Uma empresa que preza pelo bem estar de seus colaboradores deve incluir nas estratégias e na cultura a preservação da saúde mental. Essa intervenção também é importante dentro das instituições de educação superior (IES), para evitar a síndrome de burnout em professores e funcionários da instituição.
Isso porque uma comunidade acadêmica engajada, em todos os seus setores, é uma comunidade que mantém uma cultura mais positiva, com humanidade e empatia nas relações interpessoais.
Dessa forma, o trabalho e o estudo são mais positivos e, além de contribuir para a difusão de conhecimento, professores com a saúde mental em dia podem trazer inovação, criatividade e diferenciais para os cursos.
Em primeiro lugar, porém, vale lembrar que a saúde mental é parte importante da saúde e evitar a síndrome de burnout em professores contribui para um avanço do diálogo na sociedade em torno dessa questão e de outras queixas psicológicas.
Por isso, para além de valorizar os professores como profissionais, o cuidado redobrado com a carga física e emocional demonstra a valorização de sua equipe como pessoas, o que torna a IES uma referência para os profissionais da área.
Os primeiros passos para tornar a comunidade acadêmica mais alerta para a saúde mental é aprender sobre as causas, as consequências e os desafios da síndrome de burnout.
O que é síndrome de burnout?
A síndrome de burnout pode ser traduzida como “síndrome de esgotamento profissional”. Ela afeta, de acordo com o PedMed, profissionais de múltiplas áreas de atuação, sendo mais recorrente entre médicos, enfermeiros, bombeiros, jornalistas e professores.
É caracterizada pela carga excessiva de trabalho, autocobrança, pressão e estresse crônicos. Como é uma síndrome de caráter ocupacional, afeta também a relação do profissional com seu ambiente de trabalho, piorando o quadro conforme as dificuldades aparecem.
São observados sintomas como irritabilidade, cansaço, negatividade em relação à performance profissional e distanciamento das atividades. Além dos sintomas emocionais e outros quadros psicológicos associados, a síndrome de burnout afeta também a saúde física do profissional. Insônia, problemas de digestão, dores musculares, queda de imunidade e falta de memória podem ocorrer.
Também pode causar outros transtornos: acompanhada de apatia, pessimismo e baixa autoestima, leva a quadros como depressão, ansiedade e síndrome do pânico, o que torna a recuperação ainda mais difícil. Outros riscos comuns são a insegurança, isolamento e tristeza, de acordo com o Hospital São Luiz.
A síndrome de burnout já é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um transtorno ocupacional. A partir de 2022, será oficializada e especificada no CID-11:
“A síndrome de burnout é o resultado de estresse profissional crônico que não tem o manejo correto. Tem como características principais:
- Falta de energia e exaustão;
- Distanciamento mental do trabalho, ou sentimentos negativos e/ou cínicos em relação ao trabalho;
- Eficácia profissional reduzida.”
A OMS frisa ainda que a diferença do burnout para estresse e outras condições crônicas é que o burnout ocorre em contextos profissionais, exigindo intervenções adequadas a este espaço.
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Quais são as causas da síndrome de burnout?
A síndrome de burnout é causada por estresse crônico e esgotamento no ambiente de trabalho, como no caso de ocupações com alta carga de estresse, perigos, competitividade e responsabilidade.
Profissões que exigem dedicação extrema e não permitem que o profissional cumpra com descanso, lazer e autocuidado geram mais casos de burnout. Ele pode ser desencadeado por mudanças na estrutura da empresa, exigindo mais horas e tarefas dos funcionários, cenários de extrema competitividade, incentivo ao desgaste pessoal por destaque profissional e uma divisão inadequada de trabalho.
Mudanças como reestruturação da equipe podem acarretar em burnout nos profissionais que passam a acumular funções, por exemplo. Profissionais que buscam se destacar em empresas competitivas também estão sob maior risco.
Como a síndrome de burnout afeta os professores?
Os profissionais da educação superior devem ser altamente qualificados e têm grande responsabilidade dentro de seu ambiente de trabalho. Eles são fatores essenciais para que a IES tenha sucesso, determinando as diretrizes pedagógicas e o aproveitamento dos alunos.
Por isso, é comum ver casos de síndrome de burnout em professores, seja no ensino superior ou na educação básica. Esse cenário não é raro justamente pela alta demanda de profissionais e a grande quantidade de tarefas às quais eles estão atrelados.
A rotina de um professor envolve muitas tarefas além da sala de aula: criar diretrizes curriculares, contribuir na criação de propostas pedagógicas, fazer planos de aula, adaptar conteúdos para diferentes modalidades de ensino, inovar nas metodologias, pensar métodos de avaliação, auxiliar os alunos, orientar trabalhos, etc.
Essas tarefas são atreladas à necessidade de qualificação profissional: cursos, palestras, pesquisas, intercâmbios, publicações e outras exigências para especialização consomem grande parte do tempo de professores do ensino superior.
