Um curso de graduação inclui em sua identidade os alunos que fazem parte de cada uma das turmas de egressos. Isso significa, então, que a formação de turmas daquela instituição de ensino é fundamental para transformar e estabelecer as diretrizes de ensino e aprendizagem formadoras do curso.
Essa identidade é também uma forma de se destacar na captação de alunos: quando a instituição de educação superior (IES) é reconhecida por valorizar a experiência do estudante, ela atrai novos talentos.
Na prática, as experiências adquiridas por professores, alunos e gestores são usadas para determinar futuros caminhos, alinhar os cursos com as expectativas externas e internas e criar os diferenciais da IES.
Para um bom engajamento da comunidade acadêmica, é preciso que os alunos encontrem também os espaços corretos para se expressar, atingir os objetivos educacionais e fazer parte das atividades propostas.
Nesse sentido, a formação de turmas no início dos cursos de graduação (ou reorganização em outros momentos) tem impacto no aproveitamento e nas possibilidades que o ensino superior oferece aos estudantes.
Muitos gestores ficam em dúvida sobre as melhores práticas na formação de turmas no ensino superior. Isso porque, ao contrário do ensino básico, há maior flexibilidade para o aluno — em muitas IESs, é possível escolher disciplinas optativas, realizar matérias em outros períodos, fazer intercâmbios, etc. Sendo assim, a ideia de uma turma é mais fluida, mas não menos importante.
Nesse artigo, vamos explorar algumas possibilidades da formação de turmas, para auxiliar no preparo e sucesso de sua instituição!
Por que formar turmas no ensino superior?
Não existe uma resposta universal para essa questão. Tudo depende do curso que está sendo elaborado, do tamanho da instituição de ensino, da carga teórica e prática da graduação e do tempo dedicado aos estudos.
Por exemplo, um curso de Engenharia em que centenas de alunos entram todos os anos — e que acontece de maneira primariamente presencial — tem um configuração diferente de um curso de Pedagogia realizado a distância.
Um curso amplamente teórico, como o curso de Direito, tem necessidades diferentes de um curso com maior carga prática, como um curso de Design Gráfico.
Por isso, para determinar no projeto pedagógico de curso qual será o critério da formação de turmas, é preciso entender a dinâmica que será adotada para os alunos.
Quais são os critérios que orientam a formação de turmas?
Vamos abordar, agora, os principais critérios que definem a formação de turmas.
1. Tamanho do corpo estudantil
O primeiro passo é entender quantos alunos farão parte daquele curso. Existe uma limitação de infraestrutura física e recursos educacionais que deve ser levada em conta na proposta de um curso. Dessa forma, a IES oferece a melhor formação a seus alunos.
Um curso com 200 ingressantes precisa de mais turmas que um curso de 50. Ainda que não exista um limite oficial de alunos por sala, a capacidade de aprendizagem fica limitada se o docente não tiver recursos para atender às questões de todos os alunos.
2. Carga prática e teórica
Isso é ainda mais significativo em casos de cursos mais práticos ou teóricos. Enquanto aulas expositivas e seminários permitem turmas maiores, as disciplinas laboratoriais não abrem essa possibilidade. Por isso, a formação de turmas deve refletir as demandas da matriz curricular.
3. Metodologias de ensino
Também é importante pensar nas metodologias utilizadas. Um curso mais participativo, com debates, ganha repertório com turmas maiores. Paralelamente, disciplinas baseadas em projetos exigem um olhar mais próximo de docentes e monitores, na forma de turmas menores.
Como melhorar a formação de turmas na IES?
Existem gestores educacionais que acreditam na formação de turmas por desempenho acadêmico. A ideia é que alunos de mesmo rendimento nas notas tenham um aprendizado parecido.
Porém, o processo de aprendizagem, principalmente no ensino superior, vai muito além das notas recebidas. Ele leva em consideração o tipo de metodologia utilizada, a capacidade de aproveitamento do aluno e os estímulos para atingir os objetivos educacionais.
Há alunos que demonstram melhor rendimento em provas, outros absorvem o conteúdo quando participam de experiências ou observam cases. A diversidade de experiências no ensino superior amplia o aprendizado e a riqueza do conhecimento — esse é, inclusive, um dos preceitos da aprendizagem experiencial.
