Você já sabe sobre a importância das avaliações contextualizadas?
O momento da avaliação constitui uma das etapas mais importantes de todo o processo de ensino-aprendizagem.
É por meio da avaliação que é possível verificar como cada estudante e a turma como um todo evoluíram ao longo do período que está sendo analisado. Por consequência, é possível traçar um bom planejamento educacional, com estratégias para melhorar o que tiver que ser melhorado.
Contudo, muitas vezes os processos avaliativos no sistema educacional brasileiro buscam meramente classificar os estudantes em uma ordem de desempenho — em outras palavras, buscam apenas atribuir pontuação a cada estudante e, se for o caso, determinar punições, como reprovação em disciplinas.
Com isso, acabam por perder o sentido e não contribuem efetivamente para o aprendizado.
Para mudar esse jogo e obter o máximo possível das avaliações, é necessário repensar as concepções pedagógicas sob as quais são construídos os processos de aprendizagem. É aqui que entram em cena as avaliações contextualizadas!
Quer saber mais sobre o que são as avaliações contextualizadas e como elas podem ser aplicadas no ensino superior? Continue lendo este artigo!
Qual é a diferença entre avaliação e prova?
Antes de conceituar devidamente as avaliações contextualizadas, daremos um passo atrás para explicar a diferença entre avaliação e prova.
- As provas ou exames têm uma definição um pouco mais limitada de escopo: são ferramentas classificatórias, que medem um comportamento ou um conjunto de conhecimentos de forma isenta.
- Já a avaliação trata de um contexto mais amplo, e procura contribuir para a construção de saberes ao invés de apenas medir o que foi aprendido até o momento.
Assim, a avaliação é uma proposta muito mais ampla que desempenha um papel muito importante no processo de aprendizagem dos estudantes. E existem também vários tipos de avaliação.
Nos últimos anos, a inovação na educação superior tem levado em consideração a preferência pela avaliação educativa, em detrimento das práticas mais “enrijecidas”, menos flexíveis, dos exames e provas.
Assim, muito mais do que selecionar, julgar e excluir — processos que muitas vezes derivam de exames —, o papel da avaliação no mundo contemporâneo é ajudar e transformar.
Quais são as características das avaliações, de forma geral?
Veja abaixo algumas características das avaliações:
1. Integram o processo de aprendizagem
Ao contrário de provas e exames desconectados entre si que medem, de uma maneira fixa, o conhecimento retido pelos alunos, as avaliações são parte de todo o processo de aprendizagem.
Têm como objetivo auxiliar o estudante a consolidar o que aprendeu ou a verificar o que ainda precisa ser trabalhado.
2. Sanam dúvidas
A avaliação aponta adequadamente quais são as dificuldades encontradas pelo aluno no processo de aprendizagem. Com essa informação, se torna muito mais fácil tanto para estudante quanto para professor buscar maneiras de sanar as dúvidas que restaram e criar oportunidades de aprendizagem que ajudem esse aluno a aprender melhor.
O objetivo, portanto, não é dificultar a vida do estudante, e sim criar condições para que o aprendizado seja facilitado e mais significativo. Após identificação das dificuldades, é possível realizar uma intervenção pedagógica.
3. Reformulam-se a partir das necessidades dos alunos
As provas e exames, geralmente, são fixas e tendem a excluir ou reprovar aqueles que tiram notas baixas ou obtêm baixo desempenho.
Na avaliação, ocorre o contrário: é importante avaliar as turmas de acordo com suas necessidades e particularidades, o que pode implicar, por exemplo, em uma reformulação dos processos avaliativos, caso aqueles já existentes não sejam suficientes para ajudar os estudantes a aprender.
Mas então o que são as avaliações contextualizadas?
As avaliações contextualizadas são aquelas que procuram auxiliar na construção do saber a partir de uma realidade prática, e da conexão com todo o processo de ensino-aprendizagem. Considerando, justamente, que a avaliação não é uma tarefa isolada, descolada do resto do processo, é fundamental que ela esteja sempre considerada dentro de um contexto.
Contexto, para os dicionários, significa “o que constitui o texto no seu todo”. Ou seja: contextualizar a avaliação, nesse sentido, significa colocá-la dentro desse todo que está sendo aprendido.
Entretanto, o “todo” não é apenas o conjunto total do que foi aprendido no semestre ou no curso inteiro, por exemplo, mas também como esses conteúdos se conectam com a realidade do estudante.
O conhecimento não se mede por meio de uma aplicação abstrata, desconectada, mas sim pela aplicação concreta na realidade em que ele será utilizado.
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Avaliações contextualizadas e teoria da aprendizagem significativa
A concepção pedagógica por trás das avaliações contextualizadas leva em consideração uma das grandes teorias-chave para a educação inovadora do século 21: teoria da aprendizagem significativa. Vamos relembrá-la?
A teoria da aprendizagem significativa foi criada pelo psicólogo estadunidense David Ausubel e é, hoje, uma das principais teorias educacionais vigentes. Ela norteia grande parte das concepções pedagógicas de educadores, instituições de educação e materiais didáticos. Mas, afinal, no que consiste essa teoria?
Segundo Ausubel, a aprendizagem significativa (ou seja, que é significante e produz significado) ocorre quando o aluno consegue conectar algo novo que está aprendendo a algo que já conhece.
