A extensão universitária é um dos três pilares da educação superior, composta também pelo ensino e pela pesquisa. Por serem instituições educacionais pluridisciplinares, as universidades se diferenciam de faculdades e centros educacionais em seu impacto perante a sociedade. A extensão é parte fundamental na abertura do espaço universitário e na multiplicação do conhecimento.
Além de formar alunos em várias áreas de atuação, as universidades investem em pesquisa e pós-graduações (tanto profissionalizantes quanto acadêmicas), o que leva a contribuições no desenvolvimento científico especializado.
O pilar da extensão completa o trio, visando a ampliação do conhecimento e do espaço da instituição de educação superior (IES) para o exterior, difundindo conhecimentos e práticas para a comunidade e visando o bem-estar e o desenvolvimento da sociedade mediante a aplicação de práticas acadêmicas e profissionais dos alunos.
Isso pode se manifestar na forma de cursos livres e abertos ao público, oficinas, entidades estudantis, conferências, empresas juniores, projetos sociais e outras iniciativas que se utilizam dos recursos intelectuais e estruturais da universidade em benefício à comunidade externa.
Além disso, a extensão traz benefícios também para alunos e docentes, possibilitando a troca e aplicação de conhecimentos, além de ampliar o impacto do que é discutido em salas de aula e auxiliar no desenvolvimento de competências importantes para a formação e a atuação no mercado de trabalho.
Por isso, cada vez mais as atividades extensionistas têm se tornado diferenciais curriculares nas IES. Elas criam a identidade de cada organização perante os alunos, o mercado de trabalho e a sociedade, exemplificando na prática a qualidade do ensino, o impacto da pesquisa e o compromisso da gestão e da coordenação com a responsabilidade social do ensino superior.
As diretrizes legais das atividades de extensão universitária
De acordo com o MEC (portaria 1.350, 2018), as atividades de extensão devem buscar:
“I – a contribuição na formação integral do estudante, estimulando sua formação como cidadão crítico e responsável;
II – o estabelecimento de diálogo construtivo e transformador com os demais setores da sociedade brasileira e internacional, respeitando e promovendo a interculturalidade;
III – a promoção de iniciativas que expressem o compromisso social das instituições de ensino superior com todas as áreas, em especial, as de comunicação, cultura, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia e produção, e trabalho, em consonância com as políticas ligadas às diretrizes para a educação ambiental, educação étnico-racial, direitos humanos e educação indígena;
IV – a promoção da reflexão ética quanto à dimensão social do ensino e da pesquisa;
V – o incentivo à atuação da comunidade acadêmica e técnica na contribuição ao enfrentamento das questões da sociedade brasileira, inclusive por meio do desenvolvimento econômico, social e cultural;
VI – o apoio em princípios éticos que expressem o compromisso social de cada estabelecimento superior de educação;
VII – a atuação na produção e na construção de conhecimentos, atualizados e coerentes, voltados para o desenvolvimento social, equitativo, sustentável, com a realidade brasileira.”
Segundo a legislação, as diretrizes para a implantação da extensão universitária no ensino superior têm como objetivo “a interação dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade por meio da troca de conhecimentos, da participação e do contato com as questões complexas contemporâneas presentes no contexto social”.
Além de possibilitar uma formação mais cidadã dentro do contexto acadêmico, o diálogo deve levar a avaliações e transformações internas da IES, com a valorização da interdisciplinaridade, do acesso ao conhecimento e do desenvolvimento científico e cultural da sociedade por meio da aplicação de conhecimentos.
Os benefícios de atividades de extensão universitária
O Ministério da Educação (MEC) avalia a implantação de projetos de extensão em 5 diretrizes: Interação Dialógica; Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão; Impacto na Formação do Estudante; Impacto e Transformação Social.
É, portanto, uma estratégia que afeta não só sua área de atuação, como os pilares de ensino e pesquisa, além de impactar diretamente o corpo docente e discente de cada instituição.
O impacto social da extensão universitária
No caso da interação dialógica, a ideia é quebrar as barreiras de acesso ao conhecimento acadêmico. Como ambientes de estudo podem ser muito restritos, é relevante pensar em estratégias que envolvam a comunidade externa.
