O ensino dual é uma estratégia de aprendizado que se baseia na colaboração entre escolas profissionalizantes e empresas locais ou internacionais – que permitem a formação de um aluno e futuro profissional.
Na prática, isso significa que os alunos do ensino superior terão acesso não apenas à teoria em sala de aula, mas também a experiências práticas criadas com o apoio dos gestores das empresas em que esses profissionais querem atuar no futuro.
Sendo assim, o ensino dual é conhecido por ser uma metodologia inovadora que traz o mercado de trabalho para dentro da formação durante a graduação.
Ainda que não seja uma estratégia muito comum no Brasil, esse modelo tem um potencial bastante promissor. Isso porque, ao entrar num curso de graduação, o aluno espera se formar e ter uma oportunidade no mercado de trabalho, sendo a formação a principal estratégia para receber salários mais altos e maior empregabilidade.
Porém, muitas vezes, o aluno se depara com a falta de experiência prática na hora de se candidatar a vagas. Assim, mesmo que a universidade ofereça aulas de laboratório, empresas juniores e curricularização da extensão, a experiência de um trabalho em empresa é diferente. Justamente por isso, o foco do ensino dual é trazer esses conhecimentos das empresas para a grade curricular.
Neste artigo, você vai ficar por dentro do ensino dual. Explicaremos suas origens, possibilidades e a diferença em relação ao estágio. Ao final do texto, listamos 4 dicas para uma aplicação eficaz desta metodologia. Boa leitura!
A origem do ensino dual
O ensino dual tem grande reconhecimento na Alemanha. Por lá, existe o modelo chamado Schulische Ausbildung, que consiste em um curso profissionalizante voltado para alunos que desejam experienciar a mão na massa.
Nesse molde de estudos o aluno tem duas opções: ou frequenta as aulas da universidade durante dois ou três dias e depois aplica seus conhecimentos na empresa durante o restante da semana, ou a forma mais comum, o aluno assiste a um bloco de aulas que pode durar um ou dois meses e posteriormente realiza a vivências das empresas parceiras.
A diferença entre ensino dual e estágio
A experiência prática durante uma graduação é o principal objetivo dos estágios. Na maioria dos cursos, o estágio é obrigatório e deve ser realizado em empresas reconhecidas e seguir a legislação para estagiários.
“Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.”
Por isso, essa atuação deve ser compatível com os estudos do aluno, supervisionada por profissionais mentores e organizada para ampliar a formação do aluno.
Já no ensino dual, as empresas fazem parte da construção de unidades curriculares. Isso significa que, durante a criação da matriz curricular, há uma colaboração entre docentes e profissionais para incluir os conteúdos aplicáveis na atuação profissional.
Por exemplo, enquanto a parte teórica do ensino foca na bagagem cultural e científica que o aluno precisa na área, as unidades mais práticas ensinam o funcionamento do dia-a-dia do trabalho. Dessa forma, quando o aluno chega à empresa para a segunda parte, ele já tem informações sobre seu trabalho.
O crescimento das metodologias ativas de ensino
Nos últimos anos, a atuação dos docentes nas instituições de educação superior (IES) tem trazido grandes mudanças. Uma característica do ensino contemporâneo é focar em metodologias ativas no ensino superior, que abram espaço para que o aluno desenvolva seu próprio aprendizado.
Nesse contexto, a figura do professor existe como um facilitador, mentor e guia, não limitado a expor o conteúdo de forma fixa. Entre as metodologias ativas mais utilizadas está a sala de aula invertida. Ao contrário das aulas tradicionais em que o professor realiza aulas expositivas como uma forma de introduzir o assunto,
Nesse caso, os alunos têm um conhecimento prévio que será utilizado na hora de interagir com o conteúdo com o professor. Por exemplo, os alunos assistem a um vídeo ou fazem leituras relacionadas ao tema antes da aula marcada.