Vamos abordar, agora, alguns outros parâmetros que devem ser levados em conta na formação de turmas.
1. Desenvolvimento socioemocional
Os alunos egressos do ensino superior devem ter não apenas o conhecimento acadêmico necessário para suas carreiras, mas também desenvolver habilidades que os permitam agir da melhor forma frente a decisões importantes.
Entre as coisas que eles devem aprender durante os cursos de graduação está a habilidade de lidar com as próprias emoções e a maturidade na tomada de decisões.
Para desenvolver essas competências socioemocionais — como autonomia, colaboração, solidariedade e empatia — os alunos precisam de ambientes em que tais desafios sejam apresentados.
Nesse sentido, a formação de turmas deve contemplar a necessidade do curso. Ou seja, para um curso com muitas atividades práticas, é preciso que o aluno encontre as formas corretas de se expressar, trabalhar em grupo e determinar por conta própria o equilíbrio entre liderança e colaboração.
Como os gestores e docentes entram nessa equação? É preciso criar um ambiente saudável de interações e permitir que os alunos tenham a autonomia necessária e saibam dosar as ações.
Há instituições de ensino que optam pela manutenção de turmas ao longo do curso, enquanto outras renovam de acordo com as demandas de cada disciplina.
2. Diversidade e inclusão
“Os melhores líderes têm duas habilidades em comum. Primeiro, são pessoas que acolhem perspectivas e experiências diferentes. Segundo, juntam todas essas peças distintas para criar um time coeso e interdependente com um propósito comum.” — Stephanie K. Johnson
Como o mesmo princípio pode ser adotado na IES? Ainda que o ensino superior brasileiro ainda seja marcado pela desigualdade do acesso e permanência, cada vez mais grupos minoritários têm chegado às salas de aulas.
Nesse sentido, formar turmas de acordo com vivências diferentes é uma oportunidade de abrir espaço para o diálogo sobre a realidade do acesso.
Por exemplo, apenas 0,5% dos alunos no ensino superior são pessoas com deficiência (PCD). Se a divisão de turmas for feita por desempenho acadêmico padronizado, essa quebra pode ficar ainda mais distante, já que tais alunos são prejudicados por falta de acessibilidade.
Se os alunos com deficiências estiverem em todas as turmas do curso, eles serão parte mais integrada dele.
O mesmo vale para outras minorias sociais: as instituições de ensino que focam o olhar para salas de aula mais democráticas com pessoas de diferentes vivências, podem ganhar muito com a amplitude do diálogo.
Ao mesmo tempo, também é uma boa ideia promover espaços onde cada um destes grupos possa se organizar, comunicar, criar laços e encontrar apoio para lidar com suas respectivas questões.
3. Flexibilidade e autonomia
No ensino superior, as turmas estão sujeitas a maior flexibilidade. Isso porque os alunos têm mais espaço para controlar decisões em seu aprendizado. Aulas eletivas, atividades de extensão, intercâmbios, entre outros fatores fazem com que o aluno rompa com sua turma ingressante e encontre novos espaços dentro da IES.
Essa flexibilidade é importante para ampliar os horizontes educacionais, já que dá ao aluno maior poder de decisão sobre o que e como ele aprende. Por isso mesmo, é uma forma de desenvolver também a autonomia do aluno.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a evasão de alunos e a inserção de novos estudantes, como no caso de transferências e intercâmbio.
Durante os anos de graduação, é comum que alguns alunos deixem o curso, tranquem matérias para realizar outras atividades, fiquem em dependência acadêmica, façam intercâmbio ou até mesmo venham de outra instituição para a sua. É importante que tais alunos integrem totalmente as turmas.
Um dos critérios que a IES pode adotar na formação de turmas é equilibrar a presença de novatos e alunos da comunidade externa do curso nas disciplinas. Se há, por exemplo, cinco alunos recém-chegados, que tal distribui-los igualmente entre as salas de aula?
Outra ideia é a oferta de uma disciplina por diferentes docentes: como cada um tem sua didática e metodologia, os alunos têm a oportunidade de escolher aquela que mais faça sentido para a própria formação.
