Se tem um tema recorrente na atualidade, principalmente nos meios acadêmicos e na internet, com certeza é a saúde mental. Hoje em dia, se debate muito mais os problemas que atacam nossa cabeça, emoções e comportamentos, mesmo ainda existindo um certo tabu.
Com a pandemia de covid-19, a saúde mental dos professores também entrou em pauta. O trabalho, que já é naturalmente cansativo, enfrentou diversas alterações de forma totalmente abrupta, trazendo dificuldades para se adaptar e um desgaste em toda a classe.
Com a volta ao ritmo “normal”, se tornou urgente olhar para a saúde mental dentro das Instituições de Educação Superior (IES). O ensino deve ser libertador, não podendo, de forma nenhuma, se tornar uma prisão para quem o compõe, seja professores ou alunos.
Neste artigo, iremos tratar especialmente da saúde mental dos professores. Além de apontar as dificuldades da profissão, principalmente com a pandemia, iremos ver também a importância e alguns cuidados que devem ser tomados. Continue a leitura!
O que é saúde mental e como a rotina dos professores a afeta?
Com uma definição simples, podemos entender a saúde mental como o equilíbrio que temos com nossas emoções e pensamentos, a forma como lidamos com as adversidades, cobranças e mudanças em nossa vida.
Se toda essa atividade comportamental não está de acordo com o esperado para uma vida saudável, podemos estar diante de transtornos, doenças ou sofrimentos mentais.
Apesar de ter uma profissão extremamente importante para o país, os professores passam por diversas situações no trabalho que contribuem para seu cansaço. Nesta realidade, tem se tornado comum a síndrome de Burnout em professores, que diz respeito ao esgotamento mental por causa do trabalho.
Dentro das circunstâncias que tornam lecionar um trabalho mais cansativo, separamos 4 das principais. Veja quais são:
- contar com turmas muito cheias, sem pode dar atenção para toda a classe e com muito barulho;
- levar serviço para casa, precisando trabalhar além de seu horário e preterindo sua vida pessoal;
- preocupar demais com o desempenho dos estudantes e com a importância da profissão, ficando diversas vezes frustrados com os resultados; e
- ter um trabalho rotineiro e repetitivo, no qual a vida profissional não parece estar em movimento.
Diversas pesquisas mostram que a saúde mental dos docentes no Brasil está prujuducada. Veja alguns desses números que são alarmantes:
- De acordo com uma pesquisa realizada no Paraná, em 2018, 70% dos professores enfrentavam a ansiedade, 44% tinha depressão e 75% tinham algum distúrbio psíquico menor;
- Já na pesquisa do Nova Escola, 60% dos docentes indicaram problemas de ansiedade e estresse recorrentes;
- O Movimento Todos Pela Educação checou que 50% dos professores não recomendam a profissão para seus alunos;
- A pesquisa Realidade Docente 2022 mostrou que 50% dos professores perceberam um aumento de trabalho na pandemia sem modificar o salário; e
- Por fim, outra pesquisa do Nova Escola, agora em 2021, aponta que 72% dos docentes tiveram a saúde mental afetada e precisaram de apoio na pandemia.
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Como a pandemia afetou a saúde mental dos professores?
Como você viu nas últimas pesquisas, no meio de tantas dificuldades da profissão, em 2020, isso ainda se intensificou. Com a pandemia de coronavírus, para manter as aulas e toda a educação funcionando, foi fundamental que o ensino remoto emergencial (ERE) fosse aplicado.
Estar longe das escolas trouxe diversas dificuldades, e a educação sofreu com algumas específicas. Veja a seguir 5 situações que contribuíram para o esgotamento dos professores durante a pandemia:
1. Isolamento
2. Nova a rotina com ensino remoto
3. Dificuldade em dar aulas online
4. Cobranças maiores
5. Mais trabalho não remunerado
1. Isolamento
De início, não podemos esquecer que educar é uma atividade de caráter social, que além do individual, tem uma missão para toda a comunidade. Estar longe de seus alunos e colegas pesou muito na realidade dos professores, que estão acostumados com uma troca de saberes bem mais próxima.
2. Nova a rotina com ensino remoto
Mesmo sem um preparo inicial, os professores foram pegos de surpresa com a realidade do ERE. Foi preciso introduzir no cotidiano aulas com ferramentas síncronas e assíncronas, novos horários para preparar o conteúdo e metodologias específicas para o ensino virtual.
