Muitos educadores do ensino superior podem acreditar que os alunos já chegam decididos sobre qual caminho querem seguir. Na verdade, há muitos alunos que ainda não descobriram qual será sua futura atuação profissional e é justamente por isso que orientação profissional tem um papel tão importante.
É preciso ter em mente que muitos alunos chegam às graduações com apenas ideias sobre seus interesses principais e qual vocação tem mais a ver com suas habilidades. Isso não significa, é claro, que eles tenham certeza sobre qual profissão seguir — muito menos quais das diferentes vertentes de cada profissão devem fazer parte do seu futuro.
Então é muito importante que a instituição de educação superior (IES) também esteja preparada para auxiliar durante esse processo. Assim, é possível fazer da decisão do aluno uma tarefa muito melhor informada e disponibilizar as ferramentas necessárias para que ele possa fazer melhores escolhas.
Não existe necessariamente uma escolha certa, mas a IES é um ambiente muito propício para encontrar profissionais e outros alunos que estejam dispostos a abrir o diálogo sobre as realidades de cada carreira: suas dificuldades, seus destaques e o que é necessário para ter sucesso naquele espaço.
Justamente por isso, o papel da orientação profissional é redobrado no interior das instituições de educação: os alunos fazem parte de uma comunidade acadêmica bastante interessada e engajada em promover o debate sobre quais são os caminhos de cada profissão.
Os gestores da educação superior, por sua vez, devem criar os espaços para promover esse debate profissional. Através deles, podemos compreender quais são as dúvidas dos alunos e fazer com que eles tenham as ferramentas necessárias para fazer suas escolhas.
Além de contribuir para um mercado de trabalho com profissionais mais preparados, a instituição de ensino também promove a melhoria da experiência do aluno através dessas iniciativas.
No presente artigo, vamos falar sobre a importância e vantagens da orientação profissional no ensino superior, além de apresentar dicas práticas para implementá-la em sua IES.
Tenha uma boa leitura!
Qual é o perfil do ingressante na educação superior brasileira?
Antes de mais nada, é necessário conhecer melhor o perfil dos alunos que ingressam na educação superior. Assim, podemos desenvolver programas de orientação profissional mais bem direcionados.
Atualmente, jovens e adultos de variadas idades buscam o espaço das IES não só para qualificar-se, mas também para ampliar seus horizontes educacionais e conhecer as diferentes ferramentas que podem levar para a sua área de trabalho, seja ela qual for.
Essa diversidade é fruto da democratização do ensino. Contudo, podemos identificar algumas características predominantes entre os alunos ingressantes.
De acordo com o Mapa do Ensino Superior do Brasil 2020, os ingressantes são constituídos, em sua maioria, por:
- Mulheres, entre 19 e 24 anos;
- Estudantes do turno da noite;
- Provenientes de escolas públicas,
- Matriculadas em IES privadas;
- Pessoas que precisam trabalhar para ter renda, apesar de não serem, em regra, as responsáveis financeiras de seu domicílio.
Os perfis de trabalho também merecem destaque. Na rede privada, os alunos do ensino superior tendem a trabalhar concomitantemente a seus estudos: 62% têm emprego, sendo que quase metade deles trabalha entre 40 e 50 horas por semana.
A renda é outro fator relevante: na maior parte dos ingressantes, era de até dois salários mínimos, explicando a necessidade de renda extra para alunos que custeiam total ou parcialmente seus estudos.
Leia também: 5 passos para montar um programa de financiamento estudantil
Como desenvolver a empregabilidade dos alunos?
Pensando no futuro do aluno, é importante que a IES facilite o desenvolvimento de sua trabalhabilidade e empregabilidade. São características que resultam de uma soma de competências e habilidades, além de currículo e atuação profissional.
Como um dos pontos mais relevantes para o ingressante é desenvolver sua empregabilidade durante a graduação, é essencial que a IES tenha ferramentas necessárias para auxiliar nesse processo.
É preciso ajudar o aluno não somente a absorver o conteúdo das disciplinas, mas também a desenvolver:
- Autonomia de estudos;
- Proatividade em atividades;
- Multidisciplinaridade de interesses;
- Relações interpessoais, etc.
Essas e outras habilidades são as chamadas soft skills, tão relevantes para seu futuro quanto o destaque acadêmico.
