Nos últimos meses, houve diminuição de orçamento para programas governamentais de acesso ao ensino superior. O Prouni e o Fies, por exemplo, tiveram R$177 milhões retirados em relação a 2020. Isso impacta em grande escala as instituições de educação superior (IES), já que muitos alunos optam por deixar de lado a formação preocupados com os custos. Nesse contexto, surge a opção de financiamento estudantil privado.
Essa modalidade de financiamento é baseada em contratos do aluno com a instituição para que o plano de pagamento seja feito após a formação. Entre as vantagens comparadas a financiamentos tradicionais estão as baixas taxas de juros e o período de carência.
É possível para o aluno contratar esse financiamento por instituições bancárias e seus mediadores. No entanto, para muitos gestores de IES, a busca estudantil por essa modalidade fez com que houvesse interesse na criação de programas de financiamento estudantil privados próprios.
Esse recurso pode ser muito vantajoso para a IES, já que contribui para a captação de alunos e para que a acessibilidade ao curso não impeça potenciais destaques acadêmicos de ingressar.
Mas para montar esse tipo de programa, é essencial analisar quais as demandas dos alunos em relação à IES, que público será contemplado para a nova modalidade e se existem recursos práticos e financeiros para isso.
Com o estudo e a implantação adequada, gestores desenvolvem o programa que mais se adequa às particularidades de uma instituição e seus alunos, tornando o benefício maior para toda a comunidade acadêmica, além de garantir a sustentabilidade financeira.
Para auxiliar nessa pesquisa, esse artigo vai explicar o cenário do financiamento estudantil privado e as opções para equipes de IES que pretendem implantar esse modelo para seus futuros alunos.
Por que o financiamento estudantil é necessário?
A existência de programas de financiamento estudantil privados tem origem na alta demanda por formação superior e baixa oferta de cursos acessíveis. Enquanto no ensino superior público as vagas são escassas e as provas, como vestibulares e Enem, são intensivas, no ensino privado os alunos também enfrentam barreiras financeiras.
Hoje, estima-se que as pessoas de classe A e B, em média, tenham acesso a 13 anos de educação. Em comparação, o número cai para 9,9 entre a população de menor renda, de acordo com o Censo da Educação Superior. O mesmo ocorre em relação às desigualdades geográficas. Em estados com mais oferta de IES públicas por habitante, as vagas são melhor distribuídas. Já, por exemplo, na região Norte, a falta de opções torna a concorrência ainda mais complexa e os recursos menos acessíveis.
A desigualdade do ensino superior brasileiro ainda é alta e isso tem um grande reflexo no contexto da população. Enquanto em países como a Argentina cerca de 40% das pessoas entre 25 e 34 anos têm diploma universitário, a mesma melhora não tem sido vista no Brasil. Aqui, apesar de as taxas terem crescido nas últimas décadas, a formação superior ainda é uma realidade distante, atingindo apenas 21% dos jovens da mesma faixa etária.
Isso significa que há um problema de acesso a vagas, seja no ensino público ou privado. Assim, muitos alunos acabam desistindo, não tendo recursos para arcar com mensalidades das instituições.
Programas como Fies e Prouni surgiram para oferecer soluções para esse problema, visando ampliar o acesso de pessoas de baixa renda a universidades e faculdades. No entanto, os últimos meses foram um desafio, já que cortes orçamentários ameaçam a integridade e a ampliação desses programas.
Frente à possibilidade de maior evasão de alunos, além de queda no interesse em formação superior, as IES começaram a oferecer programas próprios de financiamento estudantil privado. Ao invés de fazer um contrato com um banco, o aluno tem adesão ao programa diretamente na IES.
O problema da falta de assistência para os alunos
Para os alunos, em especial alunos de baixa renda, os cortes nos programas de financiamento público são mais uma barreira no acesso à educação. Considerando os altos custos de mensalidades, além da dificuldade de se dedicar integralmente aos estudos, a busca por uma educação acadêmica e profissionalizante fica em segundo plano.
