O título do texto pode ser considerado uma novidade, porém, carrega inúmeros significados. Primeiro, a resposta à pergunta: Sim, todas as instituições de ensino superior (IES) possuem inteligência educacional!
No entanto, compreender e gerir na prática o termo não é tão simples como a sua apresentação. A inteligência educacional é um termo generalista, abrange a inteligência pedagógica e envolve critérios e complexidades práticas acerca de dados, informações e conhecimentos.
Nos últimos 20 anos, as diversas transformações no mercado, as novas metodologias de ensino, as atualizações nas políticas educacionais, novas regulamentações, novas diretrizes e a cultura adaptativa a diversos cenários mudaram as perspectivas e expectativas das IES. A exemplo da pandemia do novo coronavírus em 2020, compreender a inteligência educacional é uma obrigação na gestão organizacional das IES.
O que é inteligência educacional?
O termo inteligência, conforme o dicionário LARROUSE (2005), significa um conjunto de funções mentais que tem por objeto o conhecimento conceitual e racional; entendimento; capacidade de escolher entre diversas alternativas, de se adaptar a diferentes situações; julgar; discernir.
Qual é a sua importância?
A compreensão da inteligência educacional é necessária a todas as IES porque influencia o que ela é na teoria e na prática. Em simples análise, é possível conhecer o seu diferencial, as suas metodologias escolhidas, o perfil dos alunos, os recursos humanos em nível pedagógico e administrativo, a cultura institucional, o ambiente organizacional e a sua função social diante dos princípios educacionais.
Como é gratificante ter conhecimento via leitura do Projeto Pedagógico Institucional (PPI), Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDI) e dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs). Todavia, a descrição nos instrumentos citados pode ser bem diferente na prática, dificultando o trabalho do avaliador ou interessado na compreensão da inteligência educacional da IES.
Como colocar em prática?
Aliar teorias e práticas de gestão educacional não é uma tarefa fácil para as IES, principalmente no atual setor econômico e com as diversas transformações sociais e mercadológicas.
Avaliar a inteligência educacional é um desafio. Entender como os elementos, dimensões e os recursos humanos estratégicos, gerenciais e operacionais atuam nas IES merece tempo e atenção. Inúmeros dados internos e externos, informações sobre processos setoriais e conhecimento do serviço educacional que é prestado não pode ser mensurado apenas em um projeto ou análises estatísticas que identificam só problemas a serem resolvidos. Existe uma inteligência pedagógica sensível, real e com avaliação positiva que deve ser analisada e tratada inicialmente com muito profissionalismo.
Ao longo dos últimos cinco anos presenciei diversas implantações de soluções educacionais terceirizadas, desenvolvimento de novos processos e tecnologias, treinamentos didáticos-pedagógicos, pesquisas educacionais e metodologias de ensino digitais (EaD) sem a devida atenção à inteligência educacional da IES.
O resultado foi catastrófico e ineficiente, fora o custo econômico operacional investido nos diversos projetos e ações estratégicas. Por outro lado, em alguns casos, os resultados negativos promoveram mudanças e adaptações significativas que influenciaram a inteligência educacional das IES e, certamente, contribuíram para a abertura de novas possibilidades, novas posturas e a conversão em resultados positivos.
Conhecer o que as IES são na teoria e na prática é uma virtude. Antes de tomar qualquer ação para implantação de soluções, desenvolvimento e aplicações de novos projetos educacionais é necessário o autoconhecimento da sua IES diante suas potencialidades e complexidades.
Do que adianta contratar bibliotecas virtuais e sistemas de informação para fins acadêmicos, se não há treinamento contínuo e endomarketing para alunos e funcionários no manejo, conhecimento e adaptação às novidades? Funciona de forma adequada a implantação de ambientes virtuais de aprendizagem e ferramentas didáticas sem treinamento contínuo dos docentes? É possível desenvolver uma inteligência de mercado (BI) sem racionalizar uma metodologia na interpretação dos dados e informações para a tomada de decisão institucional na captação de alunos?
As experiências e possíveis questionamentos apresentados merecem atenção, e acima de tudo, o conhecimento da inteligência educacional da sua IES antes de qualquer ação transformadora ou empreendedora.
Preparar previamente a IES para mudanças setoriais, aplicação de metodologias (ágeis ou cascata) na gestão de custos e TI, bem como no investimento em qualificação pedagógica dos docentes são ótimos exemplos de ações mediadas com o conhecimento da inteligência educacional da IES, antes da mudança e implantação de soluções a curto, médio e longo prazo de forma definitiva.
Por fim, só depende da própria IES o conhecimento e desenvolvimento da sua inteligência pedagógica. No mais, é difícil ouvir depois de aplicadas as mudanças e transformações organizacionais a frase: “Mas nós sempre fizemos assim!”