Para a criação e o desenvolvimento de um curso de graduação, é preciso que a equipe educacional esteja alinhada com os interesses dos alunos. Um dos pontos ao qual as instituições de educação superior (IES) devem estar atentas é a indicação bibliográfica.
Uma bibliografia bem elaborada funciona não só como introdução aos diferentes temas do curso, como também amplia os horizontes educacionais, aprofunda as questões abordadas em sala e ainda contribui para o debate – dentro e fora dos muros da instituição de ensino.
Por isso, essa parte de um curso tem papel fundamental na formação dos alunos. A escolha de uma bibliografia molda a relação das disciplinas com os estudantes e transforma a linha pedagógica.
Desde a carga de leitura, que pode ser maior ou menor dependendo do curso e da instituição, até os autores e as vertentes escolhidas, a opção por um segmento de livros faz toda a diferença na qualificação dos alunos.
Isso é algo a que os gestores devem estar atentos e apoiar os docentes durante o processo. Vale para a escolha de livros didáticos, de referência, mas a escolha deve ser feita com cautela também para o conteúdo complementar.
Ou seja, quando o docente está planejando uma nova disciplina ou até mesmo repensando a didática de uma disciplina já existente, ele precisa ter em mãos uma bibliografia de qualidade.
Essa bibliografia inclui os livros obrigatórios, que se tornam referência para os estudos e a realização de trabalhos dos alunos. Mas também deve incluir os exemplares que ampliam a discussão.
E esses exemplares não são apenas livros didáticos. Outros formatos de texto como revistas científicas, artigos elaborados pelo corpo discente anterior, literatura atrelada ao tema das aulas, filmes, podcasts, etc. Pensar na indicação bibliográfica como uma estratégia multimídia e multiformato auxilia a elaborar um conteúdo mais amplo.
E os gestores, nesse contexto, podem agir como ponte entre os docentes e a realidade dos estudantes e do mercado. Ou seja, fazer sugestões e apresentar opções de conteúdo interessante para as aulas e, ao mesmo tempo, contribuir para que os docentes tenham acesso a conteúdos atualizados que escolherem.
Assim como na elaboração de cursos, na avaliação interna e na captação de alunos, a criação de uma bibliografia que atenda às necessidades do curso é uma tarefa complexa e que exige a colaboração entre os diferentes setores da educação superior.
Isso porque é uma tarefa com grande recompensa: uma bibliografia bem montada reflete diretamente na formação dos estudantes. Por sua vez, eles se destacam pessoal e profissionalmente por ter uma alta carga de conhecimentos diversos e serem multidisciplinares.
Esse destaque traz reputação positiva para os cursos dos egressos, reforçando o papel da IES na formação de alunos preparados, buscando sempre o conhecimento e com muitas referências culturais.
Além disso, contribui para o funcionamento do curso: se os alunos participam das aulas com conhecimentos prévios, adquiridos com as leituras do conteúdo disponibilizado, eles contribuem melhor para debates e se tornam agentes de sua própria aprendizagem.
Essa metodologia ativa atrai talentos para sua instituição e auxilia os estudantes a desenvolverem habilidades como pensamento crítico, questionamento social e autonomia.
Sendo assim, os benefícios de uma boa indicação bibliográfica fazem parte da sala de aula, mas ultrapassam seus limites. Para ajudar educadores e gestores na escolha, neste artigo trazemos algumas dicas:
1. Pense na indicação bibliográfica como parte do Projeto Pedagógico
Vale lembrar que a bibliografia é um dos fatores norteadores de um curso de graduação. Ela faz parte do início da elaboração do Projeto Pedagógico de Curso (PPC) e tem papel fundamental em determinar a diretriz curricular.
Na elaboração de um novo curso de graduação, os gestores educacionais devem, com o apoio de docentes qualificados, elaborar um documento que embase a necessidade, a aplicação e a função dessa formação. Esse documento, que será apresentado ao MEC para aprovação do curso, tem uma função extra: determinar a linha de aprofundamento da graduação e os planos futuros.
O PPC faz parte das avaliações do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior), orgão do MEC criado em 2004 para garantir a pluralidade e a qualidade do ensino neste segmento.