Além de não levar à aquisição de conhecimento, essa decisão pode fazer com que a pessoa não consiga avanços profissionais desejados, já que o ensino superior é um pré-requisito em muitas áreas de atuação. Nesse sentido, optar por não avançar nos estudos tem um prejuízo a curto e a longo prazo.
Um dos grupos de alunos que mais acaba prejudicado é o da saúde, principalmente os que buscam financiamento estudantil para cursos de medicina. Como as mensalidades são altas e o curso exige dedicação integral, é mais complexo para acessar e manter os estudos.
O efeito da falta de assistência nas IES
Com a queda das oportunidades para potenciais alunos, as IES viram nos cortes aos programas públicos um problema de administração e de conhecimento. Como muitos alunos optam por não participar de processos seletivos ou acabam deixando o curso quando não conseguem arcar com custos de mensalidade, as instituições ficam com vagas ociosas durante as graduações.
De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Semesp, em 2018 as IES que ofereciam vagas da modalidade Fies e/ou ProUni tinham taxa de evasão no primeiro ano de cerca de 9%. Enquanto isso, a média geral de evasão nas IES privadas, em cursos sem financiamento, foi de 24%.
O ônus, nessa situação, não é apenas financeiro: perder alunos que poderiam adquirir conhecimento e se destacar, tanto na sala de aula como no mercado de trabalho, é algo que dificulta a criação de uma boa reputação da IES. Formar profissionais dedicados e com alto nível de conhecimento é sua missão educacional. Se ela não consegue mostrar que está cumprindo essa missão, acaba perdendo seu destaque no mercado de trabalho.
O impacto social da falta de financiamento estudantil
Além disso, há alta demanda por profissionais de saúde e educação na sociedade. Quando os alunos que buscam atuar nessas áreas não recebem incentivo e não têm acesso a programas de permanência, há uma falta de egressos, o que se manifesta em baixa força de trabalho qualificada para atuar nestes segmentos.
Leia também: saiba como funcionam os processos de adesão ao Prouni e recadastramento
Como o financiamento auxilia o acesso à educação?
Mas existem soluções para o desmonte dos programas de financiamento e assistência estudantil: a inserção de programas privados, que podem ser geridos tanto por instituições bancárias e financeiras como pelas próprias IES em si. Essa modalidade visa contemplar alunos que seriam membros importantes para o corpo discente de uma instituição, mas que, por fatores diversos, não conseguem arcar com os custos.
Há custos associados à permanência nos estudos: muitas vezes, significa abrir mão de trabalho em tempo integral ou até ter dedicação total aos estudos. Também é o caso de alunos de cidades menores, que precisam se deslocar ou mudar para centros urbanos e estar perto de onde vão realizar o curso. Além disso, é importante considerar o custo das mensalidades: mesmo as IES de baixo custo podem estar acima do orçamento de alunos e acabar perdendo potenciais relações de aprendizado.
O financiamento estudantil privado pode ser a forma mais viável de resolver esse problema, em que a IES controla um fundo que ajuda a contemplar os gastos em torno da formação de um aluno. Enquanto isso, o aluno conta com a segurança de poder lidar com o aspecto financeiro dos estudos somente no futuro.
Como funciona o financiamento estudantil privado?
Assim como no caso do financiamento estudantil público, em que os recursos são provenientes do orçamento governamental, no caso dos fundos privados o orçamento também deve ser considerado. A gestão precisa levar em conta fatores como quantidade de alunos que pagam a mensalidade completa, bolsistas, quantas vagas de financiamento serão disponibilizadas por ano, quais critérios socioeconômicos devem ser levados em conta para adesão ao contrato, quais são as prioridades, etc.
Além disso, é importante pensar na execução do programa de financiamento estudantil do ponto de vista da IES: quem será responsável pela organização, quais obrigações financeiras devem ser cumpridas, o que deve estar no contrato para não prejudicar a IES, etc. É fundamental ter uma equipe fiscal e legal nesse momento, para evitar futuros problemas.
