O júri simulado é uma estratégia de ensino adotada por muitos cursos de graduação em Direito. Por meio dele, os alunos são incentivados a pesquisar sobre um tema, refletir criticamente sobre ele, organizar ideias e expressá-las de uma maneira clara e estruturada.
Em um contexto de avanço das tecnologias digitais na educação, cada vez mais as Instituições de Educação Superior (IES) têm repensado o modelo tradicional de ensino. A relação entre estudante e professor e os processos de ensino e aprendizagem estão no centro do debate.
Afinal, hoje, todos são bombardeados por uma grande quantidade de informações, oriundas da internet. Os alunos conseguem ter respostas às suas questões, com uma rápida pesquisa na rede. Assim, manter o engajamento deles nas aulas constitui um desafio.
Neste quadro, práticas como a do júri simulado são interessantes como uma forma de reformular as aulas tradicionais, promovendo a autonomia e o engajamento dos graduandos do curso de Direito. Elas se inserem em um panorama mais amplo, das chamadas metodologias ativas.
Neste artigo, você entenderá o que é um júri simulado, quais são seus objetivos e como eles podem ser estruturados dentro de sala de aula. Além disso, compreenderá como essa prática dialoga com as metodologias ativas, e as vantagens de seu uso. Boa leitura!
O que é um júri simulado?
O júri simulado é uma estratégia de ensino utilizada para incentivar a reflexão sobre assuntos polêmicos ou polarizadores. Também para habituar os estudantes de Direito com o modelo de julgamento penal.
Para isso, ele se utiliza da mesma estrutura de um tribunal do júri. Os alunos são divididos entre acusação, juiz, testemunhas, defesa e jurados. Eles devem desempenhar de maneira precisa cada uma dessas funções, como em um júri de verdade.
Antes do dia do júri simulado, o professor utiliza o espaço das aulas para preparar os alunos, discutindo o caso a ser julgado. Ele pode trabalhar com a acusação e a defesa separadamente, incentivando que os estudantes estabeleçam estratégias argumentativas.
Dessa forma, o professor vai guiando os alunos ao longo do processo. A sala de aula torna-se um espaço de trocas e construção conjunta.
Qual é o objetivo de um júri simulado?
Na lista abaixo, confira os objetivos do júri simulado, e como eles são trabalhados nesta dinâmica:
- Promover a reflexão crítica sobre um tema;
- Aprimorar a capacidade argumentativa dos alunos;
- Trabalhar em grupo, organizar ideias e resolver problemas;
- Desenvolver a habilidade de expressão verbal;
- Apreender conteúdos importantes da disciplina.
Entenda cada objetivo em detalhes:
1. Promover a reflexão crítica sobre um tema
A fim de se preparar para o júri simulado, os alunos terão de coletar o maior número possível de informações sobre o assunto. Também refletir de maneira crítica sobre tudo que leram.
Isto é, como aqueles dados podem compor uma certa narrativa de defesa ou acusação? Como os jurados receberão aquelas informações?
Nesta primeira etapa, o professor trabalha com os estudantes uma série de habilidades. Como, por exemplo, as capacidades de pesquisa, interpretação e reflexão crítica.
2. Aprimorar a capacidade argumentativa dos alunos
A defesa e a acusação devem convencer o júri de que o seu ponto de vista é o correto. Para isso, elas têm de construir uma boa argumentação, elencando fatos em uma sequência lógico-progressiva.
A partir do caso apresentado, os estudantes devem, em grupo, estabelecer uma estratégia de argumentação, e redigi-la. No dia da dinâmica, devem expressá-la de maneira clara e convincente.
3. Trabalhar em grupo, organizar ideias e resolver problemas
Em seu dia a dia profissional, os advogados terão de trabalhar com equipes, sabendo dialogar e defender seu ponto de vista. Ademais, eles devem ter uma boa capacidade de resolução de problemas, muitas vezes, respondendo de maneira ágil às demandas que aparecem.
Desenvolver todas estas habilidades é um dos objetivos do júri simulado. O professor aparece como um guia para os alunos, a quem eles podem recorrer.
Mas, na maior parte do tempo, terão de trabalhar entre si, dialogando, organizando as ideias e lidando com os problemas que aparecem. É exatamente uma simulação do seu cotidiano profissional.
4. Desenvolver a habilidade de expressão verbal
Outro objetivo importante do júri simulado é aprimorar a capacidade de comunicação verbal dos estudantes. Ou seja, como eles expressam suas ideias de uma maneira falada. Afinal, no tribunal, acusação e defesa têm de convencer os jurados por meio da fala, da exposição das suas ideias.
