Não raramente, em instituições de educação é comum haver um debate acerca da quantidade de alunos indicada para as turmas. Esta questão é discutida desde o Ensino Fundamental, e, é claro, não seria diferente no Ensino Superior.
Há quem diga que uma turma grande pode ser prejudicial para o andamento das aulas. No entanto, na contramão desse argumento, há quem defenda que as turmas grandes estimulam os debates e a participação.
Neste artigo, falaremos um pouco mais sobre esse tema. Além disso, daremos dicas de gestão de turmas grandes e apresentaremos 5 estratégias de ensino que podem ser aplicadas. Confira!
Turmas grandes atrapalham o desempenho estudantil?
Antes de começar a discutir a gestão de uma turma grande, é preciso pensar se ela é um fator negativo para o desempenho dos alunos da sua Instituição de Educação Superior (IES). E a resposta é: provavelmente sim.
A literatura crítica em educação ainda não chegou a um consenso sobre os impactos de uma turma com muitos alunos no desempenho acadêmico destes. Principalmente quando o assunto é a Educação Superior, ainda faltam bases concretas para afirmar que a relação entre esses dois fatores é negativa ou positiva.
No entanto, alguns estudos apontam que um menor número de estudantes é positivo porque proporciona aos professores:
- maior capacidade de identificar necessidades e interesses, o que resulta em uma personalização do ensino mais efetiva;
- a possibilidade de tirar dúvidas de forma direta, o que aumenta a participação e o interesse.
Da mesma maneira, turmas grandes poderiam enfrentar desafios como:
- alunos mais dispersos e distraídos uns com os outros;
- problemas de disciplina e autoridade.
Um estudo realizado por Annengues, Porto Jr. e Figueiredo em 2020, com turmas de uma universidade brasileira, apontou que turmas grandes podem enfrentar problemas de desempenho com mais facilidade. Os pesquisadores mostram que isso é visível sobretudo nos alunos com pior desempenho, que costumam ser os mais prejudicados pelo grande número de alunos.
Por que analisar o tamanho das turmas é importante?
Apesar de os dados acadêmicos indicarem que uma turma grande pode ser prejudicial para o desenvolvimento dos alunos, esta ainda é uma realidade na maior parte das instituições de educação, em qualquer nível.
E isso não se dá apenas porque esse debate costuma ser pouco realizado nas IES. Na verdade, muitos fatores contribuem para a construção de turmas com um grande número de estudantes no Ensino Superior, e alguns deles não são mensuráveis, como:
- recepção positiva ou negativa, pelos alunos, do professor que está lecionando a matéria no semestre, o que pode impactar no total de estudantes;
- horário das aulas, que pode ser conflitante com responsabilidades individuais;
- necessidade de cursar a disciplina para adiantar ou finalizar os processos acadêmicos, como nos casos de reprovação e formatura de alunos.
Ainda assim, é necessário refletir sobre o impacto das turmas grandes, não só no desempenho dos estudantes, mas também em outros aspectos da universidade. Afinal, todos os setores de uma IES devem trabalhar juntos para o melhor aproveitamento dos corpos docentes, discentes e administrativos.
Nesse sentido, manter a atenção em um problema como o das turmas com muitos alunos acaba sendo relevante pois possibilita:
- acompanhar e otimizar os níveis de aprendizagem, em nível individual e coletivo;
- otimizar os custos financeiros da IES com infraestrutura educacional e novas contratações, quando necessário;
- melhor administração de recursos e de pessoas, garantindo conforto e qualidade de ensino sem gastos desnecessários.
Uma alternativa, sugerida pelo estudo de Annengues, Porto Jr. e Figueiredo (2020), é prestar atenção em turmas, sobretudo de alunos ingressantes, que tendem a ter um efeito negativo mais visível. De acordo com os autores, isso pode se dar porque esses novos alunos costumam ser mais dependentes da estrutura da IES, enquanto alunos concluintes têm maior independência.
