O elevado número de alunos com mensalidades atrasadas tem preocupado o setor educacional. Menos dinheiro em caixa gera desequilíbrio nas previsões orçamentárias, dificuldade em honrar compromissos financeiros e pode levar as instituições até mesmo à quebra, se essa situação não for controlada.
Como manter a inadimplência na instituição de ensino superior num nível baixo? Que decisões precisam ser tomadas para uma gestão de cobranças eficiente?
Um dos principais vilões para o aumento do calote nas mensalidades continua sendo a crise econômica e o desemprego. Estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), de abril de 2019, sobre o perfil dos inadimplentes em geral no país revelou que aproximadamente 62,6 milhões de pessoas estão endividadas, sendo que mais da metade dos inadimplentes estão na faixa entre 30 e 39 anos.
De acordo com o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), 8,93% das mensalidades em 2017 tiveram mais de 90 dias de atrasado no pagamento. O setor de educação superior privada permanece o mais afetado, estando acima da inadimplência total das pessoas físicas, que registrou 5,25% no mesmo período.
Outro agravante foi o fato de o Governo Federal ter imposto restrições ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). O modelo aplicado até abril de 2019 registrou a marca de 500 mil estudantes inadimplentes, com ônus bilionário exclusivo do governo. Em 2018, o número de alunos matriculados em cursos superiores por meio das linhas de crédito do FIES despencou: apenas 80,3 mil das 310 vagas foram preenchidas, o equivalente a 26% da meta. Ou seja, muito mais gente sem financiamento tendo que custear pelo menos parte da mensalidade.
Mas esse cenário não é exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde as universidades não costumam ser gratuitas, nem mesmo as públicas, a dívida estudantil chegou a US$ 1,6 trilhão de dólares em 2019. O Banco Central Americano (Federal Reserve) afirma que esse montante é devido por mais de 40 milhões de pessoas.
Novas regras do FIES
Um dos objetivos das novas regras do FIES, que entraram em vigor em 2018, é reduzir a inadimplência e garantir coparticipação das IES no aporte dos recursos financeiros. O fundo de financiamento foi estruturado em três modalidades (FIES 1, 2 e 3). Entenda como vai funcionar a seguir.
Fies 1
- sucede o modelo atual;
- destinado a estudantes com até três salários-mínimos de renda familiar per capita;
- taxa de juros real zero;
- os pagamentos deverão começar a ser feitos assim que o aluno se formar. Fim da carência de 18 meses;
- as IES são responsáveis por manter obrigatoriamente um fundo garantidor, com aportes proporcionais à sua taxa de inadimplência. A União poderá depositar até R$ 3 bilhões nesse fundo.
Fies 2
- nova modalidade;
- exclusivo para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a fim de reduzir a desigualdade;
- para estudantes com até cinco salários-mínimos de renda familiar de per capita;
- os recursos são provenientes de bancos regionais e de fundos constitucionais de financiamento dessas regiões — os contratos são gerenciados por esses bancos;
- taxas de juros utilizadas para empréstimos dos fundos regionais.
Fies 3
- nova modalidade;
- para estudantes com até cinco salários-mínimos de renda familiar de per capita;
- recursos disponibilizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — os contratos são gerenciados por bancos privados;
- abrange o país todo.
Prouni 2019
Estima-se que o Programa Universidade para Todos (Prouni) 2019 siga sem grandes alterações em relação ao ano anterior.
O Prouni dá bolsas de estudos integrais ou parciais de 50% em IES privadas. É exclusivo para quem não tem diploma de nível superior. Os valores são destinados a famílias com rendas entre um e três salários-mínimos por integrante.
Outras linhas de crédito estudantil
Além das linhas de crédito governamentais, existe o crédito universitário privado, concedido normalmente por bancos e empresas especializadas. Funciona como um empréstimo.
As taxas são mais altas que no FIES, por exemplo, mas a vantagem é que englobam cursos a distância e pós-graduação. O tipo de curso financiado depende dos critérios de parceria entre a empresa de crédito e a IES.