Ao longo do processo de preparação do júri simulado, os alunos conseguem identificar as melhores linhas de exposição e quais são suas dificuldades.
Trabalham no desenvolvimento de um texto, que servirá como base para a sua fala. Também conseguem trabalhar nos seus problemas, com ajuda dos colegas e do professor.
5. Apreender conteúdos importantes da disciplina
Por fim, o professor pode utilizar da estrutura e do processo de preparação do júri simulado para expor aspectos importantes da sua disciplina.
A aula deixa de ser organizada de uma maneira puramente expositiva. O professor constrói o conhecimento a partir da troca com os alunos — por meio das questões destes, e das práticas do júri.
Quais são as partes de um júri simulado?
O júri simulado é composto de maneira semelhante a um tribunal do júri. Assim, suas partes são:
- Juiz;
- Réu;
- Acusação (promotores);
- Defesa (advogados de defesa);
- Testemunhas;
- Jurados.
Compreendendo o papel de cada uma dessas partes, você saberá como organizar um júri simulado na sua IES. Confira:
1. Juiz
No júri simulado, o juiz tem a função de organizar o julgamento, fazendo as intervenções necessárias para que ele corra de maneira adequada. Isto é, garantir que cada uma das partes possa fazer suas exposições, dentro daquilo que é acordado.
Além disso, caso os jurados decidam que o réu é culpado, é o juiz que estipula a pena. O professor pode decidir se um aluno ocupará a posição de juiz, ou um outro docente.
2. Réu
O acusado ou réu é o sujeito passivo da relação processual. Ou seja, aquele cujos atos são objeto da discussão do júri.
No júri simulado, é opcional a figura do acusado. O professor pode considerar mais produtivo realocar os alunos apenas em defesa e acusação, pois elas terão de estabelecer as estratégias para o julgamento.
Em outros casos, a discussão proposta pelo professor é sobre um assunto específico, não relacionado aos atos de uma pessoa. Por consequência, a figura dele torna-se dispensável.
3. Acusação (promotores)
Os promotores coletam informações, elencam provas e estabelecem uma argumentação sólida, a fim de condenar o réu. No júri simulado, um grupo de alunos fica responsável por construir a acusação.
Assim, fazem o necessário para convencer o júri de que o réu é culpado. No dia do julgamento, os estudantes podem se revezar no momento da fala, para que vários tenham a oportunidade de trabalhar a expressão verbal.
4. Defesa (advogados de defesa)
O advogado de defesa é o sujeito processual com qualificação técnica e jurídica, com a ajuda do qual o réu exerce sua defesa. Ou seja, ele tenta convencer o júri da inocência do acusado.
No júri simulado, trabalha-se com um grupo de advogados de defesa. Eles também coletam informações, elencam provas e redigem uma argumentação, a fim de demonstrar que o acusado é inocente.
A dinâmica é parecida com a da acusação, mudando apenas o objetivo final — enquanto a primeira quer persuadir os jurados de que o réu é culpado, a segunda quer demonstrar que ele é inocente. Vários alunos também podem falar, dividindo as tarefas de defesa.
5. Testemunhas
As testemunhas são pessoas chamadas a juízo, a fim de prestar informações sobre os fatos relacionados à infração. Elas devem assumir o compromisso de dizer a verdade.
Dessa forma, testemunhas específicas podem ser questionadas, tanto pela defesa quanto pela acusação, com o objetivo de construir suas linhas argumentativas.
Elas são uma parte importante do júri simulado. Afinal, fazem com que os estudantes pensem em como elaborar questionamentos e como inseri-los em sua lógica de argumentação.
6. Jurados
Os jurados devem analisar tudo o que foi exposto e chegar a um veredicto, decidindo se o réu é culpado ou não.
No júri simulado, o professor pode escolher como trabalhar com os jurados. Uma possibilidade é pedir que, depois do tribunal do júri, cada aluno elabore um texto sintetizando os principais argumentos da defesa e acusação, e o que motivou a sua decisão.
Como as atividades de acusação e defesa demandam mais dos estudantes, o professor pode também optar por colocar jurados “externos”, utilizando alunos de outras turmas ou professores.
Júri simulado como metodologia ativa
As metodologias ativas são aquelas que colocam o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Nesta proposta, os estudantes são vistos como parte ativa, integrante e central do aprendizado.
Já os professores trabalham como guias ou facilitadores deste processo. Assim, a sala de aula é um espaço de trocas, em que o aprendizado é construído colaborativamente.