Isso significa, então, que o trabalho vai muito além dos horários e das demandas pré-definidas. Justamente por isso, os professores acabam tendo menos oportunidade para descanso e lazer, além de cuidados com o próprio bem-estar. Como consequência, surge a síndrome de burnout em professores.
Quais são os efeitos do burnout?
Apesar de o burnout se manifestar de formas diferentes em cada pessoa, há fatores em comum. Entre as consequências estão alterações físicas, de humor e do rendimento do profissional no trabalho.
1. Efeitos na saúde física
Entre os sintomas visíveis da síndrome de burnout em professores e outros profissionais estão as consequências na saúde física. Esse esgotamento no ambiente ocupacional leva ao descaso com o bem-estar e a rotina.
Situações como falta de apetite, má nutrição, insônia, dores musculares de tensão, entre outras, são queixas comuns do transtorno. Em casos mais graves, pode desencadear quadros como gastrite e queda na imunidade.
2. Efeitos na saúde mental
Queixas no humor podem ser um sinal de burnout. Irritabilidade, falta de concentração, agressividade e outros sintomas fazem parte do quadro e não devem ser minimizados. O mal estar emocional e o burnout acabam criando um ciclo: a negatividade leva a dificuldades no trabalho, que levam ao cansaço, que leva à negatividade.
Outra questão importante é que, em meio a esse contexto, o profissional está muito desamparado e não dá a devida atenção à própria saúde emocional. Como consequência, pode apresentar também queixas de depressão e ansiedade.
3. Efeitos no trabalho
Além de prejudicar a vida dos professores, o burnout prejudica a IES como um todo. Em primeiro lugar, porque prejudica os relacionamentos da comunidade escolar: os professores que não conseguem se engajar com seu conteúdo e alunos não alimentam a difusão de informações.
Além disso, sua participação em atividades fica reduzida: o educador que está sofrendo de burnout está esgotado e não pode contribuir em sua melhor forma para o progresso da IES.
Como se atentar para a síndrome de burnout em professores?
Os coordenadores e gestores de instituições de educação superior que buscam ter um diálogo cada vez mais aberto com professores sobre saúde mental devem se atentar para os sinais de risco.
Para isso, o primeiro passo é se informar. Consumir conteúdo educativo e científico sobre as consequências e as causas do burnout é essencial para entender melhor os desafios diários que a equipe educacional enfrenta.
Atente-se para a carga de tarefas e emocional exigida dos professores. Se não estiver de acordo com o tempo e os prazos, é possível que isso desperte quadros de burnout dentro da equipe.
Além disso, é importante prestar atenção no bem-estar de cada um de sua equipe, analisar potenciais mudanças no comportamento e alterações de humor, além de ajudar um colega que esteja passando por uma situação difícil.
Outro ponto importante é cuidar da saúde mental coletiva como um todo: em espaços abertos a diálogos sobre estresse e efeitos psicológicos, os profissionais se sentem menos culpados por suas reações.
Quais são as fases da síndrome de burnout?
A síndrome de burnout em professores não surge de forma repentina. Os sintomas vão se agravando ao longo do tempo e prejudicando cada vez mais a atuação profissional e a qualidade de vida.
Existem, segundo os psicólogos Herbert J. Freudenberger e Gail North, criadores do conceito da síndrome, 12 fases para que ela se manifeste.
- Necessidade de aprovação: o profissional sente a pressão para ser aprovado em seu ambiente de trabalho, geralmente muito competitivo;
- Excesso de trabalho: a pessoa fica incapaz de se desligar da atuação profissional, trabalhando mais horas com mais intensidade;
- Não priorizar o próprio bem-estar: nesse estágio, a pessoa não mantém rotinas saudáveis, há prejuízo no sono, na alimentação, exercícios físicos, etc;
- Transferir os conflitos: com a carga emocional grande, a pessoa passa a se sentir irritável, ansiosa e agressiva, podendo manifestar suas preocupações com trabalho nas relações pessoais;
- Revisão de valores: nesse estágio, tudo que não for trabalho é deixado de lado. Ao invés de passar tempo com a família, amigos ou se dedicando ao lazer, tudo que importa para o profissional é o trabalho;
- Negar que problemas estão surgindo: como consequência, a pessoa passa a acreditar que não há problemas em sua sobrecarga, normalizando a situação. Nega que possa estar buscando o perfeccionismo no trabalho e enxerga colegas como menos dedicados;
- Distanciar-se: o isolamento autoimposto acontece quando a pessoa se distancia de amigos e familiares para se dedicar exclusivamente ao trabalho. A falta de vida social leva a sentimentos de solidão e irritabilidade;
- Mudanças comportamentais: para as pessoas próximas, quem está vivendo a síndrome de burnout parece ter mudado seus hábitos e resposta a problemas, com mais quadros de irritabilidade e agressividade;
- Despersonalização: a pessoa não se conecta com ela mesma e suas necessidades, vive no piloto automático, sempre voltada para o trabalho;
- Vazio interior: como consequência das mudanças comportamentais e de hábitos, o profissional que está vivendo a síndrome de burnout passa a sentir um vazio persistente. Nessa fase, pode desenvolver hábitos autodestrutivos, como alcoolismo, tabagismo, uso de drogas, etc;
- Depressão: o efeito da super valorização do desempenho profissional, do foco excessivo e do esgotamento físico é a apatia. Surge o sentimento de que nada importa, recorrente em transtornos depressivos. Isso causa exaustão física e emocional, que a pessoa vive dentro e fora do ambiente de trabalho;
- Síndrome de Burnout: a última fase é a síndrome de burnout em si. Quando a pessoa chega nesse estágio de esgotamento, é preciso ter acompanhamento especializado e mudanças de vida.