Nas palavras do autor, no livro Psicologia educacional,
“Se eu tivesse que reduzir toda psicologia educacional a um único princípio, diria isto: O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece. Descubra o que ele sabe e baseie nisso os seus ensinamentos“.
Nesse sentido, aprender envolve a utilização, pelo estudante, de estruturas mentais já conhecidas e existentes para realizar novas conexões, relacionando o que está sendo aprendido ao que ele já consolidou em sua mente antes.
Trata-se de aprender com contexto, com sentido, ampliando as relações na mente do aluno ao invés de apenas adicionar informações novas a esmo. Assim, o estudo tem muito mais condições de se consolidar e o aluno ganha em letramento.
Diferentemente dos métodos pedagógicos antigos e tradicionais (em que o conhecimento prévio do aluno raramente é levado em consideração) a aprendizagem significativa trabalha justamente do modo contrário: considerando o contexto do estudante, seu local social e de fala, seu histórico e sua própria observação do mundo que o rodeia.
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Quais são as principais características das avaliações contextualizadas?
- Ocorrem com mais frequência do que um exame ou prova final, sendo distribuídas e fragmentadas ao longo de todo o período;
- Trazem um tema geral que norteia os exercícios e atividades;
- Estabelecem um vínculo nítido entre todas as atividades e sua aplicação prática;
- Estão focadas mais em avaliar o desenvolvimento de habilidades (por exemplo, se o aluno sabe buscar o conhecimento e se sabe o que fazer com ele) do que da mera listagem de informações descontextualizadas (a “decoreba”);
- Estão vinculadas a uma autoavaliação do estudante, que pode verificar como foi o seu próprio processo de aprendizagem e como é possível melhorá-lo, considerando suas questões individuais.
Quais são os benefícios das avaliações contextualizadas?
Como já mencionado, as avaliações contextualizadas têm como objetivo ajudar o estudante a aprender, e não puni-lo por não ter conseguido atingir uma pontuação específica. Com isso, uma avaliação contextualizada bem feita pode, inclusive, despertar o interesse pelo estudo daquela disciplina.
Isso acontece porque, uma vez rompida a lógica punitiva dos exames, o estudante pode passar a enxergar os processos avaliativos como uma chance de melhorar. Mas eles devem receber a oportunidade para que isso ocorra.
Assim, os bloqueios anteriormente provocados pela punição, como desmotivação diante da reprovação e consequente perda de interesse, dão espaço à significação do estudo, e à seguinte pergunta: “Se eu não consegui aprender esse conteúdo ou desenvolver essa habilidade, o que está faltando para que eu consiga a partir de agora?”.
Portanto, as avaliações contextualizadas:
- Se pautam em uma perspectiva interacionista, isto é, aquela que prioriza a interação no mundo real entre estudante, sociedade e cultura;
- Entendem que não há como separar o conteúdo teórico da vida prática, ou seja, ambos são indissociáveis;
- Consideram, a todo momento, o contexto socioeconômico e sociocultural em que os estudantes estão (ou seja, o contexto que molda a visão de mundo e as percepções de cada um);
- Buscam colocar o estudante, cada vez mais, como protagonista no processo de aprendizagem.
Nesse sentido, vale destacar as palavras do célebre educador Paulo Freire, quando aponta que a educação é um ato de conscientização e comprometimento. Isso significa que todos que nela atuam devem estar conectados à própria realidade, para que então sejam capazes de “refletir e agir”.
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Como desenvolver avaliações contextualizadas? Dicas práticas para professores
Vimos como as avaliações contextualizadas são fundamentais para fomentar a motivação para alunos e ressignificar a aprendizagem. Mas como desenvolver avaliações contextualizadas no ensino superior?
Para responder a esta pergunta, vamos apresentar algumas dicas práticas logo a seguir.
1. Aumentar a frequência das avaliações
As avaliações contextualizadas e significativas devem ocorrer com mais frequência justamente porque, assim, ajudam o estudante a “errar mais rápido” para entender mais rápido o que precisa ser melhorado.
Essas avaliações frequentes, sem o peso da reprovação por nota, ajudam a ressignificar o processo e tornar o aprendizado mais natural e instigante para o aluno. Isso pode, por exemplo, ajudar a melhorar os níveis de aprovação da turma!
2. Criar atividades práticas, que explorem habilidades
A conexão entre conhecimento teórico, sua aplicação prática e a realidade do estudante ocorre muito mais efetivamente quando são unidos e aplicados. Ou seja, as avaliações contextualizadas também podem ser construídas com base em várias atividades práticas.
Além disso, essas atividades ajudam a avaliar outras habilidades que não sejam técnicas, como interação em grupo, empatia, comunicação, entre muitas outras.
3. Propor atividades de autoavaliação
Para que o estudante se sinta mais protagonista do processo, a avaliação contextualizada considera também uma etapa de autoavaliação. Nesse momento, o estudante pode, ele mesmo, dizer quais foram seus erros e acertos durante as experiências de aprendizagem, o que conseguiu consolidar e o que ainda precisa ser trabalhado.
Mais uma vez, a redução da pressão por nota e desempenho, nesse contexto avaliativo, ajuda o estudante a se avaliar sem medo de ser “punido” por isso — o que contribui para aumentar a motivação.
Esperamos que este artigo te ajude a implementar as avaliações contextualizadas em sua IES. Leia nosso próximo artigo e saiba como elaborar uma avaliação online de forma prática para o ensino remoto e EaD!