Na atualidade, cada vez mais as empresas têm se preocupado em ter boas práticas de governança. Estas medidas são necessárias para garantir uma gestão eficiente, com transparência e responsabilidade social.
No setor educacional, o quadro não é diferente. Os gestores das instituições de educação superior (IES) querem adotar as melhores ações, de modo a ampliar o valor de mercado de suas faculdades. Isso também tem um impacto significativo na retenção e captação de alunos.
Hoje, as corporações enfrentam um contexto desafiador. São diversas questões sociais e ambientais, por exemplo, que impactam em sua reputação e valor econômico a longo prazo. Por exemplo, sua função na luta contra as desigualdades sociais e os problemas ambientais.
Assim, as IES devem estar atentas ao seu papel diante destes desafios, e também nos impactos das atividades delas. Atuar de forma responsável e ética é uma obrigação. Todas estas questões são agrupadas pelo acrônimo ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance; em português: Ambiental, Social e Governança).
Neste artigo, explicaremos o conceito de governança, seus princípios e a importância dela para as instituições de ensino superior. Também listaremos as melhores práticas de governança para o setor da educação. Boa leitura!
O que é o conceito de governança?
A governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas são dirigidas e controladas. Ou seja, este conceito agrupa toda a estrutura da corporação, o relacionamento entre os sócios, as práticas, missões e regras que fazem com que a instituição atinja seus objetivos, e seja bem-sucedida.
No contexto do ESG, a governança está relacionada aos outros dois pilares: ambiental e social. Dessa forma, a universidade deve estar atenta aos desafios da atualidade, adotando práticas de governança que estejam alinhadas com o desenvolvimento sustentável.
Assim, boas ações de governança corporativa produzem o crescimento da IES, aumentam seu valor de mercado e reputação, sempre com responsabilidade socioambiental e ética. Também geram estabilidade à universidade, pois ela se consolida como uma empresa transparente e confiável.
Qual é a importância da governança para a IES?
Na obra ESG – Teoria e prática para a verdadeira sustentabilidade nos negócios, a professora Ana Cláudia Ruy Cardia Atchabahian explica que as práticas ESG – entre elas, a governança – têm uma importância para garantir a sobrevivência das empresas em dois aspectos:
“Por um lado, a sobrevivência planetária depende de uma mudança de paradigma por parte de todos os sujeitos e atores que compõem a sociedade internacional. Por outro, a sobrevivência de um negócio sob o ponto de vista econômico-financeiro é a chave para o estabelecimento de novos programas.
É fato que empresas que hoje investem parte de seu capital e seus lucros em programas de ESG obtêm retorno financeiro superior àquelas que não contam com programas semelhantes em seus quadros internos” (ATCHABAHIAN, 2022, p.22) (destaques nossos).
Ou seja, ao adotar boas práticas de governança, as universidades contribuem para o desenvolvimento sustentável, combatendo os problemas ambientais. Assim, inserem-se na mudança de paradigma empresarial, alterando a forma de se relacionar com o meio ambiente.
Também garantem a sobrevivência da sua instituição. As empresas que investem em ESG têm um maior retorno financeiro, maior valor de mercado e boa reputação. Desse modo, a IES tem impactos positivos na captação e retenção de alunos, além de aumentar os índices de confiabilidade da sua marca.
Por fim, a gestão educacional é otimizada. Conforme veremos adiante, boas medidas de governança colaboram para um bom relacionamento entre as partes da empresa, transparência e saúde financeira.
Leia também: 10 estratégias para a captação de alunos
Quais são os princípios da governança?
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) define os princípios da governança em seu Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. São eles:
- Transparência;
- Equidade;
- Prestação de contas;
- Responsabilidade corporativa.
Entenda em detalhes:
1. Transparência
A transparência corporativa é o desejo de disponibilizar informações relevantes para as partes interessadas. Elas não se restringem àquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos.
Sendo assim, também não se limitam ao desempenho econômico, e devem contemplar os demais fatores que norteiam a ação gerencial.