Como tratar a síndrome de burnout?
Assim como outros transtornos psicológicos, é essencial ter o acompanhamento de profissionais de saúde para identificar e tratar a síndrome de burnout. Psiquiatras e psicoterapeutas auxiliam a pessoa a tratar os sintomas e transformar seu estilo de vida para evitar crises futuras.
Na vertente médica, é importante descartar outros problemas de saúde que possam levar à fadiga e ao esgotamento. Investigar questões hormonais e alimentares é um passo importante, já que a falta de nutrientes também pode causar esses sintomas.
Depois disso, o médico psiquiatra poderá realizar a avaliação com o paciente e determinar se a causa do esgotamento é ocupacional. Se sim, é diagnosticada a síndrome de burnout.
Os tratamentos envolvem, em alguns casos, medicações como antidepressivos e ansiolíticos. De forma geral, o paciente também é encaminhado para acompanhamento psicoterapêutico, com profissionais especializados na questão.
Por meio da psicoterapia, ele desenvolve estratégias para lidar melhor com o estresse crônico e reinserir o descanso e o lazer em sua vida.
O principal ponto, porém, é a mudança no estilo de vida. Uma carga adequada de trabalho, sem pressões excessivas e cobranças desproporcionais é a chave para que casos como esse não continuem surgindo dentro do ambiente profissional.
O que a IES pode fazer para prevenir a síndrome de burnout em professores?
O esgotamento no trabalho com educação, principalmente no nível superior, acontece com frequência: alta responsabilidade, profissionais multitarefas e avaliação recorrente de desempenho são fatores que desencadeiam o problema.
Porém, para manter o relacionamento com professores positivo e benéfico de ambos os lados, a IES deve ajudar a evitar o esgotamento. Existem algumas estratégias para preveni-lo que podem ser adotadas:
Cuidado com o perfeccionismo
O ambiente acadêmico tem uma pressão enorme por perfeccionismo e alto desempenho. Apesar da importância de pesquisa e ensino de qualidade, a IES não deve exigir padrões inalcançáveis de sua equipe.
A competitividade entre profissionais do meio acadêmico é acirrada e é papel da coordenação evitar que isso aconteça. Evite criar conflitos desnecessários e comparações.
Não exagere na sobrecarga
Os professores são humanos e têm limitações. Por mais que eles queiram se envolver em atividades para além de suas obrigações, é importante que tenham tempo de descanso.
A cobrança por desempenho e demonstração de produtividade constante é uma pressão que leva à síndrome de burnout em professores. Então, valorizar os profissionais sem excessos é uma forma de reverter o quadro. Não crie um ambiente em que os professores sentem a necessidade de se esgotar para receber aprovação.
Promova o diálogo sobre saúde mental
Outro ponto importante é falar sobre sentimentos e dificuldades. Pela competitividade, pode ser difícil se abrir sobre o esgotamento, mas os profissionais da educação se beneficiam de ter um diálogo mais próximo.
Promova palestras, literatura e conteúdos que falem sobre saúde mental, tenha apoio terapêutico na IES para funcionários e possibilite conversas importantes entre equipes educacionais.
Incentive bons hábitos
Também é essencial frisar o equilíbrio na vida do profissional. Incentive a atividade física, a boa alimentação e o autocuidado. Na prática, isso significa jornadas de trabalho e salários compatíveis, que permitam que a pessoa tenha tempo para se dedicar a uma rotina mais saudável. Além disso, evite que o trabalho afete os horários livres da equipe, incentive as férias e pense em incluir benefícios corporativos como acesso a academias e terapia.
A síndrome de burnout em professores é um cenário comum no setor da educação, mas é possível ter uma equipe dedicada e mais saudável com cuidados e um ambiente mais positivo. Uma IES mais humanizada com sua equipe é uma IES mais receptiva e engajada com a comunidade acadêmica. Agora que você já sabe os desafios que os educadores enfrentam na atuação profissional e como evitá-los, leia mais sobre a importância da relação entre professor e aluno.