Dar aos alunos essa liberdade tem como consequência a organização de turmas alinhadas com as mesmas estratégias de aprendizagem, para além do desempenho acadêmico. Assim, as metodologias usadas pelo professor terão melhor absorção e retenção que turmas aleatórias.
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A importância da formação de turmas para a vida acadêmica
Muito se fala sobre a formação de turmas no ensino básico, mas a existência desse recurso no nível superior também é um diferencial.
A diferença, para instituição de ensino, está justamente na forma com que os alunos interagem dentro e fora da sala de aula. Se a comunidade acadêmica está engajada e focada em colaboração, ela propicia um ambiente de aprendizado muito mais rico.
Tais relacionamentos não podem ser criados rapidamente, e é aqui que entram as turmas. Formar turmas, principalmente desde o início de um curso, é uma forma de os alunos terem referenciais constantes durante a graduação.
Esse fator, por sua vez, permite que eles tenham conhecimento pessoal acadêmico e profissional ao lado de pessoas que vivenciam processos parecidos.
A importância de vínculos afetivos também existe no ambiente educacional. Se o aluno se sente acolhido considerado por outros alunos de turma, ele terá um relacionamento muito mais positivo com a instituição de ensino e o curso em si.
Uma boa formação de turmas também auxilia, portanto, a manter uma boa saúde mental dos estudantes. Cursar a graduação ao lado de amigos e colegas com uma boa relação faz toda a diferença na felicidade do corpo discente.
O ensino remoto e a formação de turmas
Nos cursos remotos e híbridos, que têm se tornado cada vez mais populares, a formação de turmas reforça seu papel organizacional e socioemocional. Para as IESs e os docentes, separar os alunos em turmas virtuais facilita os procedimentos de planejamento. Avaliações, necessidade de tutoria e limitações de projetos são parte de criação dessas turmas.
Além disso, o aluno EaD têm demandas educacionais diferentes. Como o perfil é de uma pessoa com menos tempo para se dedicar às atividades acadêmicas, a socialização pode acabar de lado.
Para evitar esse cenário, as turmas remotas podem funcionar como hubs de interação — fóruns em plataformas virtuais de aprendizagem, grupos para trabalho e até diálogos paralelos facilitam a formação de laços.
A evasão e a formação de turmas
Com a evasão escolar, problema que ainda afeta em larga escala as IESs, é importante que as turmas não fiquem defasadas. Se, durante o curso, houver oportunidade de mesclar ou dividir turmas para melhor aproveitamento das aulas, é uma possibilidade para evitar essa questão.
A multitude das turmas
Mesmo com a manutenção do número de alunos, muitas vezes as instituições de ensino precisam repensar sua distribuição de acordo com as matérias. Por exemplo, no primeiro ano os alunos de determinada agregação assistem unicamente aulas expositivas, em que as turmas podem ser maiores.
No ano seguinte, porém, há a oportunidade de realizar disciplinas fundadas na aprendizagem baseada em projetos. Nesse caso, os gestores educacionais devem analisar a possibilidade de diminuir o tamanho da sala de aula, permitindo ao docente olhar com maior cuidado para cada um dos grupos dentro de cada turma.
Há cursos que também dividem disciplinas obrigatórias com outros cursos, quando são pertencentes à mesma área. Essa estratégia traz muitos benefícios para a formação, já que insere na mesma sala de aula alunos com diferentes expectativas e vivências. Abrir espaço para estes alunos é uma forma de promover o diálogo interpessoal e interdisciplinar na instituição de ensino superior.
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O papel dos gestores na formação de turmas
A formação de turmas no ensino superior deve ser planejada e testada.
Nem sempre os primeiros testes serão bem-sucedidos, o que abre espaço para o remanejamento das turmas e a reinserção de alunos em diferentes espaços pedagógicos.
Para que esse processo seja feito da melhor forma possível e de acordo com as demandas de cada fase de um curso de graduação, é preciso que os profissionais de gestão estejam alinhados às demandas dos alunos e dos professores.
Com esse objetivo em mente, a IES deve inserir em suas práticas a avaliação diagnóstica recorrente e a criação de espaços para que os alunos se sintam à vontade para expressar suas necessidades.
Orientadores pedagógicos e autoavaliações de rendimentos são algumas estratégias importantes para que a IES entenda quais estratégias estão funcionando ou não.
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