Nesse momento, quando o professor traz os questionamentos necessários, o aluno já tem a bagagem cultural e o repertório científico necessários para entender as nuances daquela temática.
Outra estratégia de ensino que tem ganhado popularidade é a aprendizagem baseada em projetos. Nesse caso, o aluno tem a oportunidade de trabalhar de forma individual ou em grupo, em um caso relacionado à temática da matéria.
Por exemplo, os alunos de Direito poderão ser aproximados de casos reais e debater as possibilidades daquela situação. Os alunos de um curso de marketing por exemplo poderão trabalhar em casos de sucesso que foram realizados por profissionais reconhecidos.
Dessa forma, o aluno entra em contato prático com o conteúdo e consegue abstraí-lo da sala de aula para situações reais. Essa capacidade é muito importante durante a graduação. É com ela que o aluno consegue encontrar diferentes formas de aplicar o que ele aprende na futura atuação profissional.
As IES e as metodologias ativas
Com o crescimento dessas modalidades de ensino é interessante notar que os alunos e seu perfil também têm mudado. A maioria dos alunos contemporâneos busca a formação superior como uma forma de garantir mais possibilidades de atuação profissional e ter um diploma que os qualifique não apenas para a parte teórica, mas também para a parte prática de uma profissão.
Nesse sentido, então, a busca dos alunos por uma formação mais completa está dentro do esperado. É com ela que eles terão mais experiência e um currículo mais interessante para quando forem aplicar para vagas.
Porém, nem todas as instituições de ensino têm esse foco. E é por isso que as instituições com estratégias de aprendizagem ativas atraem um perfil de alunos mais voltado para a agência em relação à própria formação.
Para a captação de alunos, o foco em metodologias ativas é um dos maiores atrativos, além de infraestrutura e desenvolvimento. Os alunos, hoje, enxergam as instituições de ensino de uma forma completa.
Então quando estão tomando decisões sobre qual curso buscar sua formação, eles levarão em conta como a instituição está alinhada em relação às estratégias mais contemporâneas.
Ou seja, na prática é mais interessante para o aluno uma matriz curricular que seja dividida entre teoria e prática e que possibilite diferentes interesses e aplicações do aprendizado.
Diferenciais como acesso a estágios, laboratórios, atividades de extensão, empresas juniores e novas tecnologias transformam a instituição de ensino em uma referência não apenas no mercado de trabalho, mas também para potenciais alunos que terão o reconhecimento de que aquele é o melhor espaço para desenvolver suas habilidades profissionais.
O ensino dual no Brasil
Hoje um sistema análogo ao ensino dual no Brasil é o ensino técnico, que ajuda o estudante não apenas a aprender sobre um conteúdo, mas também atuar nas empresas para ganhar experiência.
Os alunos do ensino técnico são alunos do ensino médio que, em sua maioria, estão buscando uma qualificação profissional mesmo antes de buscar uma formação superior.
Ainda assim, os cursos técnicos têm suas limitações: por serem alocados principalmente em centros educacionais, eles não têm as mesmas possibilidades que uma cooperação com uma empresa teria, nem os recursos financeiros para oferecer aos alunos uma ampla gama de experiências.
Nesse caso os alunos realizam estágios supervisionados, mas a empresa não está diretamente envolvida na criação da matriz curricular no ensino técnico. Porém, hoje já existem instituições de educação superior que buscam criar um currículo desde o início alinhado com a atuação profissional.
Esses alunos, que já concluíram o ensino médio, terão a possibilidade de uma educação superior mais voltada para o mercado.
Em parceria com empresas nacionais e internacionais os alunos desses cursos podem receber mentorias e participar de atividades de trabalho dentro das empresas, alternando o conhecimento teórico com o prático e criando uma formação e uma grade curricular mais dinâmica.
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As possibilidades do ensino dual
Ainda que seja pouco conhecida, a estratégia de ensino dual traz ganhos tanto para a instituição de ensino, quanto para o aluno e para a empresa. A instituição de ensino consegue oferecer diferentes possibilidades de trilhas de aprendizagem.