2. Equidade
A equidade diz respeito ao tratamento justo e isonômico de todos os membros da empresa. A IES deve levar em consideração os direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas de cada um de seus funcionários.
3. Prestação de contas
Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro e conciso, assumindo a responsabilidade pelas consequências de seus atos e omissões — em especial aqueles que violam os pilares ambiental e social do ESG. Assim, devem exercer seu papel com diligência e responsabilidade.
4. Responsabilidade corporativa
A administração da IES deve zelar pela viabilidade econômico-financeira da instituição. Dessa forma, deve reduzir as externalidades negativas de seus negócios, e aumentar as positivas. Isso deve ser feito levando em consideração diversos capitais, como financeiro, intelectual, humano, social, ambiental e reputacional, no curto, médio e longo prazos.
Quais os impactos da governança eficaz para a IES?
No livro Governança Corporativa e Sucesso Empresarial, o professor André Luiz Carvalhal da Silva explica que diversos estudos empíricos atestam a existência de uma relação positiva entre governança corporativa, valor e desempenho das empresas.
Por exemplo, um estudo, conduzido pela McKinsey Company, entrevistou diversos investidores na Europa, na Ásia e na América Latina, com o objetivo de determinar se eles estariam dispostos a pagar mais por uma empresa com boas práticas de governança e quanto seria esse prêmio.
Mais de 80% dos investidores estariam dispostos a pagar mais por uma empresa com boas medidas de governança, enquanto 75% deles consideravam este conceito tão importante quanto o desempenho financeiro da companhia.
Na América Latina, quase metade dos investidores considerou a governança mais importante do que o desempenho financeiro.
Isso mostra que o investimento em governança amplia significativamente o interesse na IES, garantindo sua viabilidade a longo prazo.
Além disso, é evidente que, se a governança é eficaz, a IES consegue ter uma boa sustentabilidade financeira, conseguindo alocar recursos de modo a atingir suas missões institucionais. Assim, a qualidade do ensino é garantida, o que aumenta ainda mais a confiabilidade e reputação da universidade.
Quais são as melhores práticas de governança para as IES? Confira 8 dicas
Agora que passamos pelo conceito, a importância e os impactos de uma boa governança, é necessário entender quais são as melhores práticas para colocar em ação este pilar essencial do ESG.
O IBGC elaborou uma Agenda Positiva de Governança, que se baseia em seis pilares:
- Ética e integridade;
- Diversidade e inclusão;
- Ambiental e social;
- Inovação e transformação;
- Transparência e prestação de contas;
- Conselhos do futuro.
Dessa forma, todas as boas práticas de governança devem levar em consideração estes elementos. A partir das sugestões da Agenda do IBGC, elaboramos a lista a seguir com boas medidas de governança que podem ser adotadas pelas IES. Confira:
- Definir a missão institucional da IES;
- Nortear-se pelos princípios básicos da governança corporativa;
- Basear os relacionamentos no princípio da integridade;
- Divulgar a justificativa para a tomada de ações;
- Estimular a sustentabilidade;
- Divulgar informações de forma completa;
- Desenvolver líderes empáticos;
- Criar um ambiente diverso e de confiança entre os funcionários.
Entenda em detalhes:
1. Definir a missão institucional da IES
O IBGC propõe que os seis pilares de sua agenda (a saber: ética e integridade; diversidade e inclusão; ambiental e social; inovação e transformação; transparência e prestação de contas; e conselhos do futuro) sejam integrados ao propósito, à cultura organizacional e aos modelos de negócio e de geração de valor da IES.
Os agentes de governança devem basear suas decisões na identidade da organização, e ter em mente como seus comportamentos diários impactam a empresa e a sociedade.
O professor André Luiz Carvalhal da Silva explica que o conselho de administração é o responsável por definir esta estratégia, e que ele deve trabalhar em prol da sociedade como um todo.
2. Nortear-se pelos princípios básicos da governança corporativa
Os princípios básicos da governança (transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa) devem nortear a gestão da IES. Dessa forma, toda sua estrutura deve ser balizada por estes comandos, e eles são importantes fatores para o diálogo com as partes interessadas, e também para a tomada de decisão.