Em linhas gerais, a instituição pode buscar diferentes formas de financiamento: uma comunidade engajada de ex-alunos, por exemplo, pode ser um começo interessante para o programa. A partir daí é necessário analisar quantos financiamentos serão oferecidos e quais as condições de pagamento.
A carência, por exemplo, é um fator primário: se for muito imediata, o aluno acaba perdendo o interesse na modalidade já que pode demorar até ter um salário fixo após o fim do curso. Se a carência for longa demais, pode acarretar em problemas orçamentários para a instituição.
Também é importante analisar as taxas: quando instituições bancárias oferecem financiamentos com taxas muito altas, os alunos acabam desistindo de contratar. Já no contrato via IES, há possibilidade de taxas melhores, o que atrai os estudantes em potencial para a instituição.
Quais são as vantagens para o aluno?
Quando um aluno, em especial um aluno de baixa renda, busca ensino superior, ele o faz para adquirir conhecimento e, se possível, ingressar em uma carreira de seu interesse. A busca por melhoria financeira também faz parte do processo. No entanto, a dificuldade de acesso à formação faz com que muitos não invistam nesse sonho.
Quando a IES oferece financiamento, com condições adequadas e contratos bem elaborados, o aluno fica mais inclinado a estudar naquela instituição. Isso porque aumenta a segurança em poder investir na carreira e poder pagar apenas no futuro, quando houver melhora na renda e nas condições de trabalho.
Essa modalidade, quando ofertada pela IES, também pode trazer outras vantagens para o aluno: há instituições que oferecem bolsas parciais ou condições de pagamento especiais para alunos que se destacam no processo seletivo. Isso é uma forma de atrair um corpo discente dedicado ao espaço acadêmico.
Além disso, quando há oferta de financiamento estudantil, os alunos seguem com os estudos. A taxa de evasão do ensino superior brasilerio tem origens financeiras: há alunos que pretendem continuar a estudar, mas o cenário econômico os desfavorece. Se a IES oferece diferentes possibilidades, há mais chance de dar continuidade e investir na educação sem se preocupar.
Quais são as vantagens para as instituições?
Para as IES, a modalidade de financiamento estudantil de autogestão é uma ferramenta de controle fiscal: enquanto os alunos forem financiados por instituições bancárias, a gestão recebe apenas os recursos imediatos. Já investindo em fundos de manutenção e assistência próprios, ela pode adquirir diferentes recursos e possibilitar o retorno dos investimentos: um ex-aluno, após se formar, começa a ter sua dívida quitada por dedução dos salários. Assim, há garantia de manutenção do fundo, o que amplia a oferta de mais vagas em novos ciclos de alunos.
Tendo o controle dessa gestão, então, a IES pode determinar o melhor uso dos recursos, analisando quais critérios contribuem para a permanência dos alunos e utilizando os retornos como forma de investir em educação futura. Além do benefício educacional e tecnológico, a IES também se beneficia de inovação no plano pedagógico, já que está sempre se renovando e buscando a criação de oportunidades a longo prazo.
Qual o impacto socioeconômico do financiamento estudantil?
Para além do ambiente educacional, a oferta de financiamento estudantil, seja ele privado ou público, tem uma enorme importância para a sociedade. Entre a alta demanda por formação, mas baixos salários iniciais em determinadas áreas, há carência de profissionais qualificados.
Principalmente para garantir uma formação multifacetada, com dedicação e experiências, o aluno precisa estar envolvido com seus estudos o máximo possível. Quando há preocupação em pagar mensalidades, o foco muda e nem sempre o aluno consegue tirar da instituição o que ela pode oferecer.
Por exemplo, no caso da educação, um recém-formado não terá altos salários e benefícios, então um programa de financiamento estudantil com período de carência possibilita que um aluno participe do curso, se torne um docente qualificado e, quando puder, quite a dívida.
Essa modalidade incentiva percursos acadêmicos e profissionais com retorno financeiro a longo prazo para o aluno, o que, por sua vez, significa um retorno duradouro para a sociedade.
E já que você está interessado na criação de um programa de financiamento estudantil privado, entenda melhor também sobre empregabilidade e cursos superiores mais buscados pelos alunos!