O aluno tem uma formação superior mais ampla e focada no mercado. E as empresas conseguem formar profissionais adequados para a sua necessidade. Conheça agora algumas possibilidades do ensino dual!
Rotação de trabalho
Uma das questões dos cursos mais tradicionais de educação superior é a dificuldade em encontrar tempo e recursos para viver diferentes experiências profissionais antes de entrar formalmente no mercado de trabalho.
Isso porque os alunos realizam os estágios, sejam eles obrigatórios ou não, que consomem cerca de trinta horas por semana, além das horas em sala de aula e nos estudos. Porém os cargos não são tão flexíveis e muitas vezes o aluno só consegue vivenciar uma área de sua futura atuação profissional.
Ou seja, por exemplo, um aluno de administração que vá trabalhar no setor privado não necessariamente terá experiência com o terceiro setor. Um aluno de design que estagia em mídia impressa não atua ao mesmo tempo em mídias digitais.
Já no ensino dual, as empresas parceiras fazem parte do currículo do curso. Então a grade abre o espaço para atuação nesses parceiros. Enquanto isso, as empresas priorizam a rotação de trabalho.
Ou seja, os alunos não ficarão fixos apenas em um departamento e uma área da empresa, mas terão oportunidade de trabalhos flexíveis em diferentes setores que sejam compatíveis com seus estudos.
Dessa forma, eles poderão conhecer melhor as diferentes partes de sua atuação profissional e com esse conhecimento, escolher onde atuarão no futuro.
Mentorias valiosas
Outro ponto fundamental do ensino dual é que o aluno tem contato direto com profissionais das empresas parceiras. Dessa forma ele tem mentorias com pessoas de diferentes níveis e departamentos, o que possibilita a troca de conhecimentos e decisões mais acertadas de carreira no futuro.
Além disso, com essa mentoria, o aluno realizará um networking mesmo antes de sair da instituição de ensino, o que facilita também sua busca por vagas no futuro.
Rapidez para colocar em prática
Muitas vezes os cursos tradicionais só possibilitam ao aluno estagiar a partir do terceiro ou quarto ano do curso. Porém, no ensino dual, as empresas abrem espaço inclusive para o primeiro semestre.
Dessa forma, o aluno coloca em prática o que aprendeu em sala de aula quase imediatamente. Em vez de aprender um conceito no primeiro ano e só aplicá-lo no terceiro, ele terá a possibilidade de conhecer melhor as diferentes referências e possibilidades práticas desde quando entra no curso.
Isso desperta o interesse no aprendizado e também na transformação de conhecimento em práticas profissionais.
Ganhos para o currículo
Ao concluir um curso de graduação, parte dos alunos tem dificuldade em encontrar seu primeiro emprego na área. Os programas de trainee e vagas de iniciantes exigem certa quantidade de experiência prática.
Ao mesmo tempo, um aluno recém formado precisa atuar diretamente para conseguir construir sua carreira. No caso do ensino dual, a atuação em diferentes setores das empresas parceiras permite que o aluno agregue ao seu currículo uma experiência em diferentes áreas.
Assim, na busca por vagas relacionadas no futuro, ele terá vantagem de já ter uma multitude de experiências e mais destaque em processos seletivos.
Recursos financeiros e infraestrutura
As instituições de ensino têm limitações na infraestrutura educacional. Por isso, nem sempre elas terão a possibilidade de oferecer aos alunos tudo o que pode ser benéfico para a sua formação.
Já as empresas, por serem grandes e com atuação multissetorial, têm os recursos para que os alunos conheçam as diferentes partes de sua profissão. Parte da parceria do ensino dual significa que as empresas arcam com um porcentual – ou total – dos custos da formação do aluno.