Na prática, o Impacto e Transformação Social são obtidos quando aquele conhecimento é aplicado em forma de benefícios a setores menos privilegiados da sociedade. Há projetos de extensão, por exemplo, que prestam serviços de assistência jurídica a pessoas de baixa renda. Uma ideia implementada na USP, por exemplo, é o Projeto Redigir, que ensina língua portuguesa por meio de debates sociais e conceitos de gramática, para incentivar a expressão cidadã de populações marginalizadas.
Os benefícios para os estudantes
A Interdisciplinaridade e a Interprofissionalidade são conceitos para um setor de educação mais humanizado e preparado para os desafios contemporâneos. Ao invés de formar alunos aptos apenas no conteúdo específico ao qual seus estudos foram voltados, o foco em formar relações de troca de conhecimento contribui no perfil do egresso.
A extensão, nesse contexto, envolve alunos com diferentes competências e habilidades, muitas vezes unindo estudantes de múltiplos cursos. No espaço de extensão, por exemplo, um aluno de saúde aprende sobre fatores geográficos de risco, enquanto um aluno de sociologia pode compreender o impacto da falta de acesso a cuidados médicos.
Da mesma forma, portanto, esses alunos também veem na colaboração entre pessoas de diferentes áreas uma atuação mais completa e humanizada, o que é um fator de Impacto na Formação do Estudante e determina egressos muito mais focados em encontrar soluções criativas, efetivas e multifacetadas para os desafios atuais da sociedade.
A pluralidade da extensão universitária nas IES
Além da quebra no mito da universidade inacessível, as IES se beneficiam dos projetos de extensão universitária em vários sentidos. Levando em conta a Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão, a qualidade de cada pilar afeta o outro.
Por exemplo, alunos que buscam desenvolver conhecimentos em sala levam a aplicação melhor das práticas profissionais. Projetos de extensão, por outro lado, fazem com que os alunos tenham contato com problemas e busquem soluções em suas linhas de pesquisa, o que auxilia na produção científica da IES.
Outro ponto é que esses projetos contam com o envolvimento direto dos alunos, o que amplia a autonomia, foco das metodologias de ensino ativas dentro de sala de aula. Portanto, todas as atividades curriculares e complementares inseridas na grade curricular têm seu papel na criação de um ambiente acadêmico mais efetivo, tanto no âmbito educacional como no impacto social a longo prazo.
A responsabilidade social do ensino superior não contempla somente políticas de acesso e permanência estudantil. Apesar destes fatores auxiliarem e muito no impacto a longo prazo da instituição na sociedade, os projetos pedagógicos de curso, ao inserir atividades relevantes de extensão, também contribuem para impactos a curto prazo.
O desenvolvimento de projetos de extensão universitária
Com a nova obrigatoriedade das atividades de extensão universitária na grade curricular com pelo menos 10% da carga horária, gestores e coordenadores buscam as melhores formas de implementar projetos em suas instituições, adequadas às diretrizes legais, à missão educacional da IES, às demandas sociais da região onde ela está localizada e aos recursos disponíveis.
Para auxiliar neste processo, temos algumas orientações na hora de montar projetos de extensão:
Legislação vigente
O processo de implantação de atividades de extensão deve estar de acordo com as Diretrizes do Plano Nacional de Educação (PNE) e seguir os passos previstos na legislação. Para a viabilização do registro junto ao MEC, as instituições devem incluir em seu Plano de Desenvolvimento Educacional:
“I – a concepção de extensão, que se ajuste aos princípios estabelecidos na presente Resolução, a ser aplicado na formulação dos projetos pedagógicos dos cursos superiores, quando necessários;
II – o planejamento e as atividades institucionais de extensão;
III – a forma de registro a ser aplicado nas instituições de ensino superiores, descrevendo as modalidades de atividades de extensão que serão desenvolvidas;
IV – as estratégias de creditação curricular e de participação dos estudantes nas atividades de extensão;
V – a política de implantação do processo autoavaliativo da extensão, as estratégias e os indicadores
VI – a previsão e as estratégias de financiamento das atividades de extensão.