Quais são os cursos mais atraentes em termos de atuação profissional?
Alguns cursos superiores são vistos como mais versáteis por futuros empregadores e justamente por isso atraem muitos alunos, quando pensam em qual curso escolher.
É o caso, por exemplo, do curso de Direito, um curso multidisciplinar de grande popularidade atualmente. De acordo com o Censo da Educação Superior, o Direito é o curso mais popular na modalidade presencial. Quase 800 mil alunos estão matriculados, entre a rede privada e federal.
Já no ensino superior a distância, a Pedagogia é o foco: mais de 500 mil matrículas na rede privada e mais de 15% do total dos alunos a distância da rede federal.
A versatilidade explica esse cenário: no Direito, há uma ampla área de atuação profissional e o egresso pode se especializar, oferecendo maior empregabilidade. Já na Pedagogia, o aluno se prepara para atuar em diferentes contextos escolares.
Leia também: Saiba quais são os cursos com maior empregabilidade no Brasil
Compreenda a importância da orientação profissional
A presença de orientação profissional é uma ótima estratégia a ser executada pelas IES. Esse recurso, com o apoio de profissionais qualificados, pode fazer toda a diferença em manter o aluno motivado e ajudá-lo a escolher as próprias trilhas de aprendizado e carreira.
Orientação profissional e trabalhabilidade
Além de um currículo que leve à empregabilidade, é importante que o egresso de um curso em sua IES tenha trabalhabilidade, isso é, ter a capacidade de exercer sua função, não apenas se destacar como candidato.
Esse conceito, mais contemporâneo, também é o que permite ao profissional abstrair seus conhecimentos e aplicá-los em diferentes caminhos, não apenas na possibilidade de se candidatar a um emprego.
Um aluno que cursa Ciências Contábeis, por exemplo, pode ter um ótimo currículo, aliado a estágios, cursos de extensão, atividades voluntárias, pesquisa, etc. Isso o destaca dentro do mercado de trabalho.
Porém, um aluno que planeje abrir seu próprio negócio ou crescer um empreendimento depois da formatura pode querer buscar outros caminhos dentro da graduação. Se ele não encontrar espaço para desenvolver diferentes habilidades, pode acabar desmotivado.
Outro aluno, que entre no curso por seu interesse na teoria, pode estar perdido com os anos finais, sem entender qual profissão terá após a formatura e quais itens deve adicionar em seu repertório para alcançar seus objetivos.
Nesse sentido, a orientação profissional é fundamental: depois de alguns anos no curso, os alunos já começam a compreender quais facetas daquela área de atuação são mais interessantes, mas nem sempre conseguem encontrar os caminhos que façam sentido para eles.
A orientação profissional pode ajudar a encontrar as atividades que o levem por esse caminho, desde a busca por estágios até as experiências dentro da IES.
Orientação profissional e soft skills
É na orientação profissional que o aluno entende quais competências intra e interpessoais (as soft skills) ele precisa desenvolver durante o restante de seu curso. Na sala de aula, muitas vezes, o foco é na parte do conteúdo, da teoria e da aplicabilidade.
Mas para a atuação profissional, muitas vezes o aluno se sente perdido entre as opções, quais habilidades ainda precisa desenvolver e como alcançá-las.
O orientador profissional pode direcioná-lo nesse sentido, dialogando sobre cada possibilidade, sobre quais desafios estão pela frente e como cada um pode utilizar seus talentos e habilidades para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Orientação profissional e realidade do mercado
O processo de autoconhecimento, estimulado na orientação profissional, também é importante para os alunos que não se sentem pertencentes ao curso que escolheram. Muitas vezes, essa escolha ocorre durante uma fase da vida de várias mudanças. É possível que o aluno não tivesse, naquela época, um retrato fidedigno da realidade da profissão.
Na maior parte dos casos, quando esse perfil de aluno encara as partes específicas da atuação, suas barreiras e desafios, ele se sente incerto e inseguro, necessitando de uma ajuda para entender se aquele é mesmo seu caminho.
É comum que estudantes tenham uma pré-concepção errada do curso ou da profissão quando estão no Ensino Médio, então as mudanças bruscas do Ensino Superior trazem angústia. A orientação profissional, no entanto, pode ajudar esses alunos a entender se estão no caminho certo e o que fazer se não estiverem.
