Nos últimos anos a modalidade de ensino a distância recebeu mais atenção do que nunca. As matrículas em cursos do tipo já estavam em curva ascendente – houve um aumento de 45% em dois anos de acordo com o último Censo da Educação Superior (INEP) – e com o contexto pandêmico, o que caminhava a passos lentos, ganhou força e velocidade. O ensino remoto trouxe o alerta às instituições de educação superior que ainda não estavam preparadas para atender à demanda. Aquelas que já possuíam um sistema de gestão da EaD desenvolvido, saíram na frente.
A modalidade é uma possibilidade de ensino-aprendizagem que pode ocorrer de forma síncrona ou assíncrona, com estudantes e docentes geograficamente distantes, mediados por tecnologia. Por apresentar particularidades, precisa ser pensada e planejada nos detalhes para conseguir bons resultados pedagógicos. Por esse motivo, a produção de conteúdo torna-se central.
Desafios
As primeiras ondas da educação a distância enfrentavam limitadores tecnológicos e de infraestrutura. Nos anos 2000, por exemplo, o telepresencial ajudou a levar videoaulas a lugares remotos, sem internet. Tivemos avanços acelerados na área de educação e nos recursos tecnológicos disponíveis, com fibra óptica, dispositivos móveis, aplicativos diversos, inteligência artificial e realidade aumentada.
Porém, ainda predomina na EaD modelos de curso que contam apenas com conteúdo escrito, questões múltipla-escolha e tutoriais simples. O fator financeiro pesa, já que pode sim ser custoso produzir conteúdo de qualidade. Mas com uma infinidade de possibilidades gratuitas, é possível entregar mais com menos em termos de material para cursos a distância.
Nesse sentido, esbarramos em outro desafio: a formação docente. Muitos professores ainda enfrentam dificuldades para preparar aulas e conteúdos. Nas IES que não contam com especialistas ou departamentos de educação a distância, por vezes a produção do conteúdo fica à cargo do docente, que se não estiver preparado para esse tipo de experiência de ensino, poderá deixar de aproveitar as possibilidades de criar materiais interessantes e adequados.
A falta de literacia virtual e letramento digital são dois fatores limitantes para o planejamento de uma disciplina on-line que conte com os melhores recursos disponíveis. Imagine que um professor que não está acostumado nem a participar de chamadas de vídeo, poderá ter dificuldades para gravar uma videoaula sozinho de sua casa. Com a falta da habilidade, para o aluno, vai o resumo em PDF mesmo.
Por fim, há o desafio do planejamento pedagógico que deve preceder a produção de conteúdo para EaD. Muitas instituições já contam com designers instrucionais, capazes de fazerem desenhos de cursos a distância que contem com os formatos de conteúdo mais adequados, que suportem as metodologias envolvidas, oferecendo uma experiência de aprendizagem bem sucedida. Quando não há esse tipo de preparação, o risco vai além de produzir conteúdos pouco interessantes, mas de investir mais do que o necessário em materiais que não serão relevantes nem para os estudantes, nem para os docentes.
A superação
Os pilares da produção de conteúdo educacional são pedagógicos, comunicacionais, tecnológicos e organizacionais. Ou seja, tudo começa em um bom projeto pedagógico de curso, que envolva bases teóricas sólidas e métodos assertivos, sempre levando em consideração as necessidades dos estudantes e as diretrizes curriculares. Os canais de comunicação garantem a conexão entre docente-turma e turma-docente, muitas vezes contando com um tutor qualificado para uma melhor mediação. Por fim, os recursos tecnológicos, financeiros e organizacionais completam a lista de ingredientes importantes para esse planejamento.
Além disso, especialistas em gestão de projetos têm encorpado cada vez mais as equipes multidisciplinares responsáveis pela produção de conteúdo para EaD, garantindo a eficiência dos processos e atingimento dos objetivos. Como já foi dito, o designer instrucional é quem dá vida a uma matriz de curso, imaginando quais formatos de conteúdo podem ser mais adequados, em que ordem e seguindo quais padrões. Por fim, este grande planejamento integrado deve ser o mapa que guia a produção de conteúdo.
A produção de mídias pode envolver o próprio corpo docente, terceiros contratados pela própria instituição de ensino ou até mesmo empresas especializadas (como a Saraiva Educação). Tudo vai depender das variáveis envolvidas neste plano. Ir pelo caminho mais simples e menos custoso é possível: a entrega de videoaulas de qualidade gravadas remotamente pelo computador ou celular já é realidade. Aplicações do Google Suite permitem o desenvolvimento de atividades colaborativas das mais diversas. Bancos de objetos de aprendizagem totalmente gratuitos são um excelente caminho, e o próprio professor pode fazer a curadoria em pesquisas pela internet.
Por fim: entender profundamente quem é o aluno. Que tipo de infraestrutura ele dispõe em sua casa? Quantos anos têm? Vai acessar o curso pelo computador ou pelo celular? Ele prefere conteúdo escrito ou vídeo? Implementar esse tipo de pesquisa pode facilitar as decisões que envolvem conteúdo e garantir que os estudantes estarão sempre “presentes” ainda que virtualmente.
Sobre este artigo
Para quem chega por aqui agora, aproveito a oportunidade para me apresentar: meu nome é Isabella Sanchez, sou especialista em Educação e Tecnologia aplicada à Educação pela Ufscar, com ênfase em Gestão da Educação a Distância e Produção e Uso de Tecnologia na Educação. Também sou formada em Letras pela USP e Comunicação Social (Jornalismo) pela Faculdade Cásper Líbero.
Atualmente gerencio os times de conteúdo das soluções digitais da Saraiva Educação e dos conteúdos de doutrina do selo editorial Saraiva Jur. Produzimos materiais pedagógicos para instituições de ensino superior e livros de Direito para estudantes, professores e profissionais jurídicos. Saiba mais aqui!
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