Da mesma forma, turmas com um desempenho geral muito baixo podem ser pontos de atenção. Cabe imaginar se a quantidade de estudantes não pode ser um dos fatores que contribui para esse problema e, com base nos relatos de docentes e dos próprios alunos, criar alternativas para ele.
Como gerir uma turma grande?
Independentemente dos motivos pelos quais os professores precisam lidar com uma turma grande, é mister compreender que essa necessidade existe e é bastante comum. Por isso, a Saraiva Educação elaborou algumas dicas de gestão de turmas com bastante alunos. Confira!
1. Planeje bem as aulas
Para que os processos educativos aconteçam de maneira facilitada, é essencial que os professores contem com um plano de ensino bem completo. Mas, mais do que isso, é importante que haja um plano de aula detalhado.
Não é possível ter certeza de que cada um desses planos de aula será cumprido à risca, como já sabemos. Mas tê-los preparados e adaptá-los ao longo do semestre pode ajudar a dar conta de todo o conteúdo, apesar dos desafios de avançar no ritmo planejado em uma turma grande.
Um bom plano de aula ajuda a:
- determinar as prioridades de cada aula, garantindo que o conteúdo mais importante seja passado;
- tirar as dúvidas mais recorrentes dos alunos;
- cumprir todo o programa do curso, sem deixar lacunas.
2. Tire um tempo para conhecer os alunos
Em turmas grandes, é comum que os professores não consigam dar atenção exclusiva a cada um dos estudantes. No entanto, é importante tentar separar alguns momentos para acompanhar a turma e conhecer melhor as pessoas que a compõem.
Uma sugestão é encaixar esses momentos ao longo do plano de ensino. Ter aulas focadas em conhecê-los, entender suas ansiedades e medos, e mesmo saber quais são os seus objetivos pessoais e dificuldades no conteúdo pode fazer com que:
- as lacunas de aprendizado sejam reduzidas;
- as metodologias ativas escolhidas estejam em acordo com os objetivos e interesses da turma;
- a elaboração de aulas futuras seja otimizada e mais assertiva.
3. Use a tecnologia a seu favor
Além de possibilitar uma melhor gestão do tempo, a tecnologia pode ser uma aliada quando o assunto é a gestão de turmas grandes. Isso porque ela pode ajudar a:
- cobrir e reforçar conteúdos menos centrais, mas que podem gerar dúvidas;
- manter a motivação dos alunos na sala de aula;
- despertar a curiosidade sobre temas mais densos;
- estimular a realização de tarefas e atividades de reforço, se necessário.
Hoje em dia, é praticamente impossível separar a tecnologia da educação. E um professor de IES precisa estar atento às metodologias que podem ser aplicáveis em sua sala de aula para manter os chamados alunos do futuro atentos e interessados no conteúdo.
Algumas técnicas que podem ser aplicadas são:
Dessa maneira, é possível fazer com que a grande quantidade de alunos interaja tanto entre si, de modo controlado e produtivo, quanto com o professor e com o conteúdo aplicado a cada aula.
Conheça 5 estratégias de ensino para turmas grandes
As estratégias de ensino são técnicas usadas pelos professores para estimular os alunos durante o seu processo de ensino-aprendizagem. Isso significa que elas contribuem para a aquisição de conhecimento e para manter os estudantes focados nas disciplinas.
Ao elaborar estratégias de ensino para turmas grandes, é preciso ter em mente dois fatores principais:
- se essas estratégias atingem positivamente a maior parte dos alunos; e
- qual é o nível de conhecimento dos alunos sobre um tema.
Por isso, é importante conhecer melhor os estudantes aos quais as estratégias se dirigem e verificar atentamente se a recepção e os resultados estão sendo positivos. Uma dica é aplicar a taxonomia de Bloom.
Mantendo isso em mente, selecionamos 5 estratégias de ensino para turmas grandes. Confira!