Leia também: Novas profissões do futuro exigem novas IES: saiba como ter uma instituição de educação superior inovadora
Quais são as vantagens da orientação profissional para a IES?
Apesar de ser uma estratégia voltada primariamente para os alunos, é inegável que a orientação profissional traz benefícios diretos para a IES. Vamos apresentá-los a seguir.
1. Melhoria da imagem do mercado de trabalho
Quando os alunos saem da IES, é importante que eles tenham boa atuação profissional para que possam utilizar sua formação e ampliar a reputação de seu curso. Uma das razões pelas quais futuros alunos optam por sua IES é a experiência de ex-alunos.
Mas é claro que o aluno não pode ser um bom exemplo se ele não se encontra na área em que cursou sua graduação, ou até mesmo demonstra arrependimento. A ideia, pelo contrário, é fazer com que todos os alunos matriculados encontrem caminhos com que se identificam.
2. Estímulo à formação continuada
Os alunos que optam pela pós-graduação precisam de uma base compatível. Por exemplo, um egresso do curso de Administração, considerado versátil pelo mercado, pode querer cursar um um mestrado. Mas para isso, ele precisa ter uma compreensão boa da matriz curricular de sua graduação e entender quais são seus objetivos com a pós.
Aqui, a orientação profissional também tem seu papel: ela direciona os alunos para aumentar sua formação, seja por meio de experiência profissional, seja pela pós. Levando em consideração as dúvidas de cada um, ela pode mostrar quais possibilidades existem e como atingi-las.
3. Redução das taxas de evasão
As taxas de evasão de alunos também são uma questão no segmento superior, e também estão relacionadas à falta de orientação profissional. De acordo com o Mapa do Ensino Superior, de cada 4 alunos que concluem o ensino fundamental, apenas 2 concluem o ensino médio e 1 termina o curso superior.
Entre as razões para o crescimento dessa taxa de evasão, podemos citar:
- Altos custos de mensalidade;
- Desemprego;
- Falta de apoio financeiro (por meio de programas governamentais ou concessão de bolsas, por exemplo);
- Falta de identificação com o curso.
Durante os anos, manter-se no curso passa a se tornar mais difícil por essas razões. Se esse cenário ocorre ao mesmo tempo que uma situação de desconexão com as disciplinas, o aluno fica desmotivado e pode desistir da graduação.
Entre outros fatores, essa falta de identificação pode estar atrelada a uma escolha errônea de curso ou até mesmo de incertezas em relação aos caminhos futuros. Nesse cenário, uma boa orientação profissional pode auxiliar a melhorar a retenção de alunos no ensino superior.
4. Identificar problemas e solucioná-los
Apesar de não ser o foco, a orientação profissional também é um espaço para que a IES note quais lacunas existem na formação. Isso porque os alunos perdem o interesse quando as aulas não os engajam, não fazem uso de metodologias de ensino inovadoras ou estão desconectadas do cenário contemporâneo.
Com isso em mente e o diálogo aberto, é possível fazer alterações e reestruturações que permitam ao aluno um melhor aproveitamento do curso escolhido ou até mesmo a criação de novos cursos que ainda não existiam na IES, apesar da alta demanda dos alunos.
A orientação profissional é, portanto, uma estratégia que beneficia todas as esferas da educação superior. Ela melhora o aproveitamento, engaja a comunidade escolar, abre as portas para a difusão de conhecimento e, claro, auxilia o aluno a encontrar a trajetória profissional que faça mais sentido para ele.
5 Dicas para implantar a orientação profissional na IES
Existem algumas estratégias para implementar a orientação profissional de forma produtiva e acolhedora na IES, que vamos apresentar neste tópico.
1. Entenda o perfil do aluno
Cada IES tem sua comunidade acadêmica e é importante atentar-se a cada realidade específica.
A comunidade acadêmica é o foco de uma instituição, e deve ser vista em sua singularidade. Isso significa que para criar um programa de orientação profissional de qualidade, é preciso escutar os alunos que precisam dessa ferramenta.
Existem múltiplas formas de descobrir o que os alunos buscam, mas a mais comum é a realização de avaliações do curso. Nela, é possível questionar os alunos sobre seus interesses, sentimentos em relação ao curso, o quanto se sentem preparados para o mercado, entre outras perguntas.
