A inteligência educacional depende do processo de ensino-aprendizagem como fundamento prático. O conhecimento cientifico depende da educação e a integração de forma construtiva ou mediada pela associação do viés pedagógico.
No ensino superior, o professor, protagonista essencial no processo de ensino-aprendizagem, evoluiu em competências e habilidades nas últimas décadas. Da evolução da relação professor e aluno aliada às diretrizes do Ministério da Educação (MEC), pode-se observar três aspectos pedagógicos distintos aplicados via sistema de ensino.
O primeiro aspecto pedagógico corresponde à centralidade da figura do professor como detentor ou proprietário do conhecimento. Da sua pessoa partia e fundava a fonte da informação e o conhecimento. A literatura era limitada em número de obras físicas (livros) ou mesmo escassa, dependendo do conteúdo direcionado. O ensino-aprendizado possuía apenas um ponto focal, o professor, sujeito ativo e, o aluno, sujeito passivo do processo.
O segundo aspecto pedagógico remete à evolução do acesso à informação com a literatura disponível em bibliotecas e a internet. O professor mantém-se na centralidade da relação pedagógica, porém, o mesmo não é mais compreendido como detentor da informação e conhecimento, mas um agente direcionador do referencial bibliográfico disponível para o processo de ensino-aprendizagem. Nesse aspecto, o ponto focal é o professor, sujeito ativo e, o aluno, sujeito passivo e/ou quase ativo no processo de ensino-aprendizagem.
O terceiro aspecto pedagógico compreende a incidência das novas tecnologias aplicadas ao processo de ensino-aprendizagem e as novas metodologias. O professor não é proprietário e nem direcionador da informação e conhecimento, mas um administrador. Em outras palavras, atua como autenticador ou validador do conhecimento adquirido ou apropriado pelo aluno, ativo no processo por meio da autoaprendizagem e das dinâmicas do planejamento pedagógico gerido pelo professor. O ponto focal é o aluno, sujeito ativo para o aprendizado e, em seguida, o professor, sujeito ativo da gestão da informação e do conhecimento.
Assim, dentre os aspectos pedagógicos acima descritos, quais podem ser compreendidos como ensino tradicional?
Para começar a responder à pergunta, devemos entender que a palavra “tradicional” se remete a todos os hábitos, crenças, comportamentos e costumes praticados de geração a geração. O ensino tradicional não foge dessa análise.
Importante é também saber que todos os sistemas pedagógicos que se tornaram tradicionais uma vez foram inovadores e/ou experimentais em algum momento da história. Por isso, não é meu objetivo desconstruir e nem criticar de forma negativa o ensino tradicional, mas ratificar que todo processo de ensino-aprendizagem que se consolida no tempo e na relação professor-aluno se torna tradicional.
Passando agora à pergunta anteriormente dirigida, tem-se duas respostas distintas na atualidade:
- Para a educação presencial: entende-se hoje que o primeiro e segundo aspectos pedagógicos estão na esfera do ensino tradicional, sendo amplamente praticados na rotina educacional, pois a formação tradicional docente foi construída e mediada pelos aspectos pedagógicos citados. O terceiro aspecto pedagógico está em fase de acepção e consolidação e, em muitos casos, alia-se a processos inovadores e experimentais;
- Para a educação a distância: atualmente o terceiro aspecto está vinculado ao ensino tradicional pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação em ambientes virtuais de aprendizagem. O primeiro e segundo aspectos pedagógicos participaram de forma pontual na história da EaD (ensino via correspondência, rádio e televisão), porém, não se consolidaram como o terceiro aspecto, principalmente hoje na era digital (4ª Revolução Industrial).
A educação a distância é uma realidade e está em progressiva expansão, a tal ponto de influenciar diretamente a educação presencial atualmente. Todavia, nunca estará imune dos processos de ensino-aprendizagem que são (ou serão) consolidados através do tempo.
Na prática, a EaD quebrou paradigmas, rompeu barreiras para o acesso à educação e remodelou critérios de gestão do MEC, além de desenvolver novas carreiras educacionais e constantes inovações tecnológicas no processo de ensino-aprendizagem.
Por outro lado, grande parte das instituições de ensino superior adotam o ensino tradicional na EaD diante do seguinte aspecto pedagógico: autoaprendizado do aluno pelo plano ou guia didático dirigido; disponibilidade de aulas gravadas pelo professor titular; disponibilidade de livro didático ou texto de apoio; processo avaliativo via questões objetivas e/ou discursivas; e mediação pontual da tutoria.
O ensino tradicional na EaD já é uma realidade, mesmo apresentando pontos de atenção, tais como: a adaptação de determinado perfil de aluno (autoaprendizado contínuo), número expressivo de evasão e desafios para obtenção de notas satisfatórias no Enade. De toda forma, a ensino tradicional na EaD não pode ser rotulado como bom ou ruim porque compete à inteligência educacional das IES na geração de indicadores de qualidade satisfatórios no processo de ensino-aprendizagem.
Por fim, a EaD não é uma novidade, já carrega uma história pedagógica como a educação presencial. Possui também sistema de ensino tradicional e está aberta a novas metodologias inovadoras e experimentais que poderão ser consolidadas futuramente. No entanto, fica a reflexão que tudo o que é tradicional desenvolve vícios, cria raízes positivas e negativas, bem como pode dificultar novas oportunidades, novas práticas e novos hábitos.