De acordo com a lei 10.861, que estabeleceu essa instituição, “O SINAES tem por finalidades a melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional.”
Isso significa, portanto, que a qualidade e a extensão do Projeto Pedagógico são fundamentais para garantir que ele seja aprovado e mantido pelo Ministério da Educação. Dentro do documento devem constar informações sobre docentes, carga horária, atividades complementares, perfil do egresso, lacunas do mercado e do universo acadêmico, papel da formação, entre outros.
Além de funcionar como índice de criação do curso, esse documento, frequentemente revisto e atualizado pelas autoridades da instituição e pelos coordenadores de curso, pode ser usado como referência de novas estratégias.
Isto é, caso o docente busque acrescentar novos conteúdos ou uma nova disciplina seja inserida, o Projeto Pedagógico será o guia para que essas novidades estejam alinhadas ao perfil estabelecido.
Aqui, a indicação bibliográfica tem mais um papel fundamental: ela determina as linhas pedagógicas de cada graduação. A carga de leitura obrigatória, os livros de conteúdo complementar, as atividades multimídia, a opção por cursos mais teóricos ou práticos, as literaturas que auxiliam a desenvolver habilidades para o mercado, etc.
Por exemplo, se o Projeto Pedagógico de curso reforça a importância da leitura prévia, ele determina uma metodologia ativa de aprendizagem. Isso significa que o aluno desenvolve autonomia nos estudos e na busca por conhecimento, o que reflete em sua formação e participação em sala.
Já em cursos com uma perspectiva mais prática, a indicação bibliográfica deve ser feita pensando nas referências importantes aos estudantes. Que material é indispensável para seu repertório? Em que disciplinas ele será inserido? Tudo isso deve ser levado em conta na elaboração do Projeto Pedagógico.
Um lembrete importante é que a indicação bibliográfica não precisa conter apenas livros. Que tal inserir artigos científicos, documentários, revistas da área, podcasts e outros formatos? Esse método auxilia no engajamento dos alunos com o conteúdo e traz novas perspectivas sobre o cenário estudado.
Para os cursos em que o Projeto Pedagógico engloba um TCC, o papel da indicação bibliográfica é ainda maior: é com esse repertório, adquirido ao longo dos anos da graduação, que os estudantes criarão mais conteúdo científico importante para a IES. Sendo assim, para a construção de um ambiente favorável à produção de conteúdo e inovação, é essencial que o repertório reflita a amplitude disponível.
2. Reflita sobre a qualidade do conteúdo
Mas é claro que a indicação bibliográfica não é apenas escolher uma série de livros relevantes para o tema. Em primeiro lugar, é essencial analisar cada um deles e ver se estão adequados à ementa do curso.
Que conteúdos a formação pretende explorar? Quais são as competências necessárias para os egressos terem sucesso após a conclusão? Que informações devem ser geradas dentro dos eixos de ensino e pesquisa da IES?
Todas essas perguntas devem ser feitas antes de construir a bibliografia do curso. Os docentes devem estar atentos às novidades em sua área para trazer sempre informações atualizadas aos estudantes. E os gestores devem trabalhar com a disponibilidade e o acesso deles aos conteúdos essenciais, reforçando o compromisso da IES com a difusão de conhecimento.
Para que isso seja possível, é fundamental dedicar recursos financeiros à criação de uma biblioteca, seja ela física, virtual ou híbrida. Assim como outras diretrizes educacionais, as bibliotecas exigem constante avaliação e renovação, o que significa que as instituições devem contar com profissionais qualificados para determinar as mudanças.
Esse apoio deve ser feito com editoras de confiança, que contribuam para o debate científico na educação brasileira. As editoras, assim como as revistas científicas e os bibliotecários especializados na catalogação, prezam pela qualidade das informações, atualização de dados e embasamento científico.
Então são agentes auxiliares na criação de uma bibliografia que contemple as necessidades da IES. Em meio à ampla gama de dados e a dificuldade em obter segurança e qualidade, a checagem do material e a adequação à sala de aula têm um papel enorme. Justamente por isso, os gestores e educadores devem ficar atentos. É preciso disseminar o conteúdo de boa qualidade e incentivar a leitura de informações verificadas.