A partir delas, a coordenação e a equipe pedagógica terão dados relevantes sobre quais queixas são comuns e poderão direcioná-las aos profissionais aptos.
2. Busque profissionais qualificados
Em segundo lugar, é importante que esse desafio seja enfrentado com o apoio de um profissional da área. De acordo com a Associação Brasileira de Orientação Profissional, é importante que este seja um profissional ético e comprometido com os serviços frente à população.
Em geral, os profissionais atuantes são pedagogos com especialização em orientação profissional, mas há também psicólogos cujo trabalho é voltado ao desenvolvimento profissional. Também, é claro, é importante alinhar a experiência do profissional com as demandas dos alunos: o ideal é alguém que esteja focado em trabalhos para adultos incertos de suas escolhas.
Além da orientação profissional, vale lembrar que a saúde mental dos estudantes é parte importante de uma formação adequada e de boas escolhas de carreira. Para isso, a IES deve oferecer apoio aos alunos que enfrentam este tipo de dificuldade.
Esse apoio é melhor desenvolvido com a criação de uma seção de orientação psicológica, voltada ao autoconhecimento e ao acolhimento do aluno que esteja passando por situações difíceis, inclusive as incertezas profissionais.
3. Desenvolva atividades de diálogo
Além de atividades e reuniões com profissionais, outra estratégia que pode ser utilizada é o diálogo direto com o mercado. Ex-alunos e outros profissionais atuantes são ideais, com muitas histórias para dividir com os alunos.
Essas pessoas, que vivenciam diretamente os desafios e as oportunidades da atuação profissional, podem ser convidadas para eventos, debates e palestras. Essa oportunidade é uma forma dos alunos, dentro da IES, observarem o lado de fora.
Além de explicar quais foram suas barreiras, esses profissionais sabem que o caminho depois da formatura não é tão óbvio, que existem inúmeras atividades que podem ser feitas e que um curso superior abre diferentes leques.
Com essa perspectiva em mente, eles mostrarão aos alunos que não existe somente uma forma de trabalhar após o final do curso.
Esse aprendizado tem dois lados: o primeiro é mostrar aos atuais alunos que suas possibilidades são amplas. O segundo é que alunos de outros cursos, que estão incertos sobre suas escolhas, veem nesses depoimentos uma motivação para alterar o caminho dos estudos.
Leia também: Saiba como desenvolver o ensino por competências na educação profissional
4. Incentive a autonomia
Pensando na média de alunos, é provável que muitos deles tenham interesses que divergem de seu curso tradicional. No entanto, esses interesses não devem ser deixados de lado. Pelo contrário, um futuro profissional de horizontes amplos traz muitos benefícios, a partir da veiculação de novas ideias.
Quando os alunos vivenciam diferentes experiências de um mesmo curso, eles agregam ao repertório uns dos outros. Atividades extracurriculares, por exemplo, são uma forma de mostrar essa variedade.
A orientação profissional tem como papel incentivar que os alunos encontrem formas inovadoras de incluir seus próprios interesses na formação acadêmica, seja ela qual for.
5. Pense fora da caixa
A orientação profissional também tem como objetivo fazer com que o aluno use seu autoconhecimento para entrar em contato com novas ideias, que podem gerar novos planos.
Por exemplo: imagine um aluno que entrou no curso de Direito porque se identificou com ele durante o ensino básico, mas não se identifica com qualquer caminho profissional e deseja, por isso, trocar de curso.
O orientador profissional pode ajudá-lo a entender qual parte do Direito o conquistou e realocar esses interesses. Por exemplo, se foi a leitura e o repertório cultural, o curso de Letras pode ser uma boa ideia.
Se foi a busca por impacto social, há cursos como Ciência Social ou Psicologia. Se foi a vontade de fazer pesquisas, a Antropologia e a Filosofia poderiam ser caminhos. Da mesma forma, o orientador pode ajudar também a definir o que o aluno não busca em um curso.
É papel então da IES, em parceria com o orientador profissional, buscar as questões que estão sendo trazidas e solucioná-las, de forma a criar um ambiente educacional melhor para todos os alunos.
Esperamos que tenha gostado deste conteúdo sobre orientação profissional! Que tal aproveitar e descobrir como mapear a jornada do aluno em sua IES?