Há algumas semanas, estava refletindo sobre como os serviços e produtos se adaptaram às transformações tecnológicas nos últimos cinco anos. Creio que não podemos pensar somente nas formas de atração em vendas e consumo pela migração do marketing tradicional (mídias offline) para o marketing digital (mídias online), mas também refletir sobre o passado como previsão e, hoje, no presente, uma realidade.
Os taxistas jamais pensariam que o modelo de negócio de transporte particular habilitado, legalizado e licenciado por praças de atuação via localização, autonomia e comunicação estática iria ser atingido por modelos de transporte convencionais, flexíveis e administrados via aplicação móvel entre usuário, empresa gestora e condutor de veículo parceiro. Temos atualmente uma nova profissão de motoristas por aplicativos em escala, modularidade e granularidade no mercado.
A televisão, produto de comunicação audiovisual popular das massas, dependente de cadeia de sinal (analógica e/ou digital), possuía uma estrutura complexa de concessão para empresas emissoras de canais abertos ou fechados (por assinatura) e todo o complexo de licenciamento de difusão coordenada, gerida por espaços de programação não flexível, e não foi poupada pela internet e seus sites com repositórios de vídeos e aplicações inteligentes “on demand”.
A engenharia de produção para a fabricação de televisão foi obrigada a integrar novos recursos digitais e sistemas operacionais com aplicações/softwares integrados à internet, comandos de voz, telas de alta resolução em imagem e qualidade sonora para não se tornarem obsoletas diante dos notebooks, celulares e tablets, resultando em um novo produto, a Smart TV.
E o trabalho?
As novas formatações de trabalho não passaram ilesas do processo de mudança social com a inovação e tecnologia nos últimos cinco anos. O local de trabalho coordenado em ambiente específico e inflexível mudou drasticamente o setor de serviços com novas abordagens de gestão de pessoas focadas em resultados e alta modelagem (processos produtivos), mediadas por ferramentas tecnológicas de sistemas de comunicação e informação, sistemas inteligentes de gestão, inteligência analítica de dados e processos, redes de computadores, dentre outras implementações que impactaram diretamente no futuro das carreiras e principalmente para as profissões do presente e futuro.
As carreiras e profissões em contínuo viés de inovação impactam cada dia mais as instituições de educação superior (IES) diante a sua função social. A revisão e adaptação curricular intermediadas por conteúdos inteligentes e alinhados ao mercado de trabalho devem ser a base da dinâmica didático-pedagógico instrumentalizada pela tecnologia. Estamos diante da nova pedagogia para a aprendizagem dos alunos, mesmo sob diversas críticas dos profissionais da educação.
O que fazer com o professor que em vez de analisar uma obra literária em tempo real com os alunos através da biblioteca e repositórios virtuais, ainda impõe a prática de direcioná-los a fotocopiadora para cópia de textos em papel ou bibliotecas físicas para empréstimo de livros com número limitado de obras?
Certamente, grande parte dos alunos irão optar pela conveniência tecnológica: utilizar o celular e navegar pelo Google, a fim de encontrar um texto ou um vídeo sintético sobre o conteúdo, independente da validação do professor. Esse tipo de prática pode proporcionar resultados positivos e negativos para o aluno, professor e IES, porém, é uma nova forma de aprender e qualificar o ensino, mesmo em processo de dualidade pedagógica.
Qual deve ser o posicionamento da IES?
As novas IES devem estar em evolução contínua com a experimentação hábil de inovações e tecnologias, bem como reformular as propostas didático-pedagógicas para a novas carreiras.
Nessa assertiva, alguns questionam como pode ser construída uma nova proposta de IES. Sabemos que, além de investimento financeiro em estrutura e recursos humanos, deve ser pensado um novo projeto. Algumas organizações educacionais no país vêm implantando de forma progressiva novas metodologias, ferramentas e infraestrutura inteligente, tais como:
- Desenvolvimento contínuo de ferramentas de ensino digitais em plataformas de aprendizagem;
- Retirada progressiva dos conteúdos teóricos do papel e implementação da prática integrada;
- Simulação de ambientes de trabalho nas áreas de conhecimento;
- Qualificação docente para a gestão do conhecimento e gestor de informação para conteúdos disponíveis em soluções e repositórios científicos;
- Fomento da multidisciplinaridade e transdisciplinaridade nas adaptações e novas profissões do futuro;
- Condução da aprendizagem espontânea dos alunos (metodologias ativas) mediante resultados práticos;
- Desenvolvimento de framework para solução de problemas (design thinking);
- Espaço físico integrado interdisciplinar e sala de ideias;
- Investimento em ferramentas tecnológicas como impressoras 3D, máquinas de diagnósticos, detectores e scanner de materiais, frisadoras eletrônicas, máquinas de corte computadorizadas inteligentes etc., além dos recursos e equipamentos obrigatórios exigidos nas diretrizes curriculares de curso;
- Aplicação de laboratórios virtuais de alta performance em realidade e experimentos;
- Salas de reunião, mesas de aplicação de ideias, soluções e conveniências para aprendizagem (coworking);
Superar o ensino atual centrado na sala de aula física ou do mero espaço virtual de conteúdos dirigido, sem o dinamismo dos professores, é um desafio. Apoiar a didática com docentes críticos do presente, apreciadores do passado e relutantes com as tendências futuras é também um obstáculo para formar novas carreiras e profissões.
Deve ser frustrante hoje dirigir o conteúdo de avaliação de desempenho em gestão de pessoas no ambiente do trabalho para os alunos sem saber visualizar o fenômeno e complexidades das rotinas de “home office” ou teletrabalho. Ainda, como manter um curso da área de tecnologia de informação (TI) sem aprofundar nos componentes curriculares as novas linguagens de programação promissoras, desenvolvimento do aprendizado de máquina (machine learning) e inteligência artificial?
São essas situações que revelam que as novas adaptações das carreiras no mercado de trabalho e a novas profissões também exigem novas IES e, certamente, novas performances de alunos e professores em nível de habilidades e competências para sanear o presente pensando em resultados futuros.