Então para a instituição de ensino, isso significa um investimento menor para criar novas possibilidades de aprendizagem. Os cursos custeados pelas empresas dão espaço para que alunos de diferentes vivências possam ter uma formação completa e alinhada às exigências contemporâneas.
As bolsas de estudo e auxílio de custo para os alunos de baixa renda, por exemplo, permitem que eles concluam um curso voltado para o mercado e tenham melhor empregabilidade no futuro sem exigir investimento inicial.
Já para as empresas, o investimento no ensino dual significa a formação de profissionais que já tenham o perfil que elas buscam. Ainda, o perfil do egresso dos cursos dual não é apenas um aluno com um repertório científico e cultural, mas também profissional e preparado para lidar com as dinâmicas do mercado escolhido.
4 dicas para uma aplicação eficaz do ensino dual
Uma dúvida muito comum dos gestores das IES é como começar a aplicar o ensino dual em sua faculdade. Afinal, trata-se de uma metodologia nova, que não é muito comum no Brasil.
Por isso mesmo, pode ser um grande diferencial para as universidades, contribuindo para sua captação de alunos. Na lista abaixo, separamos 4 dicas para uma aplicação eficaz do ensino dual na educação superior. Confira-as:
- Procure por boas empresas parceiras;
- Construa as matrizes curriculares em conjunto;
- Faça diálogos entre a teoria e a prática;
- Ouça o feedback dos alunos.
Entenda em detalhes:
1. Procure por boas empresas parceiras
O primeiro passo é encontrar empresas que sejam referências nos cursos oferecidos pela IES. As companhias devem ter possibilidades de atuação multissetorial, para que o aluno consiga vivenciar diferentes áreas de sua profissão.
Também precisam ter interesse na formação de novos profissionais, com setores dedicados a acolher os graduandos. Afinal, para muitos deles, será a primeira experiência com o mercado de trabalho, e eles precisam fazer esta transição com o respaldo de seus mentores na empresa. Assim, vão se sentir mais seguros.
Lembre-se de que, no ensino dual, empresa e IES têm uma relação de parceria, estando em contato, alinhando a teoria com a prática.
2. Construa as matrizes curriculares em conjunto
As companhias devem participar da criação das matrizes curriculares dos cursos que terão ensino dual. Este é um diferencial importante dessa estratégia de aprendizado, algo que a distingue do estágio.
Sendo assim, os profissionais da empresa devem colaborar com os coordenadores de curso, pensando nos assuntos que serão temas das aulas. É essencial que aquilo que o graduando estuda tenha relação com sua dinâmica profissional.
Isto é, que ele consiga colocar em prática o que aprendeu dentro da sala de aula, vendo como aqueles conteúdos aparecem em sua realidade de trabalho. Muitas vezes, os estudantes só têm essa noção quando se formam, e este é um grande diferencial do ensino dual.
3. Faça diálogos entre a teoria e a prática
Os professores devem estimular os alunos a refletirem sobre sua prática profissional, fazendo diálogos entre seu trabalho e a teoria estudada. Os graduandos podem compartilhar suas experiências na empresa, os desafios e dificuldades.
A partir disso, trabalhando em grupos com seus colegas, e tendo o professor como guia, podem pensar coletivamente em soluções, e quais habilidades precisam aprimorar. Isso contribui para uma aprendizagem ativa.
Também ocorre uma maior personalização do ensino, afinal, o estudante vai trilhando seu caminho de maneira autônoma e única, de acordo com suas necessidades.
4. Ouça o feedback dos alunos
Por fim, é muito importante que a IES ouça o feedback dos estudantes sobre o ensino dual. Ele é essencial para que os gestores pensem naquilo que precisa ser aprimorado, e também em manter o que está funcionando.
A partir desse retorno, a gestão pode trabalhar em conjunto com as empresas parceiras a fim de obter melhoria da experiência do aluno.
Agora que você já sabe tudo sobre o ensino dual, que tal ler sobre como direcionar o investimento na educação superior?