3. Dificuldade em dar aulas online
Além das mudanças de formato, houve ainda a dificuldades de muitos em se adaptar ao uso da tecnologia. Em muitos casos, os docentes tiveram que entrar no mundo digital sem ter nenhum treinamento, o que se somou com a realidade de não ter controle sobre a turma no modo online.
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4. Cobranças maiores
Com a preocupação em como a educação poderia continuar em meio a uma pandemia, muitas IES reforçaram as exigências em cima dos professores. Indo além, ainda houve uma auto cobrança para ter certeza de que conseguiria dar conta do recado e manter as aulas com a qualidade habitual.
5. Mais trabalho não remunerado
Como já falamos, foi uma queixa comum dos professores o serviço ter aumentado e a remuneração não. Além de dar aulas para mais pessoas no modelo remoto, muitos docentes reclamam por não terem recebido a remuneração equivalente aos materiais didáticos criados por eles na pandemia.
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Como identificar os sinais de adoecimento mental em professores?
Mesmo a saúde mental, atualmente, sendo um assunto comentado na sociedade, ainda existe muito tabu sobre o tema. Muitos continuam com medo de carregar diversos estigmas por conviver com algum sofrimento mental, não se abrindo sobre o assunto, ainda mais em um ambiente profissional.
Como os professores nem sempre irão falar sobre as dificuldades que os aflige, é interessante observar alguns indícios de que eles precisam de ajuda. Os sinais podem ser até mesmo coletivos, afinal, a saúde mental é individual, mas os problemas são comuns e coletivos. Veja agora alguns destes sinais:
1. Afastamento de colegas e alunos
2. Desânimo e cansaço
3. Atrasos constantes
4. Comportamentos compulsivos
1. Afastamento de colegas e alunos
Um dos sintomas mais comuns de que algo não está certo com qualquer pessoa, se afastar do convívio com quem está em seu cotidiano é algo alarmante. Um professor com falta de interesse em manter relações interpessoais deve ser uma preocupação para a IES.
Para quem leciona, estar em contato com o ser humano é algo habitual e prazeroso, por isso, é importante prezar pela relação entre professor e aluno. Se o professor estiver muito afastado dessa convivência, é importante oferecer apoio, mas com cautela para não ultrapassar o espaço de ninguém, pois isso pode piorar a situação.
2. Desânimo e cansaço
Pessoas mentalmente esgotadas estão frequentemente apáticas, demonstrando desânimo e cansaço até para simples atividades rotineiras. A falta de empolgação para as aulas e demais compromissos são alarmantes, podendo ser algo pontual ou um problema mais sério.
3. Atrasos constantes
Quem está com a saúde mental abalada costuma ter problemas em se organizar, em manter uma rotina produtiva. Isso é comum nos casos em que o interesse pela ocupação vai caindo, quando o cansaço já começa a retirar a importância daquilo que é feito.
É importante não lidar com os atrasos com punição, e sim com diálogo. Tente entender o caso do professor e ver de qual forma a IES pode apoiá-lo.
4. Comportamentos compulsivos
Com os problemas que atacam a saúde mental, nem sempre a pessoa terá atitudes depressivas. Em alguns casos, seu desequilíbrio comportamental pode ser demonstrado através de condutas compulsivas.
O exagero em algumas atividades alienantes é sempre preocupante! Esse comportamento compulsivo pode estar ligado ao uso de álcool ou drogas, consumo de alimentos, ou até mesmo no vício em redes sociais ou jogos.
Qual a importância de se trabalhar a saúde mental do educador?
Além de ser fundamental para si próprio, estar com a saúde mental em dia é algo que ajuda toda a sociedade. As pessoas saudáveis ajudam a construir um ambiente em que todos cresçam em conjunto, inclusive influenciando no bem estar do próximo.
Pensando em uma IES, para a comunidade acadêmica funcionar, os professores são um de seus principais alicerces. Além de transmitir o conhecimento, eles engajam e são verdadeiros exemplos para os alunos.
Ser um bom exemplo para o corpo discente já é algo suficiente para ajudar os professores a estarem bem, mas existem outros motivos. Veja 4 deles:
1. Saúde individual do ser humano
2. Domínio das tecnologias e da didática
3. Melhora na comunicação com os estudantes
4. Fortalecimento da comunidade acadêmica
1. Saúde individual do ser humano
Antes de pensar no professor como um recurso para a IES, é fundamental vê-lo como um ser humano, que tem sua própria vida, com demandas, qualidades, angústias, potenciais, etc. Querer que todos estejam bem é um requisito para cada um, ainda mais quando se trata de pessoas em nosso convívio.