Gestão de adimplência eficiente
As mensalidades estão entre as principais fontes de recursos financeiros das IES particulares, tornando-se fator determinante à sua sobrevivência. Isso gera alta competitividade entre as instituições, e é necessária grande quantidade de alunos matriculados — adimplentes — para evitar problemas financeiros.
Por essa razão, a gestão global da IES deve estar empenhada em gerar uma sensação de pertencimento em toda a comunidade estudantil, incutindo tal cultura organizacional nos seus corpos docente e administrativo.
É preciso que a universidade constantemente reforce seus valores, de maneira a conquistar aluno e torná-lo importante para a universidade, de maneira que o índice de confiança na instituição se eleve.
Soma-se a isso um modelo de gestão estratégica de adimplência que compreenda a situação dos alunos inadimplentes e possibilite meios de esses estudantes se manterem em seus objetivos educacionais. Por consequência a evasão escolar é evitada.
Realizar uma gestão estratégica dos processos de cobrança garante maior dinamismo e gera velocidade nos resultados para a instituição. Trata-se de um modelo de atuação preventiva com ações permanentes de relacionamento que cuidam tanto dos alunos inadimplentes, para que quitem seus débitos, como também os adimplentes, a fim de que não contraiam pendências financeiras.
Para tanto, uma rede de ações administrativas e comunicacionais integradas deve ser estabelecida, com o auxílio de recursos humanos e tecnológicos. Destacam-se as seguintes:
- CRM (Costumer Relationship Management) para o acompanhamento de resultados e visão global de todo o processo;
- marketing direto com mensagens personalizadas em diferentes dispositivos (e-mail marketing, SMS, URA e WhatsApp);
- multimeios de comunicação;
- call center humanizado.
Dicas para reduzir a inadimplência
Além das inúmeras questões pessoais e socioeconômicas que levam à inadimplência, também é comum serem encontrados problemas administrativos nos setores financeiros das IES. Listamos aqui boas práticas que podem contribuir para melhor fluxo de caixa. Confira:
Facilite o recebimento da mensalidade
Possibilite que o aluno pague as parcelas por diferentes canais. Boletos aceitos em todos os bancos, pagamento na própria instituição, envio do código de pagamento via SMS são alternativas.
Crie programas de descontos para pagamento adiantado ou integral
Estipule diferentes datas de vencimento para o pagamento. Quanto mais cedo o aluno pagar a mensalidade, maior será o desconto. Estabeleça preços especiais para quem quiser pagar o valor integral do período cursado.
Utilize diferentes canais para avisar do vencimento
Use os recursos tecnológicos e dispositivos possíveis para avisar da data de vencimento da mensalidade (SMS, e-mail, WhatsApp, por exemplo).
Renegocie dívidas
Ofereça opções de negociação das mensalidades pendentes. Antes de realizar protesto, dê opções de pagamento dos valores atrasados. Parcelamento das parcelas, com assinatura de confissão da dívida são opções para reduzir a resistência ao pagamento.
Gere boletos automaticamente
Se o pagamento está atrasado, e o aluno precisa do boleto, gere-o de forma automática, já com juros e multas calculados. Utilize canais para informar que o novo boleto foi gerado.
Separe os alunos em grupos
Conheça o perfil socioeconômico dos alunos. Assim, é possível identificar quem paga as mensalidades sozinho ou depende dos pais e, ainda, os alunos que atrasam constantemente ou esporadicamente, entre outros perfis.
Utilize meios legais para evitar o prolongamento da dívida
Em último caso, inclua o nome do inadimplente no SPC ou Serasa. Às vezes, basta o aviso de negativação do nome para que o aluno pague o que deve. Além disso, esteja atento às leis que protegem as IES de manter alunos inadimplentes estudando na instituição.
Para evitar que o fluxo de caixa da sua instituição fique em desequilíbrio por conta de mensalidades em atraso, entenda um pouco mais sobre gestão de cobranças e inadimplência na instituição de ensino superior conhecendo estratégias de gestão acadêmica para melhorar seus resultados financeiros.