Pedidos de transferência de faculdade fazem parte da rotina das IES e constituem um direito do aluno previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Todavia, quando a porcentagem de migração aumenta muito, significa um problema de gestão a ser enfrentado com visão estratégica.
As razões para um pedido de transferência são múltiplas e resultam tanto de questões pessoais quanto de fatores acadêmicos, administrativos e estruturais. Pensando nisso, neste post vamos ajudar você, gestor, a identificar motivos que levam à transferência de faculdade e propor algumas medidas empreendedoras para ampliar a permanência dos estudantes até a conclusão dos cursos em que estão matriculados. Acompanhe!
Principais motivos para a transferência de faculdade
De acordo com o MEC (1996), transferências de curso ou IES caracterizam-se como uma das formas de evasão na educação superior. Nesse sentido, a problemática da migração estudantil também deve ser discutida estrategicamente com todos os envolvidos na IES, desde as áreas acadêmica e administrativo-financeira até os representantes de alunos (LOBO, 2012).
O MEC (1996) também afirma existirem três fatores básicos de evasão na educação superior, os quais coincidem com estudos de caso em IES privadas sobre solicitações de transferência. São eles:
- fatores internos às instituições (deficiências no projeto pedagógico e na qualidade do ensino, corpo docente desvalorizado e infraestrutura obsoleta para as atividades);
- fatores externos às instituições (concorrência no mercado, conjuntura econômica, dificuldade de atualização diante do cenário sociopolítico e tecnológico);
- fatores individuais dos estudantes (dificuldade de acompanhar os conteúdos, escolha precoce da carreira, desencanto com o curso escolhido, personalidade, dificuldades de adaptação à vida universitária, reprovações ou baixa frequência, desconhecimento da metodologia do curso, problemas financeiros, mobilidade).
Falha na escolha do curso
Na pesquisa “O valor do cliente como elemento de marketing para instituições de ensino superior” (FARIAS, GOMES e JÚNIOR, 2006), baseada em estudo de caso sobre transferências externas em uma IES privada de Fortaleza (CE), os autores observam que escolher equivocadamente o curso é um dos principais motivos para transferência.
Corroboram esse equívoco um corpo docente desqualificado e sem grandes vínculos interpessoais com os alunos, falta de orientação vocacional, frustração com as expectativas do curso, metodologias de ensino defasadas e segunda opção de carreira.
Dificuldades no aprendizado
As dificuldades no aprendizado são relativas tanto ao resultado de uma educação básica deficiente quanto a questões de metodologia. Soma-se ainda a predominância de disciplinas teóricas no currículo, nos períodos iniciais, sem interação com a prática. Há, ainda, uma grade curricular inflexível ou desatualizada — fatores igualmente evidenciados por pesquisa sobre evasão do curso de Ciências Contábeis de uma IES mineira.
Circunstâncias socioeconômicas
Políticas de descontos desfavoráveis e valores altos nas mensalidades também podem resultar em pedidos de transferência, especialmente se os estudantes não tiverem renda robusta. Não raro, universitários necessitam trabalhar para custear os estudos, e os ajustes das mensalidades não acompanham os salariais.
Somam-se, ainda, valores com materiais didáticos e de apoio, moradia, alimentação. E há acadêmicos que desistem de estudar na instituição por não terem condições de arcar com gastos de transporte, ou não terem tempo para as viagens rotineiras (KAFURI e RAMON, 1985).
Incômodo com a infraestrutura
Banheiros quebrados, salas de aula malcuidadas, laboratórios sem manutenção e com falta de insumos ou equipamentos para as atividades, biblioteca desatualizada são alguns dos grandes problemas sobre infraestrutura (MEC/ SESU, 1997). Sem uma infraestrutura impecável, a IES desmotiva os alunos, os professores e os funcionários e pode registrar ampla evasão estudantil, além prejudicar a avaliação institucional perante os indicadores do MEC.
Atendimento ruim ou demasiadamente burocrático
Um funcionário que trabalha insatisfeito certamente oferecerá atendimento de baixa qualidade. Especialmente no atual cenário, em que o comportamento do consumidor é imediatista, movido por ampla informação advinda do acesso irrestrito à internet, essa deve ser uma preocupação constante das IES.
Por muito pouco, um estudante — independentemente do grau de independência financeira e idade — pode simplesmente migrar para outra instituição se sua experiência dentro da faculdade não for de alto nível.