Além disso, a qualidade de uma indicação bibliográfica depende também da atualização. As listas de leitura devem ser sempre revistas e avaliadas, para incluir novas edições e diferentes materiais dos autores que a instituição considera relevantes a seus interesses.
3. Incorpore diversidade nas leituras
Os educadores devem ter em mente que não existe apenas um tipo de autor. Com a ampla gama de conhecimento científico, é preciso incluir autores de diferentes cenários. Isso vale para inclusão de conteúdo escrito por pessoas marginalizadas, mas também por conteúdos que trabalhem diretamente nessa questão.
Por exemplo, um curso de Direito exige que, em sua bibliografia, exista conteúdo voltado para direitos de acessibilidade e inclusão. Não apenas para a qualificação profissional dos alunos, mas também para que a graduação seja uma aliada na construção de uma sociedade mais justa.
Outro ponto importante é garantir a diversidade de origens e práticas dos autores abordados. Assim como os alunos sofrem com a falta de democratização do ensino superior, o mundo da produção acadêmica também reflete essa realidade.
Dessa forma, há menos conteúdo disponível criado por pessoas negras, mulheres, fora de grandes centros urbanos, de baixa renda, etc. É mais um dos fatores que compromete a ampliação dos estudos desses grupos: hoje, infelizmente, a realidade ainda aponta para a baixa presença deles nas IES. Nesse sentido, repensar a indicação bibliográfica de forma a questionar esse status quo é mais um passo na democratização do ensino.
Debates entre educadores
Essa iniciativa, vale dizer, também é essencial na qualificação das equipes pedagógicas. Gestores e docentes devem estar sempre preocupados com aspectos práticos da educação para além de sua própria IES.
Nesse contexto, então, devem se atentar para o cenário atual, para problemas como falta de acesso, evasão estudantil e financiamento dos estudos, para utilizar seu repertório de conhecimento para ampliar os debates.
A literatura sobre educação, elaborada por e para profissionais da área, ajuda a lidar com essas questões. Dessa maneira, os educadores aprendem sobre inovação, tecnologia, metodologias e ciência por trás de seu trabalho, o que se reverte em novas práticas em sala.
Assim eles também ficam atualizados em relação às demandas sociais, econômicas e formativas da educação superior e dotados de ferramentas e estratégias embasadas em conhecimento para resolvê-las.
4. Pense no que o mercado busca
Os egressos do curso de graduação devem estar preparados para seus próximos desafios. Isso significa um repertório de conhecimento que deve ser usado no mercado de trabalho e, em alguns casos, na pós-graduação.
Ambas as jornadas, cada um com sua característica, exigem dos graduados a capacidade de sintetizar conhecimentos, aplicar exemplos e usar as competências desenvolvidas para solucionar problemas. O papel da indicação bibliográfica é dar a eles as ferramentas necessárias para ter sucesso nessa trajetória.
Hoje, profissionais recém-saídos do ensino superior devem ter uma ampla gama de habilidades, desde conhecimentos teóricos até as chamadas soft skills – habilidades socioemocionais necessárias para a vida.
Por exemplo, um aluno recém-formado em uma graduação de Administração deve ter não só conhecimento técnico, mas também habilidades como organização, autogestão, colaboração com equipes e agilidade.
Já um egresso do curso de Pedagogia deve, durante sua jornada, desenvolver habilidades de empatia e solidariedade, pensando em seu futuro e na carreira que lida diretamente com crianças em fase de desenvolvimento e com maturidade ainda frágil.
É claro que as habilidades socioemocionais fazem parte de todas as carreiras. Um profissional empático, que trabalha bem em equipe, que sabe lidar com novos desafios, que está disposto a dedicar tempo para aprender e que sabe escutar, por exemplo, é um profissional mais preparado e agradável de se ter na equipe.
Para desenvolver essas habilidades, a leitura surge como um espelho: é por meio dela que os estudantes enxergam sua vivência, seu papel na sociedade e na área escolhida e o que desejam mudar.