Mesmo que não mudasse nada para a IES, ela já deveria se esforçar para ter um corpo docente saudável. Fortalecer a saúde mental é uma missão de todos!
Leia também: Como cuidar da saúde mental dos estudantes na IES?
2. Domínio das tecnologias e da didática
Mesmo as aulas presenciais tendo voltado, estamos em um momento que é comum utilizar Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) na educação. Apesar dos problemas, a pandemia mostrou que diversos recursos da internet podem aperfeiçoar o ensino.
Para que o professor domine as tecnologias, é fundamental que ele esteja bem. Só com uma boa saúde mental é que as pessoas podem aprender novas expertises e se reinventar.
3. Melhora na comunicação com os estudantes
Lembra quando falamos que se afastar dos colegas e alunos é um sinal de que algo não está bem? Pois é, quando a mente está em equilíbrio acontece o contrário, emulando um professor que se comunica bem com a turma.
4. Fortalecimento da comunidade acadêmica
Além de se comunicar, o professor mentalmente saudável é participativo, ele de fato integra a comunidade acadêmica. Se nas empresas já é pedido por profissionais que vistam a camisa, na IES é ainda mais importante.
A construção de um conhecimento democrático, plural, libertador e de qualidade pede pelo máximo de todos os seus agentes, tanto alunos, professores e IES.
Como promover a saúde mental dos professores?
Para finalizar este artigo, iremos apresentar 6 formas de promover a saúde mental dos professores. Afinal, de que adianta conhecer o problema, saber onde ele atinge a IES e não fazer nada para combatê-lo?
Com um pouco de cuidado e atenção, a instituição pode ajudar muito seu corpo docente. Veja agora algumas formas:
1. Faça a inserção de espaços de diálogo
2. Incentive a atividade física
3. Possibilite suporte dos tutores
4. Não pressione por resultados
5. Ofereça capacitação para novas tecnologias
6. Tenha ajuda especializada
1. Faça a inserção de espaços de diálogo
A comunicação, além de ser um indicador sobre o estado da saúde mental, é um impulsionador para que os professores fiquem bem. O ser humano é um animal social, por isso, manter contato com os outros é seu estado de normalidade.
Além de falar sobre a saúde mental, a IES pode criar espaços de diálogo com os professores, ultrapassando o lado profissional e permitindo que falem sobre si. Lembre-se que as conversas devem ser incentivadas, jamais pressionadas.
2. Incentive a atividade física
Uma das boas formas de combater as doenças que atacam a saúde mental, os exercícios físicos podem ser incentivados pela IES – e, inclusive, realizados em seu espaço! Se exercitar traz vários benefícios neste sentido, como por exemplo:
- combate os sintomas de transtornos mentais;
- libera hormônios;
- melhora o sono; e
- reduz o estresse.
3. Possibilite suporte dos tutores
Se tem algo que causa o esgotamento do profissional, com certeza é o excesso de trabalho. Além da sala de aula, muitos professores precisam levar serviço para casa, além de ficar por conta de responder diversas dúvidas dos estudantes.
Para as aulas online, o ideal é contar com um tutor EaD. Ele é o encarregado de realizar uma mediação pedagógica com os alunos, desafogando o trabalho do professor.
4. Não pressione por resultados!
Estar em constante pressão também faz com que os professores adoeçam, tendo um alto nível de estresse com o dia corrido e com os resultados ruins. Ao invés de cobrar demais para garantir bons resultados, o ideal é que a IES apoie o trabalho dos docentes, deixando sua função mais leve e proporcionando melhores frutos.
5. Ofereça capacitação para novas tecnologias
Mesmo nas aulas presenciais, a tecnologia já é uma realidade para a educação. Se a dificuldade em dominá-la pode adoecer os professores, porque não preparar capacitações para eles? Antes de inserir algo novo, é preciso planejamento para que funcione, e isso perpassa também pelos funcionários.
6. Tenha ajuda especializada
É impossível resolver todos os problemas do mundo! Por mais que devemos ajudar aqueles que estão próximos, cada um tem seu limite do que pode fazer.
Os distúrbios mentais são sérios e não podem ser tratados de qualquer forma, mesmo que com boas intenções. Para pôr em prática as melhores formas de cuidado dentro da IES, conte com ajuda especializada!
Esperamos que você tenha gostado deste texto sobre saúde mental dos professores, e saiba que além do docentes é fundamental fortalecer a saúde mental de toda a comunidade acadêmica. Para melhorar isso, que tal conhecer 12 dicas de melhoria da experiência do aluno?