O que fazer diante dessa situação?
Para aumentar as taxas de retenção de alunos, a IES precisa desenvolver estratégias de gestão que despertem no estudante o engajamento com a instituição, a fim de que ele enxergue na faculdade valores indispensáveis à sua formação pessoal e profissional. Para tanto, algumas atitudes são primordiais. Veja a seguir.
Conhecimento das expectativas dos alunos
É importante conhecer as expectativas dos alunos com relação à IES. Para isso, existem diversos métodos e tecnologias que permitem a compilação dos dados de interesse da instituição.
Mensurados esses dados, é importante separar os estudantes por similaridade de perfis. Por exemplo: calouros, primeira graduação, formandos, segunda graduação. A partir de então, desenvolvem-se políticas de relacionamento voltadas a cada grupo, conforme suas necessidades e expectativas.
Vale lembrar a importância de gerenciar esses dados permanentemente e criar um sistema de autoavaliação periódica. Para auxiliar os gestores, ferramentas de CRM são amplamente utilizadas.
Construção de um relacionamento de respeito
Para haver lealdade à IES, a cultura organizacional precisa construir uma relação de confiança, tanto do ponto de vista administrativo como, principalmente, acadêmico. Alguns fatores a considerar:
- educação no tratamento pessoal;
- facilidade de acesso aos funcionários e professores;
- atendimento personalizado;
- dinamismo e pontualidade nos prazos;
- transparência;
- comprometimento;
- ambiente escolar envolvente;
- diálogo aberto com estudantes.
Políticas de desconto e bolsas de estudo
Ações permanentes de descontos para pagamentos antecipados ou integrais, bem como oferecimento de descontos progressivos para alunos mais antigos são formas de fidelizar o público.
Além disso, o estabelecimento de convênios com entidades e empresas para a concessão de descontos nas mensalidades pode aumentar retenção de alunos.
Por fim, além dos programas de bolsa de estudo do governo (como o FIES e ProUni), a IES pode construir suas próprias políticas por meio de fundos sociais de incentivo ao estudo e parceria com entidades de concessão de crédito universitário.
Relacionamento com inadimplentes
Compreender o que leva à inadimplência é fundamental para uma gestão de cobranças eficaz. Primeiramente, faz-se necessário um conhecimento da situação socioeconômica dos estudantes e o perfil dos inadimplentes (efetivos e potenciais). De posse dessas informações, é necessário o estabelecimento de ações de relacionamentos humanizadas que permitam redirecionar esses alunos devedores à adimplência.
Por fim, antever atrasos no pagamento é fundamental. Para tanto, mensagens personalizadas com lembretes do vencimento das parcelas pode ser uma saída interessante. Sistemas de comunicação automatizados facilitam esse trabalho de gestão. Podem ser utilizados diferentes dispositivos, como e-mail marketing, SMS, URA, WhatsApp etc.
Investimento em tecnologia e infraestrutura
Primeiramente, a infraestrutura da IES precisa estar em excelentes condições. Isso significa garantir manutenção constante de todas as instalações. Vale ressaltar que a estrutura deve ser adequada a um projeto pedagógico arrojado, a fim de favorecer a aplicação de novas metodologias de ensino e inovações tecnológicas para a educação.
Do ponto de vista administrativo, a adoção de novos sistemas de informação desburocratiza processos e evita a lentidão de retornos dos alunos.
Capacitação profissional para o corpo docente e funcionários
Manter os corpos docente e administrativo atualizados é indispensável ao aumento do desempenho da IES. Para isso, a gestão estratégica precisa incluir ações de formação profissional continuada e incentivo ao estudo. Por exemplo:
- apresentação de feedbacks periódicos;
- investimento em treinamentos presenciais e a distância;
- coaching para lideranças;
- aprendizado por times para alinhamento de conceitos;
- criação de um mapa de desempenho do corpo docente;
- incentivo à produção científica e à pesquisa;
- incentivo ao ingresso de professores e funcionários em cursos de graduação ou programas de pós-graduação e mestrado;
- parcerias com consultorias educacionais para mentoria universitária.
Embora a transferência de faculdade seja inerente a todas as IES, diferenciar a flutuação natural do número de alunos de um contexto acadêmico e empresarial desfavorável é importante para garantir maior retenção. Por esse motivo, o foco de qualquer gestão é promover a melhor experiência possível ao aluno para que ele crie laços afetivos com a instituição.
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