adaptáveis às diferentes necessidades da turma.
Tipos de metodologias ativas
Como explicamos, as metodologias ativas podem assumir diferentes formatos, a depender das necessidades didáticas da turma em que são aplicadas.
Na tabela abaixo, apresentamos os principais tipos de metodologias ativas e seus benefícios. Confira!
Metodologia ativa | Benefícios |
Aprendizagem baseada em problemas | Desenvolve a autonomia do aluno, a criatividade e o trabalho em equipe;Faz com que os alunos compartilhem seus conhecimentos para chegar a solução do desafio proposto;Aumenta o engajamento. |
Ensino híbrido | Desenvolve a organização e a autonomia;Aumenta a inclusão de alunos;Possibilita a criação de novas formas de avaliação e integração dos estudantes. |
Aprendizagem entre pares | Incentiva o estudo de forma autônoma mesmo fora dos horários de aula;Possibilita feedback constante, o que promove um ensino mais personalizado e assertivo. |
Gamificação na educação | Aumenta o engajamento e a motivação estudantil;Promove o desenvolvimento do trabalho em equipe, do raciocínio lógico e da criatividade;Permite que cada aluno construa o seu conhecimento no seu próprio ritmo. |
Rotação por estações | Estimula o trabalho em equipe;Promove um ensino com diferentes formatos, atendendo às variadas necessidades estudantis. |
Aprendizagem baseada em projetos | Estimula o desenvolvimento de conhecimentos práticos, não só teóricos;Favorece o trabalho em equipe e a colaboração;Faz com que os estudantes vivenciem situações que poderão fazer parte do seu cotidiano profissional. |
Conteúdos multiformatos
Quando falamos sobre conteúdos multiformatos, fazemos referência aos conteúdos apresentados de maneiras alternativas. Em uma educação tradicional, é comum que as aulas sejam expositivas, onde o professor leciona o conteúdo prestes a ser ensinado de modo oral, ou com auxílio de um quadro.
Nos conteúdos multiformatos, porém, a prática educacional pode assumir diversas facetas, adaptando-se às necessidades dos estudantes. São levados em consideração, portanto, os conteúdos produzidos em:
- Vídeos;
- Podcasts;
- Mapas mentais;
- Slides;
- Libras.
Para além da melhor adaptação de alunos que aprendem com mais facilidade de formas distintas da considerada “tradicional”, os conteúdos multiformatos também fazem com que os estudantes que são pessoas com deficiência tenham mais facilidade em manusear e acessar os materiais usados em sala.
Os conteúdos multiformatos acabam sendo, portanto, uma maneira não apenas de incluir os alunos com deficiência na sua IES, mas também de realmente integrá-los. Uma vez que eles têm acesso aos materiais e ferramentas adequados, até a apresentação de trabalhos ou a participação em projetos fica mais fácil — o que melhora, inclusive, os formatos de avaliação que podem ser usados.
Biblioteca Digital
Ter uma biblioteca digital é uma maneira simples e eficaz de começar a educação inclusiva na sua IES. Além de ser um dos requisitos de avaliação do MEC, ela promove o acesso facilitado de alunos a materiais importantes para a sua formação.
Dentre os principais benefícios da biblioteca digital para a inclusão de alunos está o fato de que as plataformas de leitura podem ser integradas a softwares de acessibilidade. Dessa maneira, é possível que um programa faça a leitura em voz alta dos livros, caso necessário.
Além disso, na maioria dos programas, a customização da tela de leitura é possível. Somadas às alterações mais básicas, como tamanho da letra, também pode-se modificar detalhes como cor da página, brilho da tela, etc. Assim, o processo de leitura se torna mais confortável para alunos com diferentes necessidades.
Por fim, a biblioteca digital é uma alternativa para alunos com dificuldades de mobilidade. Uma vez que os livros podem ser lidos através de um aplicativo e em qualquer dispositivo móvel com acesso à internet, é mais fácil realizar o empréstimo e a leitura em si.
Esperamos que este conteúdo tenha te ajudado a entender melhor o que é a educação inclusiva, quais são os seus desafios no Ensino Superior e de que maneira a sua IES pode começar a aplicá-la. Se você ficou interessado em saber mais sobre essas soluções, confira o nosso artigo com 7 passos sobre como criar biblioteca digital!