A pandemia de Covid-19 gerou uma rápida transição tanto para o trabalho quanto para o ensino superior a distância. Deste modo, deu mais gás ao debate sobre digitalização no Brasil. Isso fez com que as discussões sobre inclusão digital tivessem ainda mais espaço na sociedade.
Ficou evidente que grande parte da população não está devidamente conectada e houve atrasos na formação educacional dos brasileiros. Muitos acabaram ficando para trás com o cenário de educação remota. É o que mostra a pesquisa O abismo digital no Brasil, promovida pela consultoria PwC, em parceria com o Instituto Locomotiva.
Além da digitalização e do acesso à internet, que já representam um problema por si só, temos diante de nós questões estruturais ligadas à educação. Segundo o estudo, por exemplo, 68% dos estudantes não possuem conhecimentos básicos de matemática, e o Brasil ocupa a 58ª posição no mundo em leitura.
Aumenta, então, o desafio de formar talentos para o mercado de trabalho. E demanda é o que não falta: só o mercado de tecnologia precisará de 797 mil novos talentos de 2021 a 2025, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).
O estudo da PwC mostrou que 81% da população brasileira com 10 anos ou mais usam a internet. Contudo, apenas 20% têm acesso de qualidade.
68% dos domicílios sem acesso à internet indicam o alto preço dos serviços como um dos motivos para não os contratarem.
Entrando no cenário da educação, 21% dos alunos matriculados nas redes municipais e estaduais de educação básica estão em escolas sem acesso à banda larga.
E o abismo observado na inclusão digital no Brasil está ligado à situação econômica das famílias, claro. A pesquisa mostrou que apenas 8% dos internautas plenamente conectados pertencem às classes D e E, enquanto entre os desconectados eles são 60%.
Neste artigo, falaremos mais sobre o que é a inclusão digital, qual o cenário brasileiro e como promover esta inclusão no ensino superior. Continue a leitura!
O que é inclusão digital no Brasil?
A inclusão digital consiste na tentativa de assegurar a todos os cidadãos o acesso às tecnologias da informação e comunicação (TICs). Ou seja, fazer com que, especialmente as pessoas de baixa renda tenham acesso a informações, possam fazer pesquisas, assim como utilizar a internet e as tecnologias para facilitar a própria vida.
Assim como aconteceu com os modelos de educação e trabalho remotos, que foram amplamente adotados durante a pandemia, há uma tendência crescente de disponibilização de cada vez mais serviços a partir da internet.
Isso significa que a inclusão digital favorece a qualidade de vida das pessoas. Aquelas que são digitalmente incluídas podem realizar mais facilmente inúmeras tarefas, como:
- Operações bancárias;
- Compras em lojas virtuais;
- Pedidos de refeição via aplicativos de delivery;
- Cursos online;
- Usar diversos serviços públicos com muito mais agilidade.
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Qual é o objetivo da inclusão digital?
A transformação digital acertou em cheio o mercado de trabalho. Segundo a pesquisa da PwC mencionada anteriormente, 15,4% da força de trabalho global exercia funções tradicionais em 2020, e essa proporção encolherá para 9% até 2025.
Já a participação de profissões ligadas à digitalização e às novas tecnologias quase dobrará, indo de 7,8% para 13,5% da base total de empregados no mesmo período. A demanda por novos talentos no Brasil, somente no setor de tecnologia, exigirá a contratação de quase 800 mil novos talentos de 2021 a 2025, aponta o estudo.
No entanto, a mesma pesquisa alerta para a possibilidade de o país ficar para trás enquanto o acesso à internet permanecer amplamente desigual.
Para se ter uma ideia, o ranking de alfabetização digital do índice “The Inclusive Internet 2021”, publicado pela revista britânica The Economist, mostra que o Brasil ocupa a 80ª posição, entre 120 países.
Promover a inclusão digital, portanto, é urgente. E os seus benefícios são diversos, passando por acesso ao conhecimento e potencialização do acesso à cidadania, aumento da empregabilidade e conectividade. Ou seja, encurtar distância e promover encontros (aulas, shows, palestras, interações familiares) de forma virtual.
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Quais são os desafios da inclusão digital no Brasil?
Como você pôde ver até aqui, há gaps relacionados à inclusão digital no Brasil que precisam ser contornados.
Voltando ao estudo “Abismo digital no Brasil”, um dos entraves apontados diz respeito à experiência de conexão à internet.
Entre os brasileiros, o estudo identificou:
- 49,4 milhões plenamente conectados;
- 44,8 milhões parcialmente conectados;
- 41,8 milhões sub conectados;
- 33,9 milhões desconectados.
A pesquisa trouxe também as diferenças discrepantes de acesso à internet entre as classes socioeconômicas (100% na classe A, em comparação com 64% nas classes D e E) e entre negros e não negros.
Diante disso, foram apontadas três razões básicas para a desigualdade de acesso:
- Deficiências da infraestrutura de conexão (problemas de amplitude, qualidade e distribuição do sinal), e de acesso e dos equipamentos;
- Limitações de acesso a hardware;
- Deficiências do sistema educacional.