3. Basear os relacionamentos no princípio da integridade
O IBGC propõe que os relacionamentos da IES com seus funcionários, professores e alunos sejam baseados nos princípios de ética e integridade. De acordo com o Instituto, a cultura de integridade é aquela em que as pessoas praticam a confiança, o respeito, a empatia e a solidariedade.
Logo, é essencial que os agentes de governança promovam um espaço que dêem abertura para o diálogo, em que todas as partes sejam ouvidas.
4. Divulgar a justificativa para a tomada de ações ESG
A IES deve sempre embasar a adoção de práticas ESG, por meio de justificativas econômicas (business case), destinadas ao mercado.
Isso contribui para gerar transparência e também mostrar que a instituição está preocupada em tomar medidas efetivas nos âmbitos social, ambiental e de governança. Por consequência, sua reputação e confiabilidade aumentam.
Conheça: A importância da gestão ambiental na universidade
5. Estimular a sustentabilidade
Do ponto de vista ambiental, é papel dos gestores estimular o mercado e o consumo de produtos e serviços sustentáveis, por meio do investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento.
As universidades são espaços de experimentação, de se pensar em novas possibilidades. Dessa forma, os líderes da IES devem investir em pesquisa, visando ao desenvolvimento de alternativas sustentáveis.
O efetivo enfrentamento dos problemas ambientais requer a participação de todos os setores sociais, e as IES também devem fazer sua parte.
Leia também: Tudo o que você precisa saber sobre a inovação na educação superior
6. Divulgar informações de forma completa
Como vimos, para o IBGC, a transparência e a prestação de contas são pilares obrigatórios para uma boa governança corporativa.
A forma de tornar concreto estes elementos é por meio da divulgação de informações. O Instituto propõe:
- Assegurar que as informações divulgadas sejam comunicadas, tanto para o público interno quanto para o externo, de forma completa, clara e concisa, considerando a percepção das partes interessadas sobre os impactos causados pela organização;
- Evidenciar a forma como a organização gera valor ao longo do tempo, por meio da divulgação de informações integradas de natureza econômico-financeira, social, ambiental e de governança corporativa com igual nível de qualidade e confiabilidade.
Ou seja, não são apenas os relatórios econômicos, ou aqueles que a empresa tem a obrigatoriedade legal, que devem ser divulgados. A IES deve ser totalmente transparente em seus processos, colocando-se à disposição para prestar informações a seu público.
Tudo isso colabora para a reputação da universidade, fator essencial para que os alunos confiem nela.
7. Desenvolver líderes empáticos
As lideranças dos mais diversos setores devem ser empáticas. Isto é, devem ser capazes de escutar ativamente, ter abertura ao dissenso, horizontalidade e possuir vontade de colaborar.
Para isso, é importante que a IES implante processos seletivos e programas de incentivos que reconheçam e desenvolvam estes líderes empáticos. Por meio dessas lideranças, os diversos setores da instituição têm sua participação facilitada e as demandas atendidas.
Ademais, as soluções podem ser propostas coletivamente, o que contribui para a motivação e o senso de comunidade.
Veja também: 6 dicas para cuidar da saúde mental dos professores em sua instituição
8. Criar um ambiente diverso e de confiança entre os funcionários
Por fim, são boas práticas de governança: a criação de um ambiente de confiança e segurança psicológica, de modo que as pessoas possam debater, divergir, reportar erros, manifestar dúvidas e oferecer contribuições.
E também a constituição de um programa de diversidade na educação e inclusão, com alocação de recursos e pessoas com a meta de concretizar um plano de ação para ampliar a diversidade e fomentar a cultura da educação inclusiva na IES.
Ou seja, as universidades devem efetivamente garantir que existam diversidade e inclusão entre seus funcionários, e que seja um ambiente de diálogo, confiança e abertura. Este é um aspecto essencial para o acolhimento dos alunos.
Esperamos que você tenha gostado deste artigo sobre governança. Que tal também conferir como transformar a sua IES por meio da gestão da inovação?