Abandona-se o modelo tradicional de ensino, segundo o qual o professor é detentor do conhecimento e deve “depositá-lo” no aluno, que tem um papel passivo. Por isso, as metodologias ativas fazem parte de um contexto maior de metodologias de ensino inovadoras.
Por meio das metodologias ativas, o estudante é incentivado a questionar, pesquisar e trilhar o seu próprio caminho. Para isso, são utilizadas diversas ferramentas de ensino, entre elas, as tecnologias digitais.
Dessa forma, o júri simulado se enquadra neste contexto de metodologias ativas. Afinal, ao longo da preparação, os estudantes devem:
- Fazer uma pesquisa;
- Estabelecer estratégias argumentativas;
- Organizar ideias;
- Trabalhar em grupo;
- Desenvolver expressão verbal;
- Resolver problemas.
Portanto, as tarefas que compõem a dinâmica do júri simulado se enquadram nas inovações metodológicas e são agentes do processo de aprendizagem, construindo um modo próprio de aprendizagem ativa.
Quais as vantagens do júri simulado?
A prática do júri simulado nas aulas de Direito traz uma série de vantagens para o processo de aprendizagem dos estudantes, como:
- Aumento do engajamento e da motivação;
- Maior autonomia;
- Senso de pertencimento;
- Capacidade de resolução de problemas;
- Aumento da confiança; entre outros.
Conheça detalhes de cada benefício:
Aumento do engajamento e da motivação
Por meio do júri simulado, o estudante adquire um papel ativo dentro da sala de aula. Todo o seu trabalho está atrelado a uma prática, de modo que ele vai participando das atividades de pesquisa, leitura e redação, como consequência da dinâmica do júri.
Desse modo, seu engajamento e sua motivação tendem a aumentar. As aulas deixam de ser um espaço de escuta passiva, e passam a ser um ambiente de construção conjunta, com atividades nas quais ele se engaja.
Por fim, contar com alunos motivados e engajados também é um benefício para o trabalho do professor.
Maior autonomia
O próprio graduando de Direito vai trilhando o seu caminho para se preparar para o júri simulado. Ele não fica na dependência do professor, para que este indique uma rota, ou passe o conhecimento para ele.
Esta postura tem como consequência a promoção da autonomia do aluno. Eles mesmos têm controle sobre seu próprio aprendizado, identificando as lacunas e preenchendo-as por meio de pesquisa, troca com os colegas e com os professores.
Neste contexto, as tecnologias digitais também são excelentes aliadas. Bibliotecas digitais, por exemplo, são uma ótima fonte de consulta. Também ambientes virtuais de aprendizagem, que permitem uma troca entre professores e alunos.
Senso de pertencimento
Os alunos trabalham como uma equipe, a fim de construir a defesa ou a acusação. Isso estimula a interação entre eles e também a integração.
A partir do projeto em grupo, eles podem estabelecer novas relações, fazer novas amizades, o que estimula o senso de pertencimento à IES.
Afinal, estabelecer relações significativas de amizade é um importante fator para que nos sintamos à vontade no ambiente educacional, considerando-o seguro.
Capacidade de resolução de problemas
Ao longo da tarefa, é provável que diversos problemas aparecerão. A organização da acusação e da defesa de um júri são tarefas complexas, que testam várias habilidades dos estudantes.
Eles vão se deparar com problemas e, coletivamente, criar soluções para eles. A resolução de problemas envolve uma capacidade de entender as demandas, e buscar soluções adequadas a elas.
Através da Aprendizagem Baseada em Problemas, o aluno trabalha várias capacidades: desde reflexão crítica e criatividade até competências socioemocionais.
Por consequência, o estudante poderá lidar com os problemas reais de uma maneira mais tranquila, afinal, já tem uma certa bagagem de como se aproximar deles e buscar soluções.
Aumento da confiança
O aluno, ao se enxergar como protagonista do processo de aprendizagem, e também como capaz de resolver os problemas da vida profissional, torna-se mais confiante.
Isso contribui para que ele se veja como um indivíduo com recursos para lidar com os desafios profissionais. E também para saber a que recorrer nos momentos de dificuldade.
Pois, ao longo do processo de aprendizagem, ele enfrentou problemas, e testou soluções até encontrar a mais adequada. Assim, pode usar esta mesma rota em seu cotidiano profissional.
Esperamos que você tenha gostado deste artigo sobre júri simulado. Que tal também conferir este post sobre como fazer aulas interativas no ensino superior?