Os desafios da inclusão digital no sistema educacional brasileiro
Sobre este último ponto, mais de 8 milhões de estudantes ou 21% dos alunos matriculados nas redes municipais e estaduais de educação básica estão em escolas sem acesso à banda larga, tecnologia essencial para a educação a distância (EaD).
No ensino médio, 1 em cada 4 escolas não tem internet para ensino e aprendizagem.
Diante disso, são cerca de 6 milhões de estudantes (da pré-escola à pós-graduação) que não conseguem fazer aulas remotas por falta de acesso à internet em casa.
Entre os internautas que responderam à pesquisa da PwC que são estudantes ou moram com estudantes, 29% consideram que a falta de conhecimento para usar a internet prejudica a aprendizagem do(s) estudante(s) do domicílio.
Você pôde ver, até aqui, que são muitas as dificuldades que precisam ser contornadas até chegarmos a um cenário ideal de inclusão digital no Brasil.
A desigualdade de acesso à internet reforça a disparidade socioeconômica do país. Se o quadro não for revertido, o estudo indica que iremos nos deparar com consequências como:
- Mais informalidade no mercado de trabalho;
- Redução do índice de produtividade do país — já considerado baixo;
- Atraso no desenvolvimento humano e profissional da próxima geração;
- Redução do acesso a serviços públicos.
Como superar os desafios à inclusão digital?
A ação conjunta de governos, empresas e instituições de ensino é necessária para o estabelecimento de uma agenda pautada em promover a inclusão digital.
Para tanto, o estudo “O abismo digital no Brasil” sugere que o esforço deve ser baseado em:
- Análises de cenário;
- Previsões de demanda de trabalho em diferentes setores;
- Políticas de incentivo;
- Indicadores de qualidade e desempenho.
Cabe às instituições de educação repensar iniciativas de qualificação e requalificação profissional e utilizar o conceito de lifelong learning, ou aprendizagem ao longo da vida, para garantir que todos tenham a chance de participar do futuro do trabalho.
Outro ponto importante é a necessidade de escolas e universidades adotarem ferramentas mais intuitivas e responsivas, que democratizem o ensino e facilitem os estudos dos alunos independentemente das condições.
Claro que não poderíamos também deixar de mencionar a implementação de metodologias ativas no ensino superior, que tornam o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e focado nas necessidades dos alunos.
Favorecemos, assim, um desempenho melhor nas disciplinas e diminuímos os impactos de eventos externos, como a pandemia de Covid-19, que transformou a relação entre instituições de ensino e estudantes.
Letramento digital
Não dá para falarmos sobre inclusão digital na educação deixando de fora a necessidade de as IES implementarem o letramento digital.
O termo letramento nos remete à educação básica e ao processo de alfabetização, certo? Bem, ele pode até vir daí. Contudo, passou a englobar outras esferas na medida em que a sociedade precisou aprender a lidar com o uso e expansão constante da tecnologia.
O letramento digital se refere ao domínio de técnicas e competências para acessar, interagir e processar as informações disponíveis online. Ou seja, usar os recursos tecnológicos, que envolvem a leitura de diferentes mídias no meio digital, para se inserir de maneira lúcida e crítica na cultura digital.
O letramento digital abre portas para a inclusão digital e pode acontecer em qualquer etapa da vida, o que inclui o ensino superior.
A falta de relação prévia com o meio virtual pode ser vencida no ambiente universitário.
Para isso, é preciso que as IES contem com uma boa infraestrutura educacional, que envolve equipamentos tecnológicos, profissionais hábeis a conduzir este processo e plataformas de ensino-aprendizagem adequadas.
Leia também: O que são, para que servem e como aplicar as TICs na educação
Outras formas práticas de promover a inclusão digital na IES
Há algumas atitudes que a sua instituição de ensino pode adotar a fim de democratizar o acesso ao ensino a todos os estudantes, principalmente aos alunos de baixa renda que precisam estudar em um modelo de educação a distância ou de ensino híbrido.
Uma possibilidade é buscar parcerias com operadoras de telefonia móvel. A ideia é oferecer opções mais baratas de acesso à internet aos estudantes, que não comprometam o seu planejamento financeiro. Deste modo, eles podem seguir com os estudos tranquilamente dentro e fora do campus, em casa ou no polo EaD.
Outra ação prática que pode ser adotada pela IES é o empréstimo de computadores e outros dispositivos a alunos que não tenham condições de custear estes equipamentos. A instituição pode estruturar processos de empréstimo bem definidos, disponibilizando os equipamentos de informática para aqueles que não podem adquiri-los e garantindo a sua devolução assim que possível.
Neste artigo, você conheceu de forma mais aprofundada o contexto da inclusão digital no Brasil e os desafios que o país ainda tem pela frente, que são diversos. Mas as instituições de ensino são fundamentais para reverter este cenário, apostando em estratégias como o letramento digital.
Promover a inclusão digital é uma forma de assegurar a igualdade de oportunidades para todos os estudantes da sua IES e, consequentemente, reter alunos.
Esperamos que este conteúdo sobre inclusão digital tenha sido útil para você. Aproveite para conferir também o artigo que preparamos com dicas valiosas para o acolhimento dos alunos na sua IES!