Como criar o projeto
Para a criação de um novo projeto de extensão universitária, é necessário avaliar as diretrizes do Projeto Pedagógico de cada curso de graduação. Qual é o perfil do egresso do curso? Que impacto a formação dele tem na sociedade? Que competências e habilidades são desenvolvidas dentro do curso e como elas podem ser produzidas em atividades de extensão?
Todos esses fatores devem ser levados em conta, para adequar as atividades perante a área de conhecimento dos alunos. Assim, mesmo sob supervisão, eles terão autonomia para coordenar e participar de projetos, o que estimula a prática de conhecimentos.
Os fatores essenciais na criação de um projeto são docentes responsáveis, financiamento por meio da IES, qual o perfil do aluno participante e quais pessoas o projeto visa atender. Também é importante analisar quais recursos de infraestrutura serão utilizados na execução do projeto.
Ideias de projetos de extensão universitária
Existem diferentes formas de executar atividades de extensão que contemplem a necessidade formativa e social. Uma ideia frequentemente aplicada em IES é a de cursos abertos ao público. Essa ferramenta, que inclusive pode ser feita de forma online, é uma forma de democratizar o acesso à informação.
Alunos de graduação e pós-graduação, sob orientação de docentes, criam planos de aula que divulgam conhecimentos científicos em sua área de estudo, de forma a torná-los mais acessíveis para pessoas sem conhecimento prévio. A partir disso, podem ser realizados cursos de introdução aos temas.
Outros cursos que são interessantes são os cursos de idiomas. Com a ampla gama de alunos com conhecimento didático nas universidades, as aulas oferecidas são uma forma de difundir os idiomas para a complementação curricular do público participante.
Uma ideia de grande impacto social são programas de extensão voltados aos direitos humanos de populações vulneráveis. Podem envolver alunos de diversas áreas, como saúde, educação e direito, visando criar oportunidades de acesso da população a seus direitos.
Workshops e cursos sobre direitos das mulheres, serviços de assistência jurídica a vítimas de violência, cursos de educação financeira e sobre saúde, auxílio fiscal e de acesso à moradia a pessoas de baixa renda, incentivo à busca de políticas públicas que promovam proteção a populações vulneráveis, tutoria e monitoria de alunos de ensino básico em situação de risco, orientação profissional e escolar, apoio psicológico gratuito para pessoas com transtornos psicológicos, etc. São muitas as vertentes em que a extensão pode transformar a vida da comunidade externa.
A importância da avaliação crítica da extensão
Para a formação de atividades de extensão, a IES obrigatoriamente deve envolver comitês de autoavaliação, que, frequentemente, se voltem para o aperfeiçoamento das atividades a fim de contemplar as estratégias de ensino e pesquisa. Essa comissão avalia não só a pertinência das atividades propostas aos projetos pedagógicos e à formação do estudante, como também os efeitos e o aproveitamento do público participante.
Também há avaliação do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação), que prevê fiscalização do cumprimento das diretrizes, da adequação curricular e dos docentes responsáveis pelas atividades de extensão.
A curricularização da extensão para os novos desafios educacionais
A partir de 2018, fica estabelecida a obrigatoriedade da curricularização da extensão perante o MEC. Isso significa que as IES devem determinar 10% da carga horária dos cursos de graduação para a realização de projetos de extensão. As IES têm até dezembro de 2021 para atualizar os projetos pedagógicos visando a adequação às novas demandas.
Os projetos devem ser um complemento à formação, incluindo oportunidades de colocar em prática o aprendizado, dialogar sobre o conteúdo e contribuir para a aplicação do conhecimento em prol da sociedade.
Essa mudança contribui para o engajamento dos estudantes e a formação multifacetada de profissionais que consideram o desenvolvimento social parte essencial de qualquer área de atuação.
Além disso, reforça a importância do diálogo entre a IES e a sociedade e a colaboração interprofissional entre diferentes áreas de atuação. Todos esses benefícios levam à humanização da formação, o que tem grande impacto na esfera pessoal e social.
Esperamos que você tenha gostado deste artigo sobre extensão universitária! Aproveite para conferir também o nosso conteúdo sobre a integração da comunidade acadêmica.