Aqui, as indicações bibliográficas devem ser aliadas a esse perfil questionador e usar as disciplinas como ponto de partida para aprofundar os assuntos que o mercado exige para futuros profissionais.
5. Digitalize a bibliografia
As indicações bibliográficas não terminam na lista de leituras do primeiro dia de aulas. Para melhorar a experiência do aluno e do professor, é preciso facilitar o acesso às informações e aos livros.
A biblioteca digital é uma ferramenta para a democratização do conteúdo. Se tornaram recursos cada vez mais populares nas IES pela facilidade de gestão e manutenção dos títulos, além de ampliar o acesso ao conteúdo por parte do corpo docente e discente.
Nas bibliotecas digitais, os livros exigidos e sugeridos aos alunos de graduação ficam disponíveis em formatos digitais. Isso minimiza problemas como falta de espaço, tempo de espera para empréstimo de exemplares e perdas.
Os alunos, mesmo a distância, podem acessar e revisitar os conteúdos vistos para potencializar seus estudos e até encontrar rapidamente as referências. Já para a gestão, a versão digital da biblioteca acadêmica também traz facilidades: a catalogação dos exemplares fica clara e as atualizações são constantes.
Outro ponto importante é que, assim como nas bibliotecas físicas, os livros são indexados de acordo com as temáticas abordadas. Nesse caso, no lugar de uma estante, a página inicial da plataforma oferece uma ferramenta de busca para que o usuário encontre aquilo que está procurando.
Vantagens para a IES
Para IES com grande quantidade de alunos, a digitalização da biblioteca é fundamental: assim, todos terão acesso de uma só vez ao conteúdo, evitando longas esperas.
Na avaliação do MEC, as instituições de ensino que informatizam o catálogo da biblioteca recebem resultados melhores: esse é, inclusive, um critério determinante para a obtenção do conceito 5, nota máxima que destaca a IES.
Para os cursos que oferecem a opção de ensino a distância, pode ser mais difícil os alunos acessarem o conteúdo remotamente. Aqui, as bibliotecas digitais têm um papel redobrado: não importa o dispositivo e a localização do aluno, ele terá acesso aos livros essenciais para seus estudos.
Assim, esses fatores serão levados em conta pelo público e contribuirão na hora da captação de novos alunos.
Vantagens para a comunidade acadêmica
Em cursos com alta demanda de leitura, como é o caso do curso de Direito, os alunos podem ficar desanimados com os custos de adquirir os livros e manter o conhecimento em dia. Além disso, a necessidade de ter múltiplas obras para todos os alunos gera custos enormes para a instituição.
Se os alunos podem ter, em seus próprios dispositivos, acesso aos conteúdos essenciais para sua formação, eles terão mais engajamento e poderão adquirir os conhecimentos necessários para as disciplinas e seu futuro profissional.
Além disso, a digitalização permite a atualização constante, o que contribui para a multidisciplinaridade dos cursos e abre espaço para debates entre perspectivas e vivências.
O papel das indicações bibliográficas na formação para a sociedade
De acordo com a Agenda 2030, projeto da ONU para uma sociedade mais sustentável, um dos pontos a ser frisado é a educação de qualidade em todos os segmentos, em todos os lugares do mundo.
Para isso, a meta 4.4 prevê “até 2030, aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo.”
No ensino superior, então, as indicações bibliográficas de fácil acesso e com ampla gama de conteúdos são fundamentais. São elas que transformam o ensino em uma metodologia mais voltada para os desafios contemporâneos e preparam os profissionais para lidar com eles.
O incentivo à leitura – não somente os livros obrigatórios, mas autores que tragam mais debates para a sala de aula e repertório para pesquisas – tem, no ensino superior, o papel de reinventar a missão educacional da instituição e, por isso, é uma parte essencial de qualquer curso.
Por isso, os coordenadores e gestores devem estar sempre atentos às escolhas e às atualizações necessárias que tornam essa realidade mais próxima dos alunos e contemple as necessidades da IES.
Esperamos ter te ajudado com dicas para o desenvolvimento da indicação bibliográfica de seus cursos. Para colocá-las em prática, aproveite para conferir o nosso artigo sobre como escolher uma plataforma de biblioteca digital!