1. Faça experimentos práticos
Essa estratégia é indicada nos casos em que o nível de conhecimento dos alunos ainda não é muito alto ou que a complexidade do tema pode gerar dúvidas. Se a sua Instituição de Educação Superior possibilita o uso de laboratórios, investir em experimentos práticos pode ajudar a:
Caso o seu laboratório não comporte todos os alunos de uma vez, divida a turma em grupos e crie estratégias de trabalho em equipe: enquanto alguns fazem os experimentos, os outros podem ter um ensino mais teórico e autônomo; em seguida, esses times são invertidos.
Nas IES que não contam com um laboratório, também é possível explorar a criatividade do professor e dos alunos. Sugira aulas em campo, estimule os alunos a colocar em prática o que está sendo discutido e, se necessário, crie situações hipotéticas que devem ser resolvidas.
2. Tenha um brainstorm
Suponha que a sua matéria se baseia na resolução de um conflito específico ou de uma equação complexa. Antes de começar a dizer aos alunos o que fazer, uma boa ideia é perguntar a eles como eles solucionariam determinado problema. Para isso, o brainstorm pode ser um bom aliado.
Também chamado de “tempestade mental”, o brainstorm é uma estratégia de ensino em que todos têm liberdade para sugerir ações ou soluções sem pensar muito sobre elas. Em turmas grandes, essa pode ser uma maneira de incentivar a participação de todos — afinal, não existem respostas erradas.
Depois desse processo, a solução do problema se torna mais fácil e mais colaborativa. É possível testar caminhos, voltar atrás e, com isso, estimular o pensamento crítico e a tomada de decisão assertiva. Além disso, os alunos se sentem mais confiantes para cometer erros, o que é um fator importante durante o seu processo de ensino-aprendizagem.
3. Crie um júri simulado
Outra maneira de testar os conhecimentos e a elaboração crítica dos alunos em turmas grandes é criando um júri simulado. Nele, a sala é dividida em grupos contra e a favor de um determinado tema, e deve haver uma discussão entre os estudantes para chegar a um consenso.
Para os cursos focados em humanidades, essa prática pode ajudar na produção de conhecimento acadêmico mais refinado, uma vez que os alunos precisam articular seus pensamentos e ideias de forma clara e crítica. Já para os cursos de exatas, esta estratégia pode ser uma maneira de estimular o debate e encontrar soluções mais criativas para um problema.
4. Proponha seminários
Os alunos de períodos mais avançados ou em momentos mais avançados do curso podem contribuir para o debate na sala de aula a partir da construção de seminários. Com essa estratégia, uma turma grande pode ser separada em grupos menores que devem pesquisar e apresentar um tema em comum.
Para o professor, essa estratégia ajuda a acompanhar o envolvimento dos alunos nas disciplinas e tarefas e a observar eventuais lacunas. Já para os alunos, ela pode ser útil para:
Para que uma estratégia como os seminários se torne mais interessante, o professor pode pensar em tipos de apresentações mais lúdicas. Em uma turma de programação, por exemplo, elas podem ser feitas por meio de jogos; em uma turma de administração, podem ser criados modelos de empresas; etc.
5. Use tecnologias novas
Novamente, cabe salientar a importância da tecnologia na criação e aplicação de metodologias inovadoras no Ensino Superior. Para que a sala de aula se torne um espaço mais dinâmico e interessante, especialmente com turmas grandes, o uso de tecnologias pode ser benéfico.
O professor pode ter auxílio de uma plataforma de ensino para passar testes e atividades que não poderiam ser realizadas em sala de aula e cuja correção é automática, por exemplo. Também é possível construir fóruns e espaços de pesquisa coletiva, nos quais a interação entre estudantes é estimulada e as lacunas de aprendizagem podem ser reduzidas.
Embora a educação digital seja um processo ainda em andamento, valorizar as diferentes formas de tecnologia pode também fazer com que os alunos se sintam mais familiarizados com a turma e a IES como um todo. Desse modo, é mais provável que eles sejam participativos e esforçados em suas tarefas.
Agora que você já sabe como gerir uma turma grande e quais estratégias de ensino podem ser aplicadas nela, não deixe de conferir também 12 dicas para fazer aulas interativas no Ensino Superior!